Introdução

O conceito de “educação preventiva” foi gestado a partir da reflexão crítica sobre muitos dramas humanos começando na Europa. No final do século XIX havia de modo geral em alguns países europeus uma grande preocupação para com a assimilação de lições vindas da Revolução Francesa, da Revolução Industrial, da Revolução cultural, sobretudo, em relação aos direitos fundamentais da pessoa que forjaram novas estruturas e formas de relações humanas etc. Novas ideias geram processos de transformação das estruturas institucionais.

Diversos países haviam passado por graves problemas de conflitos internos, crises econômicas (pobreza extrema, alto índice de criminalidade, doenças, epidemias…), corrupção na política, reorganização dos sistemas de governos etc. Havia um sonho de superação de tais problemas.

Muitos filósofos, teólogos, educadores ao longo dos últimos séculos, viram com clareza que a educação é o único instrumento capaz de dar respostas profundas para os problemas humanos em vista da promoção de uma sociedade melhor.

 

  1. É melhor prevenir do que remediar!

Investir na educação do ser humano é uma forma de prevenir problemas pessoais e sociais. O ditado: “é melhor prevenir do que remediar!” significa, que é mais importante evitar que os males aconteçam, do que buscar remédio para solucioná-los. Então é mais significativo reunir esforços para que os problemas não aconteçam.

A ideia de educação preventiva é consequência de um mutirão de pessoas que se manifestaram profundamente sensíveis aos problemas humanos e pensaram em respostas a partir de iniciativas concretas em vista do desenvolvimento humano, despertando-o para o bem.

A lista é grande, mas podemos mencionar alguns como João Batista de La Salle (1651-1719), Ludovico Pavoni (1784-1849), Johann Pestalozzi (1746-1827), Antônio Rosmini (1797-1855), Marcelino Champagnat (1789-1840), Félix Dupanloup (1802-1878), Ferrante Aporti (1791-1858), Dom Bosco (1815-1888), Leonardo Murialdo (1828-1900) etc. Sensíveis diante dos problemas sociais, quase todos se dedicaram incessantemente à educação infanto-juvenil.

Fora do contexto eclesial, muitos outros contribuíram para o desenvolvimento da pedagogia acreditando nos fantásticos recursos humanos: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Emanuel Kant (1724-1804), Maria Montessori (1850-1972), Jean Piaget (1896-1980), enfim, o grande educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997), mirando a promoção dos mais pobres.

Todos esses sujeitos apostaram no desenvolvimento humano a partir da educação. Não é possível ser educador quem não percebe, não acolhe e nem acredita no desenvolvimento humano. Por isso, a educação está alicerçada na esperança. Educar é promover a esperança de uma sociedade melhor porque o ser humano é rico de recursos. Dizia Dom Bosco que no coração de cada jovem, até aquele mais marcado pela maldade, há uma faísca de bondade e o sábio educador é aquele que começa a partir do ínfimo sinal de bondade, pois lá está a esperança da mudança.

 

  1. Fundamentos da preventividade na educação católica

O dinamismo da educação preventiva católica se apoia na natureza humana criada à imagem e semelhança de Deus; o ser humano dotado de alma, inteligência, consciência, vontade, liberdade, afetividade é portador de um imenso potencial a ser explorado ao longo da sua existência. Esses recursos naturais promovem a subjetividade humana. Educar é estimular a formação de sujeitos saudáveis capazes de reconhecerem suas potencialidades e se colocarem a serviço do bem de si e dos outros.  Por isso, toda criança em processo de educação, é um enorme sinal de esperança.

A educação preventiva católica se firma sobre o potencial da vontade, da liberdade e da responsabilidade humana. Por isso a educação integral estimula a formação do educando para ser capaz de boas escolhas, sendo livre e responsável. Uma sociedade com alto índice de pessoas imaturas e egoístas vive continuamente numa situação de grave vulnerabilidade. A educação preventiva aposta na formação de pessoas capazes de superar a própria “menoridade racional” alicerçada na ignorância, como nos propôs o filósofo alemão Emanuel Kant.

A educação preventiva católica, não visa somente o desenvolvimento humano integral terreno, mas porque é alimentada pela fé, mira estimular nos educandos o desejo de vida eterna. A educação católica não visa somente apresentar o caminho do sucesso terreno, mas também aquele que leva à plenitude eterna. Dessa forma, por vocação, o ser humano é naturalmente voltado para o futuro. O senso de transcendentalidade, alicerça o sentido da vida que impulsiona o ser humano levando a ir além das suas limitações e conquistas passageiras.

 

  1. Condições importantes

3.1. O contrário da educação preventiva é a repressiva. A educação repressiva está focada nos limites do educando; a educação preventiva explora os recursos da dignidade humana; alimenta as potencialidades se apoiando numa visão otimista sobre o ser humano. O sistema preventivo na educação está fundamentado no humanismo otimista. A educação preventiva zela pela relacionalidade, abertura, acolhida e respeito aos semelhantes. A educação preventiva tem como sério compromisso a promoção da razão, sensibilidade e transcendência humana.

3.2. A educação preventiva é sensível à concretude das exigências da vida. Para nada serve uma educação reduzida ao armazenamento de informações, sem preparar as pessoas para a gestão da Vida no seu cotidiano com suas múltiplas exigências. A educação preventiva não se aliena da realidade da vida. A autenticidade educativa exige o acompanhamento pedagógico pautado no chão das necessidades cotidianas promovendo habilidades nas relações humanas, na comunicação, na gestão emocional, na administração de tarefas, na gestão de problemas etc.

3.3. A educação preventiva requer a atenção harmoniosa de uma madura Comunidade Educativa com sua diversidade de necessidades, profissionais, atribuições e habilidades que trabalham em diálogo interdisciplinar. Um dos sujeitos merecedores de respeitosa atenção na educação preventiva é a família. Uma comunidade educativa dispersa, fragmentada ou em contínuos conflitos internos inviabiliza processos educativos.

3.4. A educação preventiva não é espontaneísta, mas segue um projeto pedagógico holístico que define seus princípios educativos, o perfil dos educadores, dimensões e conteúdos, valores a serem refletidos, virtudes cultiváveis, metas almejadas, perfil do egresso desejado.

3.5. Outra importante condição para que aconteça a educação preventiva é a necessidade da excelência de um ambiente educativo; isso diz respeito ao conjunto e qualidade das relações dentro de uma determinada estrutura educacional. O ambiente educativo envolve as pessoas, o espaço físico, o teor das relações interpessoais, a gestão das atividades etc. Não são somente as pessoas que falam, mas também as paredes e o clima que se respira, comunica, denuncia, condiciona de modo positivo ou negativamente a educação.

3.6. A educação preventiva católica zela pela pastoral da educação. O cuidado pastoral permeia a totalidade das dimensões da instituição educacional e chega ao coração e à mente de todos os sujeitos envolvidos na missão educativa. O serviço de Orientação Pastoral anima as pessoas, alimenta a fé, qualifica as relações, zela pela fidelidade aos valores da instituição, estimula a superação de problemas, equilibra ternura e firmeza, aponta continuamente para os modelos a serem imitados: Jesus Cristo, Nossa Senhora, os padroeiros da instituição etc.

3.7. Para concluir, outro distintivo da educação preventiva católica é a promoção do protagonismo dos educandos. Os educandos na educação preventiva não são tratados como meros “alunos” (aqueles que não tem luz!), “destinatários”, “clientes”, “beneficiários” do trabalho profissional dos educadores. Eles são e devem ser tratados como sujeitos protagonistas do próprio processo de formação. Para isso é imprescindível motivá-los, corresponsabilizá-los, envolvê-los em tarefas, serviços convenientes, experiências educativas… Evitar o paternalismo pedagógico é uma condição fundamental para a formação de sujeitos maduros e proativos.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. O que você entendeu sobre a educação preventiva?
  2. O que significa o ditado: “É melhor prevenir do que remediar”?
  3. Qual das condições para a educação preventiva mais lhe chamou a atenção?