Introdução

Tertuliano, padre da Igreja dos séculos II e III, viveu em Cartago, cidade situada no norte da África. Em Roma, Ele estudou o direito romano, formando-se em advocacia. De volta para Cartago, convertido ao cristianismo, colocou toda a sua formação na defesa da nova religião. Ele era uma pessoa bastante participativa da sua comunidade de modo que nos deu uma descrição muito bonita da comunidade onde ele viveu no qual nós faremos a seguir, uma análise.

            A importância da comunidade

Tertuliano escreveu para as autoridades romanas a vida da comunidade na qual ele fazia parte. Para isso Ele descreveu a vida e os costumes daquela que era chamada para eles a seita dos cristãos com o fim de rejeitar as acusações lançadas contra os cristãos e revelar o quanto bem a comunidade fazia para eles[1], para o mundo e para o Reino de Deus. As pessoas se constituíam um só organismo, na qual se nutria de uma única fé, de uma única disciplina, de um único vinculo forte de esperança[2]. Percebem-se nestes dados a unidade da comunidade que vivia a fé, a esperança e a caridade, as virtudes teologais que animavam a vida da comunidade. Era uma comunidade orante, porque o autor disse que eles rezavam pelos imperadores, pelos seus funcionários, e pelos magistrados; tinham presentes também à conservação da ordem e a paz no mundo e para retardar a morte do universo[3]. A comunidade estava unida com as suas autoridades e também rezava para que o universo não acabasse. Havia a idéia do amor à casa comum, a casa de todas as pessoas, criada por Deus para que não fosse destruída.

            A comunidade meditava a palavra de Deus

A descrição de Tertuliano colocou também que a comunidade se reunia para ler juntos e comentar as Sagradas Escrituras para que se vivesse bem no presente em vista do futuro e a superação do passado. Com aquelas santas palavras eles se alimentavam em sua fé, levavam nas alturas a sua esperança, reforçavam a confiança em Deus e tornava mais sólida à disciplina de vida que levavam[4]. A descrição da comunidade que Tertuliano deu para a tradição, reforçou a importância da palavra de Deus que direcionava a vida dentre eles e no mundo. Nas suas reuniões havia lugar para as exortações e admoestações em nome de Deus para viver conforme a vontade dele, de modo que o juízo que era dado, fosse, como que uma antecipação daquele divino[5].

            A importância dos anciãos e a caixa comum

O Padre Africano disse que participavam das reuniões, das celebrações, anciãos de provada virtude, não por orgulho de suas vidas, mas pelo comum testemunho dos seus merecimentos porque eram pessoas que viviam o sentido da comunidade e do amor.

Existia também entre eles uma caixa comum (arcae genus est) na qual cada pessoa dava lá quanto queria e podia, a sua modesta contribuição mensal e fazia desta forma espontaneamente sem nenhum constrangimento[6]. Esses se constituíam os depósitos da comum piedade (deposita pietatis sunt). Este dinheiro não servia para os banquetes, bebidas inúteis, ou alimentos extravagantes, mas era alimento para os pobres, nas quais davam a sepultura aos necessitados, socorriam os meninos e as meninas privados de sustentação e da parte de seus pais, e também servia aquele dinheiro para servos exaustos pela idade e também era dado aos náufragos[7]. Como era uma comunidade que tinham presentes ações caritativas, ajudava também em nome da fé cristã, os condenados às minas, ou deportados nas ilhas ou relegados, e banidos aos cárceres[8].

            Vede como eles se amam

A descrição da comunidade em Tertuliano poderia se afirmar num aspecto de amor verdadeiro às pessoas e a Deus. O afeto fraterno na qual os tornavam solícitos um com o outro, chamava a atenção dos pagãos para a exultação na qual diziam: “vejam como eles se amam entre eles” (Vide, inquint, ut invicem se diligant)[9]. Tertuliano colocou claramente o testemunho de vida dos cristãos que possibilitavam os outros a fazerem comentários bonitos porque a comunidade se queria bem e realizava obras de caridade. A comunidade se chamava entre as pessoas de irmãos e de irmãs, superando todo o vinculo de parentesco, porque o que importava era o amor entre eles e com Deus. Ele também dizia que mantinham laços de fraternidade com os pagãos, porque todos deveriam reconhecer Deus como único Pai, porque nos fez em seu Filho sair das trevas para a luz de sua verdade[10]. Tertuliano tinha presente na comunidade à ágape, a refeição da caridade antes das celebrações. Tudo isso não oferecia conversa para esbanjamentos, mas dava assistência e conforto aos pobres[11]. O banquete não admitia baixarias ou vulgaridades.

            A oração e a eucaristia

As pessoas não sentavam sem antes fazer uma oração a Deus. Comiam quanto podiam comer para quem tem fome, e quanto é útil a quem tem sede[12]. A comunidade tinha consciência que também de noite ela deveria adorar a Deus, sabendo que Deus ouve as suas orações dirigidas a Ele com fé. Havia lugar também à eucaristia, o convivium, na qual as pessoas ouviam a palavra de Deus, havia a homilia, por parte do presidente, rezava-se pelas autoridades e as pessoas tomavam aquele alimento como alimento sagrado, no corpo e no sangue do Senhor, alimento para a vida eterna. Seja no inicio como no fim do convivium elevavam a Deus uma oração[13]. Eles se despediam com a mesma atenção da modéstia e do pudor de quem não tanto foi nutrido de bebidas quanto do alimento para a vida moral e eterna[14].

Tertuliano descreveu a sua comunidade como pessoas de bem na qual se reuniam para a vida da comunidade, para dar lugar a Palavra de Deus, à caridade através das contribuições entre eles, e da comunhão eucarística para prosseguir com fé e amor, a caminhada. Esta descrição ajude a viver bem em nossas comunidades o sentido de fraternidade, do amor mutuo, do vede como eles se amam, para testemunhar o amor de Deus, ao próximo como a si mesmo

[1] Cfr. Tertulliano, Apologetico, XXXIX, 1, a cura di A. Resta Barrile,. Oscar Mondadori, Bologna, 2005, pg. 135.

[2] Cfr. Idem, XXXIX, 1, pg. 137.

[3] Cfr. Idem, XXXIX, 2, pg. 137.

[4] Cfr. Idem, XXXIX, 3, pg. 137.

[5] Cfr. Idem, XXXIX, 4, pg. 137.

[6] Cfr. Idem, XXXIX, 5, pg. 137.

[7] Cfr. Idem, XXXIX, 6. Pg. 137.

[8] Cfr. Ibidem.

[9] Cfr. Idem, XXXIX, 7, pg. 139.

[10] Cfr. Idem, XXXIX, 9, pg. 139.

[11] Cfr. Idem, XXXIX, 16, pg. 141.

[12] Cfr. Idem, XXXIX, 17, pg. 141.

[13] Cfr. Idem, XXXIX, 18, pg. 141.

[14] Cfr. Idem, XXXIX, 19, pg. 141.

POR Dom VITAL CORBELLINI

Bispo de Marabá - PA