Prevista para ocorrer durante toda esta semana presencialmente, a reunião dos secretários executivos dos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi reformulada para este tempo de pandemia e ocorreu no ambiente virtual, na manhã desta quinta-feira, 16 de julho. Animados pelas reflexões em torno do tema central da 58ª Assembleia Geral da CNBB e a realidade imposta pela pandemia, os secretários discutiram como ajudar o Brasil a ter um encontro com a Palavra de Deus e pretendem favorecer um mapeamento de iniciativas de animação bíblica nas casas.

O encontro teve como pauta comunicações da Presidência, Tema Central da 58ª AG “Casa da Palavra – Animação bíblica da Vida e da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias”, assuntos de gestão e comunicados da Edições CNBB.

Certezas e desafios

Após oração inicial, a reunião iniciou com uma contextualização do cenário eclesial pelo bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, que refletiu sobre como viver o tempo presente cheio de interrogações, neste contexto de pandemia, e qual a contribuição da Igreja nesta realidade. Para dom Joel, o que lhe tem ajudado é “trabalhar com certezas e desafios”.

Uma certeza é que “não estamos vivendo uma situação provisória, a pandemia abalou as estruturas desse mundo”. Para dom Joel, a Igreja precisa sair dessa pandemia de modo diferente e contribuir para que o mundo possa mudar também. “Devemos isso às quase 80 mil vítimas, às novas gerações, a Nosso Senhor”.

Para a Igreja no Brasil, dom Joel salientou a importância de fortalecer a caridade, o que tem sido intensificado nos últimos meses diante das consequências da Covid-19. “Eu tenho a impressão que a caridade não desanimou, pelo contrário. Isso é um fato bonito. É preciso articular a caridade para que ela seja inteligente. É nossa missão ajudar na articulação, tem muita coisa sendo feita, mas muita coisa ainda precisa ser articulada”, destacou.

Dom Joel ainda manifestou preocupação com o fato de o Brasil ter voltado ao mapa da fome, com a realidade dos desempregados e dos trabalhadores informais. “Há uma situação de miséria que tem que mexer com o coração da Igreja”, ressaltou. Neste sentido, há um segundo desafio para a Igreja na atualidade, que é “discernir caminhos para a presença sociotransformadora”. Para o secretário-geral da CNBB, a crise não é só sanitária, mas política também.

Em termos de Igreja, continuou dom Joel, há o desafio de manter a fé em tempos de isolamento social. O secretário-geral da CNBB destaca que, enquanto não houver uma vacina acessível para todo mundo, haverá problemas e um constante “abre e fecha” dos espaços. Da parte da CNBB, não haverá nenhuma atividade presencial em nível nacional, até 31 de dezembro.

Palavra de Deus

O primeiro pilar na dinâmica das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023), a Palavra de Deus deve animar a vida e a missão da Igreja, como propõe a reflexão das DGAE e como deve ser aprimorada sua prática a partir das reflexões da Assembleia da Conferência, prevista para acontecer em abril do próximo ano.

Dom Joel falou do desafio sobre o qual a equipe que prepara o texto do tema central da próxima assembleia está debruçado: articular as comunidades eclesiais missionárias e sua relação com a Palavra de Deus. “Hoje sentimos que é preciso de um caminho teórico e responder o ‘como’ fazer. Vamos precisar ser muito criativos a ajudar o Brasil a ter um encontro com a Palavra de Deus”, disse. Há ainda uma ideia que pode ser amadurecida de um projeto nacional que favoreça este encontro.

Alguns secretários partilharam de iniciativas em âmbito local que têm favorecido o contato com a Palavra de Deus em grupos ou nas próprias famílias, como Igrejas domésticas, e apoiaram uma iniciativa ampliada de animação bíblica. Do Regional Nordeste 5, a secretária executiva Martha Bispo partilhou que a equipe das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) incentivou a Igreja doméstica nas famílias com a oferta de material pela internet. No Regional Sul 4, de acordo com padre Luciano dos Santos, as dioceses têm focado em lives de grupos de reflexão e nas celebrações da Palavra nas famílias.

Do Regional Norte 1, há a busca de manter acesa a chama das comunidades que já se alimentam da Palavra em seu cotidiano e, neste tempo de pandemia enfrentam também o desafio da indisponibilidade de alguns recursos de comunicação, informou o diácono Francisco Lima. Padre Ataan Brito, do Regional Nordeste 4, recordou projetos de doação de Bíblias e disse ser necessário avançar além destas iniciativas. Ele também agradeceu a oferta semanal do roteiro Celebrar em Família pela Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB.

Diante das partilhas, uma proposta: mapear as diversas iniciativas para favorecer o conhecimento e a vivência da Palavra de Deus. O padre Valdecir Badzinski, secretário executivo do Regional Sul 2, destacou: “Existem muitas ações concretas, profícuas e profundas, já sendo realizadas Brasil afora em torno da Palavra. Temos de propor um mapeamento das iniciativas em torno da Palavra e, como CNBB Regionais, aprofundar isso. A Palavra é o nosso alimento cotidiano”.

Outros destaques

Entre outras comunicações da presidência, dom Joel informou sobre a proposta de um novo estatuto para a CNBB, voltado para a sinodalidade e a missão, além da preparação para a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021, com o tema “Fraternidade e diálogo”.

O grupo também pôde aprofundar questões administrativas e recebeu palavras de agradecimento de integrantes da gestão da CNBB pelo empenho diante do cenário desafiador, como o consultor José Luna, o ecônomo monsenhor Nereudo Freire Henrique e o subsecretário adjunto geral, padre Dirceu Medeiros.

Monsenhor Jamil Souza, diretor geral da Edições CNBB apresentou o trabalho da editora da Conferência neste tempos de pandemia, os lançamentos, a estrutura de trabalho disponível para a evangelização, mesmo no regime de home office, e propostas de ações conjuntas com os regionais.