Introdução

Parece que cada vez mais a dimensão vocacional está ficando para segundo plano na vida dos jovens. Diante da fragilidade da atenção ao matrimônio e do descompromisso com opções definitivas de vida, é necessário realçar a sensibilidade para com a dimensão vocacional da pastoral juvenil. Analisando a cada dois meses dezenas de processos de nulidade matrimonial, vejo o quanto que a questão vocacional é negligenciada pela sociedade. Muitas vezes, vocação é confundida com impulso, atração, desejo pessoal, realização de um sonho, tentativa, voto de esperança! Certamente não é essa a perspectiva de vocação por parte da Igreja! A vocação é dom, chamado de Deus, compromisso, serviço que pressupõe uma atitude de fé. Estamos diante de uma questão muito delicada a ser redescoberta e esmiuçada na formação dos jovens.

 

  1. A primazia da profissão sobre a vocação

A cultura economicista na qual estamos vivendo dá a máxima atenção à questão da segurança financeira, patrimônio econômico, bem-estar, sucesso profissional, reconhecimento social. Movidos por esse ideal, milhões de jovens se lançam nos estudos universitários obcecados pela realização dessas metas. Todavia, não as realizando, tomam consciência da própria frustração, infelicidade, engano, vazio e começam, a partir dos trinta anos, um processo de discernimento sobre o que fazer da vida. Muitos desses permanecem na casa dos seus pais.

Outros que não tem oportunidades de estudos universitários, marcados pela pobreza, dedicam-se ao trabalho e logo constituem família, muitas vezes, assumida como remédio à solidão. Não poucos, pobres ou abastados, antes dos trinta anos já passaram por duas ou três tentativas de vida matrimonial.

Nas duas situações, tanto por causa do sonho do bem-estar, quanto pela luta contra a pobreza, a questão vocação fica para segundo plano. Não porque conscientemente a deixam de lado, mas porque não faz parte da sensibilidade de suas vidas e nem foram educados para isso. A visão da vida na cultura contemporânea tem forte impacto pragmatista e utilitarista.

Outra mínima parte dos jovens, portadores de profunda consciência da própria vida, graças à sensibilidade religiosa de seus pais, amigos ou experiência que fizeram, abraçam o processo de discernimento vocacional com seriedade, fazem acompanhamento, elaboram seu projeto de vida, tomam decisões serenamente e com profundas convicções.

A cultura na qual vivemos dá demasiada ênfase à questão do fazer, do trabalho profissional, da realização pessoal como sucesso, e negligencia por completo a reflexão sobre vocação e o sentido da vida. A supremacia do ter e do fazer sobre o ser, é uma das mais fortes características da ideologia utilitarista da era contemporânea; e o pragmatismo existencial está esvaziando nos jovens o sentido e a importância da reflexão sobre vocação, mas exalta a dimensão profissional.

 

  1. A questão vocacional na Pastoral Juvenil

A questão vocacional se insere dentro da necessária reflexão sobre o sentido da vida. Não se pode falar do sentido da vida, sem tocar na dimensão vocacional. O Sínodo para a Juventude, abordou a importância do desenvolvimento da cultura vocacional pela pastoral juvenil, que não pode ser reduzido a um tema de palestra, mas deve ser acolhido como um itinerário de formação que compreenda o chamado à vida, a vocação batismal, a vocação específica (matrimonial ou celibatária), o cultivo de ideais, a assimilação de valores, a prática de virtudes.

A sensibilidade vocacional nem sempre está presente no seio das famílias, mas deve ser constantemente assumida pela pastoral juvenil estimulando, por exemplo, a oração pelas vocações. O Sínodo para os jovens declarou que “a vocação é o fulcro em torno do qual todas as dimensões da pessoa estão integradas” (Doc. Final do Sínodo para a Juventude, 139). Uma pessoa existencialmente desintegrada, é infeliz porque lhe pesa o “vazio vocacional” e, por isso, se sente infeliz no estado em que se encontra.

Enfim, outro tema vocacional para o qual o mundo de hoje não se importa por causa da falta de fé, é aquele da santidade. A meta da vocação ao batismo é a santidade. Mas esta passa pela realização da pessoa na Igreja, num determinado estado de vida, numa vocação específica. “Todas as diferenças vocacionais estão reunidas no chamado único e universal à santidade, que no final só pode ser o cumprimento desse apelo à alegria do amor que ressoa no coração de todo jovem” (Doc. Final do Sínodo para os jovens, 165). Refletindo sobre a vocação à santidade o Papa Francisco afirma que Deus “quer ser santos e não espera que se contentar com uma existência medíocre, aguado, sem graça” (FRANCISCO, Gaudete et Exsultate, No. 1).

 

  1. Compromissos da Pastoral Juvenil
  • Estimular os jovens a evitar qualquer forma de aprisionamento no presentismo e no imediatismo, educando-os para o crescimento na convicção da necessidade do discernimento vocacional e da elaboração do projeto de vida pessoal;
  • Relançar continuamente o processo de aprofundamento da diferença entre profissão e vocação; hoje encontramos jovens e adultos com duas e três graduações, ou mestres e doutores, mas que ainda não tomaram uma decisão sobre o próprio estado de vida e nem se identificam com aquilo que fazem;
  • Educar para a reflexão e discernimento é outro desafio; mas isso exige o enfrentamento da dispersão, ou o mal da “dromomania” que é a mania e tentação de passar a vida vagueando sem rumo certo, deixando tudo para depois;
  • Reforçar no processo formativo a reflexão e experiências que possam estimular os jovens no crescimento nas relações humanas em vista da superação dos conflitos, frustrações, melindres, apatias, friezas, favorecendo a superação da “tecnomania” (a prisão smartfoniana), em vista da atenção às pessoas;
  • Educar para a necessidade de percorrer processos é outra exigência da pastoral vocacional; pois a vida é caminho, requer paciência, atitude de serenidade, descoberta, fases, etapas; isso significa encarar o desafio da cultura presentista;
  • Aprofundar a reflexão sobre a dignidade da pessoa humana e o valor inalienável da pessoa humana, pois sem o aprofundamento do valor sagrado da pessoa humana não se compreende a importância da dimensão vocacional;
  • Evitar que haja nas dioceses e congregações um paralelismo radical entre a pastoral juvenil e pastoral vocacional, mesmo que haja uma comissão que trabalhe em prol do aprofundamento das vocações específicas;
  • Ao longo do processo do dinamismo da pastoral juvenil oferecer momentos oportunos de aprofundamento da dimensão vocacional através de retiros espirituais;
  • Apresentar aos jovens modelos (exemplos de vida) e testemunhos de pessoas plenamente realizadas em sua vocação: casados, consagrados, religiosos, sacerdotes;
  • Aprofundar o senso de parceria entre pastoral juvenil vocacional, pastoral familiar, pastoral da educação, pastoral catequética e universitária;
  • Fomentar a experiência do educar crianças, os adolescentes e os jovens para a gratuidade, o valor do sacrifício, a doação, a experiência do voluntariado (cf. PDV, 40);
  • Oferecer aos jovens adultos que ainda não tomaram uma decisão, a oportunidade de um acompanhamento especial em vista da descoberta da própria vocação;
  • Aproveitar das ocasiões como o Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais e do mês vocacional (agosto) para reforçar a reflexão sobre vocação.

 

PARA A REFFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que a questão vocacional é imprescindível na pastoral juvenil?
  2. Por que a cultura contemporânea dá grande atenção à questão profissional e pouca preocupação para com o tema vocação?
  3. Quais outros compromissos, a pastoral juvenil pode estimular diante da questão vocacional?