Introdução

A renovação da presença da Igreja Católica na Amazônia passa inevitavelmente pela pastoral vocacional nas suas diversas opções. Esse compromisso é acenado no número 129 do Instrumento Laboris: “promover vocações autóctones de homens e mulheres, como resposta às necessidades de atenção pastoral-sacramental”. 

Por se tratar de um assunto muito amplo, gostaria de neste texto, me deter sobre a questão da promoção da vocação sacerdotal especificamente. É fato que a Igreja na Amazônia vive uma forte insuficiência de sacerdotes. Dependendo do contexto, essa realidade gera graves prejuízos pastorais. É preciso reflexão e atitude propositiva!    

A promoção da cultura vocacional em nossas comunidades, paróquias, prelazias e (arqui)dioceses, depende de uma série de fatores: do plano Pastoral das (arqui)Dioceses, da organização de uma pastoral de conjunto, do zelo propositivo da pastoral catequética, do dinamismo da pastoral juvenil, da pastoral familiar, da animação missionária, do voluntariado juvenil… 

  1. Comunidades sem pastores

Não temos dados estatísticos disponíveis, mas partindo das reflexões de muitos sacerdotes, bispos e da minha experiência de vida e serviços em sete dioceses da Amazônia brasileira, creio que cerca de 80% das comunidades católicas Amazônicas não contam com a celebração Eucarística dominical. Fui pároco de duas Paróquias no interior do Amazonas, com grande extensão geográfica e conheço essa realidade; apesar do esforço, não conseguia visitar todas as comunidades a cada três ou quatro meses. 

A Igreja não precisa somente de mais sacerdotes, mas sobretudo, da promoção da cultura missionária; mas, vale ressaltar que sem a pessoa do sacerdote, não haverá Eucaristia e sem Ela a Igreja perde a sua identidade. Estamos diante de uma questão crucial.

  1. O negativo influxo histórico 

Paira sobre a questão vocacional um grande mistério! Nas palavras e atitudes de Jesus contemplamos essa verdade. “Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então Jesus disse a seus discípulos: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita» (Mt 13,27-38). 

Não somos os responsáveis pelo chamado de novos operários para a Messe do Senhor, mas somos convocados a contemplar os desafios da missão e orar insistentemente. É isso que Jesus faz! Onde não há sensibilidade pela missão da Igreja, também não haverá preocupação com a promoção vocacional, tendo como primeira iniciativa a experiência da oração. 

A escassez que sentimos hoje em relação à vocação sacerdotal talvez se explique pelo fato da abundância de envio de missionários da Europa no passado e que, muitos deles, não acreditaram inicialmente na necessidade da promoção das vocações autóctones.

Os caboclos e os indígenas foram, por muitas décadas, desacreditados que seriam capazes de abraçar o sacerdócio. Isso marcou o povo! Quando eu era criança pensava que todo padre era branco, estrangeiro e “falava enrolado”. Por isso, o povo dizia para quem se assanhava ao sacerdócio: “Não, será?! Você não tem cara de padre”!

Todavia, na encíclica Maximum illud do Papa Bento XV do ano 1919, cujo centenário celebramos neste ano, o referido pontífice sonhou com um clero indígena bem formado e que nada deixasse a desejar em sua vocação (cf. Papa Bento XV MI, N. 36). Era o marco de uma nova percepção: os indígenas não eram mais vistos meramente como sujeitos a serem respeitados em sua dignidade, mas também podiam ser aptos ao sacerdócio.  

  1. Ministros ordenados autóctones 

A promoção de novos ministérios é necessária; a presença de um diácono em cada comunidade do interior seria uma grande conquista, todavia, apesar de boa, nenhuma saída substituirá a figura do sacerdote. Além do seu serviço ministerial específico, também recai sobre ele um forte peso simbólico e referência moral. Isso também acontece com a reverência que os irmãos evangélicos sentem para com os seus pastores. E em quase todas as comunidades do mundo rural e ribeirinho há um deles. 

Diante dessa situação muito delicada de carência de sacerdotes e missionários disponíveis para a estabilidade dos serviços pastorais e sacramentais, é urgente um decidido relançamento da pastoral vocacional e de uma vigorosa ministerialidade. Graças a Deus a história de muitas dioceses da Amazônia, com clero autóctone (caboclos e indígenas), é um sinal brilhante de estímulo para todas as nossas Igrejas particulares. Mas é preciso investimento mais incisivo em vista de respostas futuras que mudem esse quadro! 

A superação dos desafios relacionados à pastoral vocacional em geral, requer, que em todas as dioceses e prelazias, haja um forte esforço de convergência de todos os sacerdotes, religiosos e das Novas Comunidades para esse fim. Lamentavelmente há sacerdotes que nunca fazem aos jovens a proposta vocacional. A perda da visão das necessidades da promoção da Igreja particular gera prejuízo.  

 

Pistas para a promoção da cultura vocacional

  • Formação de uma comissão em cada diocese para articular a promoção vocacional evitando que seja um serviço delegado a uma só pessoa; 
  • Fortalecimento projetual da pastoral juvenil através da organização do Setor Juventude estimulando o protagonismo juvenil e a experiência de grupos vocacionais;
  • Promoção do voluntariado juvenil missionário, seja como experiência de serviço social aos mais pobres, mas também como estratégia de discernimento vocacional;
  • Estímulo ao cuidado de processos formativos, itinerários, experiências de serviços; a pastoral não deve se reduzir a eventos; 
  • Incentivo em todas as paróquias para a renovação da dimensão vocacional e missionária das pastorais, grupos e movimentos; se não, envelhecem precocemente; 
  • Zelo pela criação de um ambiente paroquial marcado pelo clima de acolhida, fraternidade, alegria e boa convivência entre os consagrados e o povo (onde há fofocas e escândalos não surgem vocações); 
  • Testemunho de entusiasmo, generosidade e propositividade de cada sacerdote; 
  • Promoção de uma catequese, sobretudo do Crisma, que favoreça um profundo encontro com Jesus Cristo, e a experiência de processos de acompanhamento espiritual e vocacional;
  • Estabelecimento de um contínuo vínculo entre a pastoral familiar, pastoral juvenil e pastoral vocacional;
  • Abertura dos seminários para mais interação com o povo e os jovens, afim de que sejam um ambiente de forte animação juvenil e irradiação vocacional; 
  • Promoção da oração pelas vocações em todas as comunidades, paróquias, prelazias e dioceses. 

 

REFLEXÃO PESSOAL:

  • Você conhece a realidade das comunidades católicas do interior da Amazônia?
  • O que podemos fazer em nível comunitário e paroquial pela promoção vocacional?
  • O que a pastoral familiar e a pastoral juvenil tem em comum em relação à promoção vocacional? 

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA