Introdução:

Continuemos nossa reflexão olhando para a sensibilidade de Jesus Cristo sobre a saúde. Deus, a fonte da Vida, da libertação e do bem-estar, tem a plenitude da sua revelação na pessoa de Jesus Cristo com sua grande compaixão pela vida. 

A comunidade dos doze tendo bem assimilado as palavras e as atitudes do Mestre, continuou a sua obra com o mesmo zelo para com a saúde. O que a Igreja faz hoje em prol da saúde das pessoas e da sociedade, está em profunda sintonia e fidelidade com a sensibilidade de Jesus e a comunidade primitiva.

A atenção da Igreja para com a saúde vai muito além do cuidado para com os enfermos e a pastoral da saúde. A Igreja, animada pela visão integral da pessoa humana e movida pelos valores do Reino de Deus, reconhece que a saúde tem muitas dimensões. Por isso, a Igreja está atenta às variadas formas de morbidades que podem comprometer a sua saúde e o bem-estar da sociedade em todas as áreas. 

  1. A sensibilidade de Jesus

Jesus fez opção preferencial pelos pobres e excluídos do seu tempo; os marginalizados foram alvo de especial atenção de sua parte. Recebeu de Deus Pai uma missão libertadora: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar o ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19).

Promovendo o Reino de Deus Jesus foi ao encontro dos mais pobres, doentes, sofredores e desprezados do seu tempo. Curou cegos, fez os aleijados andarem e fez os surdos ouvirem; libertou os aprisionados, saciou os famintos e desatou a língua dos mudos. Jesus confortou os angustiados, curou os leprosos e fez os paralíticos andarem; perdoou os pecadores, ensinou os pobres e libertou os possuídos pelo demônio…

Para Jesus o reconhecimento da sacralidade da vida lhe estimulava a curar todos os dias, também aos sábados (cf. Mt 12,9-14). Acolhia a todas as pessoas, lhes falava sobre o Reino de Deus e restituía a saúde a todos os que precisavam de cura (cf. Lc 6,18-19; 9,11).

  1. Jesus restaura a saúde integral

Os evangelistas nos apresentam com muita clareza que para Jesus a questão da saúde não tinha simplesmente uma dimensão física; a doença mais profunda do ser humano está enraizada no seu coração, é o pecado, que se manifesta através do orgulho, do egoísmo, da falsidade, do fechamento. Os males físicos são reflexos desse mal mais profundo. Por isso a um paralítico que era transportado deitado numa maca Jesus lhe diz: “Filho, os seus pecados estão perdoados” (cf. Mc 2,5).

Assim procurava deixar claro para seus discípulos: “é dentro do coração que vêm as más intenções: crimes, adultério, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias. São essas coisas que tornam o homem impuro” (Mt 15,19).

Os evangelistas Marcos e Mateus afirmam que Jesus curava muitas pessoas de vários tipos de doenças, enfermidades e expulsava muitos demônios (cf. Mt 9,35; Mc 1,34;  Lc 7,21). Com tais gestos, Jesus confirmava o que Ele mesmo declarou sobre a sua missão: “eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).  

A compaixão de Jesus Cristo para com os doentes foi tão profunda que o levou a declarar a sua plena identificação com eles dizendo: “Estava doente, e cuidastes de mim… Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 36.40). Dar atenção aos doentes, independente da sua situação moral ou qualquer condição, é cuidar da pessoa de Jesus Cristo neles presente.

Um dos gestos mais expressivos do amor ao próximo foi exemplificado nas atitudes de cuidado de um doente, sem identidade, caído às margens de uma estrada: “um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu, e teve compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal, e o levou a uma pensão, onde cuidou dele” (Lc 10,33-34).

  1. A Igreja e a dignidade humana

No mandato missionário disse Jesus aos seus discípulos: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios” (Mt 10,8). O reinado de Jesus gera saúde, ressuscita mortos, purifica leprosos, expulsa demônios (os males espirituais). Nessa lista de ações temos o projeto de libertação integral do ser humano, na sua dimensão física, biológica, relacional, moral, psicológica, espiritual… Jesus Cristo é o Senhor do universo que tudo restaura. E a Ele, tudo pertence.

Para Jesus não é possível conciliar a salvação com os sinais de morte, como a ausência de saúde física, falta de liberdade, paralisia, egoísmo, ódio, violência, injustiça, indiferença, exclusão, mentira, intolerância, corrupção, violências… O “Reino de Deus” é a plena transformação da qualidade e do dinamismo da vida e das relações humanas (cf. Lc 4,43).

A Igreja não poderá ser fiel ao seu Mestre e Senhor e se descuidar da promoção da dignidade humana integral. Esse é um sinal permanente que deve acompanhar a atividade missionária da Igreja como bem deixou claro o próprio Jesus Cristo (cf. Mc 16,15-20).

Em continuidade com a mesma sensibilidade, não reduzindo a missão à pregação, também os apóstolos e diáconos promoviam curas (cf. At 3,7-8;6,8; 28,7-8). Na saudação inicial da sua terceira Carta São João diz “caro amigo: desejo que você prospere em tudo e que a saúde do seu corpo esteja tão bem quanto à de sua alma” (cf. 1Jo 1,2). Trata-se de uma profunda visão sobre a importância da saúde física. O mesmo aparece nas saudações finais da primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: “Que o próprio Deus da paz conceda a vocês a plena santidade. Que o espírito, alma e corpo de vocês sejam conservados de modo irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Tss 5,23).

  1. A fé contribui para a saúde

“Levavam os doentes deitados em suas camas para o lugar onde ouviam falar que Jesus estava. E, nos povoados, cidades e campos onde chegavam, colocavam os doentes nas praças e pediam-lhe para tocar, ao menos, a barra de sua veste. E todos quantos o tocavam ficavam curados” (Mc 6,55-56). Essa breve narração nos fala da sensibilidade, solidariedade, compaixão, esperança, cuidado dos parentes para com os doentes do tempo de Jesus. 

A narração nos fala da importância do cuidado da dimensão religiosa dos doentes. Não basta a ciência! Há circunstâncias em que ela perde seus recursos. A fé é de suma importância! A fé cura, a fé alimenta o ânimo, a fé robustece, a fé fortalece, a fé gera esperança, a fé sereniza, a fé afugenta o desespero, gera resiliência, a fé leva o doente a reconhecer sua pequenez e depositar a sua vida e a sua doença nas mãos de Deus!

Recordemos o que diz São Tiago: “Alguém de vocês está doente? Mande chamar o sacerdote da Igreja para que reze por ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé salvará o doente: o Senhor o levantará e, se ele tiver pecados, será perdoado” (Tiago 5,13-15). A pastoral dos enfermos (ou da saúde) nos desafia! Cedo ou tarde, precisaremos dessa atenção! A pandemia da COVID-19 está duramente nos chamando a atenção pastoral para com os doentes e nos sinaliza a importância e a necessidade da revitalização da pastoral da saúde e dos enfermos.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Como está a sensibilidade da sua família para com os doentes?
  2. Por que é importante e necessário o cuidado da vida espiritual dos doentes?
  3. O que podemos fazer para revitalizar a Pastoral da Saúde em nossas comunidades?

 

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA