Exclamada em alto e bom tom por dom Joel Portella Amado, secretário geral da CNBB, esta fala é direcionada a toda a Igreja do Brasil. Ao celebrar a missa no último domingo dia 14 de agosto, durante a assembleia geral do Conselho Missionário Nacional, dom Joel Portella fez uma crítica a postura assumida por parte da Igreja, na tentação de voltar-se para o centro de si mesma, esquecendo-se de sua essência.

A missionariedade não é um aspecto da vida da Igreja, mas é a essência de tudo! Deste modo, é um equivoco perigoso assumir uma postura de autorreferência no trabalho pastoral. “Não se pode falar apenas de nós mesmo, e para nós mesmos”, afirmou dom Joel, e acrescentou: “a simplicidade nos ajuda a reconhecer as ações de Deus em nosso meio, e a missão vivida junto ao povo é sinal de consciência missionária e de comprometimento”.

Essa busca por uma forma de viver a missionariedade desprendida de modelos estabelecidos, e por entender a missão não como um conceito distante da realidade vivida pelo povo nas bases, mas como um entendimento diluído no cotidiano, foi um dos destaques das pautas debatidas durante a 37° assembleia do COMINA em Brasília, ocorrida na sede das Pontifícias Obras Missionárias.

A grande riqueza expressa na partilha dos 15 regionais da CNBB representados pelos bispos referencias da ação missionária, assim como, os coordenadores dos COMIREs merece atenção destacada, visto que é através deste grito, deste clamor que foi se configurando uma espécie de diagnóstico sobre o atual contexto da ação missionária da Igreja no Brasil no cenário de pós vacina.

Como afirmou dom Odelir José:

“ (…) a pandemia não fez surgir problemas sociais, mas ela revelou problemáticas que estavam camufladas no meio da sociedade, no meio do povo de Deus e neste momento de recomeço, ou reestruturação da vida em comunidade, sobre tudo no contexto do Brasil, um dos desafios é o de fazer funcionar, ou entender, ou envolver nas bases os conselhos missionários paroquiais (COMIPAs), para que a missão não seja vista como uma outra pastoral, mas como o modo de vida de uma comunidade ou paróquia, temos grande dificuldade neste aspecto. (….) e se não partir dos bispos e dos padres o crescimento deste entendimento, e a animação missionaria ser assumida como compromisso de todos e todas, será muito difícil avançarmos neste contexto”.

Sobre este entendimento dos conceitos sobre a missionariedade é que também se dedicaram os participantes desta assembleia, que foram extremamente propositivos e intensos nos debates, fazendo lembrar que o mais importante destes processos é atingir as bases, é fazer com que o povo que já vive a missão no dia a dia, possa ter acesso também a estes conhecimentos e entendimentos, potencializando, assim, a animação, a ação e a cooperação missionária em suas realidades.

Como destaca dom Odelir José, sobre a importância de que esse debate, essa postura missionária surja a partir da própria Igreja, ou seja, os bispos, padres, diáconos, religiosos(as), assim como os leigos(as), na intensão de colaborar e cooperar como coautores do reino de Deus. Para isto se faz necessário assumir a postura profética de missionários e missionárias que foram batizados, e foram enviados aos confins da terra. E foi nesta energia coletiva que se escolheu o tema e o lema do próximo congresso missionário nacional (CMN).

“IDE! Da igreja local, aos confins do mundo.” Este é o tema escolhido pela assembleia e expressa o clamor dos regionais e de suas igrejas particulares, é um impulso para que a missão seja assumida como modo de vida na igreja. “Corações ardentes, pés a caminho!” é o lema escolhido, após grande e profético debate realizado entre os presentes, foi desenvolvida está ideia norteadora dos processos que estão sendo vivenciados pela Igreja no Brasil.

Vale lembrar que o intuito é fazer com que esta missionariedade atinja a Igreja enquanto instituição, alterando certas posturas eclesiais que não colaboram, e por vezes impedem a plena vivência da fé e da missão, que esbarra em conceitos, práticas e costumes que não se adaptaram ao crescimento e amadurecimento da missionariedade, ou da ideia sobre a missão da Igreja. Deste modo, foi unânime o entendimento de que a estrutura é importante, mas não pode sobrepor-se ao essencial de sua própria existência, que é a Missão vivida com o povo, pelo povo e para o povo de Deus.

Texto e Imagens: Renan Rosário