Introdução

Com a apresentação destas quatro dimensões queremos concluir nossa reflexão sobre a educação integral como uma das características fundamentais da educação católica. Na verdade, todas essas marcas constituem a base antropológica da educação que não são válidas simplesmente para a educação católica.

Todo e qualquer sistema de educação deveria naturalmente levar em contra a identidade do ser humano. Mas, bem sabemos, que nem sempre isso acontece porque os interesses que estão por trás condicionam negativamente a missão educativa.

 

  1. A dimensão emocional

Aquele que é educado é um ser que sente emoções e tem consciência disso. A consciência das emoções é uma das mais bonitas características do ser humano. As nossas emoções exercem uma profunda pressão e influência sobre o teor das nossas atitudes. A palavra “emoção”, de origem latina, “ex movere”, significa “mover para fora”.

As emoções são sensações que nos levam a manifestar-nos, a reagir, a expressar um determinado modo dependendo daquilo que estamos sentindo. Portanto, trata-se de um fenômeno a ser gerido com muita atenção porque influenciam as nossas atitudes tanto positivamente, quanto negativamente.

Não vivemos sem emoções! A nossa vida perderia seu sabor se perdêssemos a capacidade de vivenciá-las. Sentimos, dependendo das circunstâncias, uma enorme experiência de sentimentos positivos que nos alimentam e estimulam, tais como: afeição, alegria, ânimo, ardor, atração, calma, compaixão, confiança, coragem, entusiasmo, fascínio, meiguice, otimismo, ousadia, paixão, prazer, pudor, simpatia, ternura etc. Mas, nossos sentimentos são mais complexos ainda; não sentimos somente o teor positivo e estimulante, mas também destrutivo e maléfico das nossas emoções, como por exemplo: agitação, agressividade, amargura, ansiedade, antipatia, arrogância, cansaço, chateação, ciúme, desânimo, desespero, desgosto, desprezo, emburramento, estresse, frieza, horror, insatisfação, intolerância, insegurança, inveja, irritação, medo, melancolia, nojo, obcecação, orgulho, pânico, preconceito, preguiça, raiva, rancor, ressentimento, tédio, tristeza etc.

Eis aí a importância da necessidade da educação emocional para que a pessoa à medida que vai crescendo tome consciência da necessidade de gerir seus sentimentos canalizando-os a serviço do próprio bem e dos outro. Por isso é necessário que a educação explore o significado da inteligência emocional. Pessoas que perdem a cabeça facilmente, são explosivas e extremistas, vivem sempre em estado de desequilíbrio tornando-se uma contínua ameaça para si e para os outros. Se houvesse mais educação emocional, certamente haveria menos crimes passionais e suicídios na sociedade. A pessoa virtuosa é capaz de servir com paciência e delicadeza alguém, mesmo vivenciando fortes emoções negativas.  A inteligência deve gerir as emoções.

 

  1. A dimensão religiosa

A religiosidade brota a partir da dimensão espiritual da pessoa humana. Onde se abafa a dimensão espiritual as manifestações religiosas são sufocadas e o ser humano fica estrangulado pela opressão materialista.

A dimensão religiosa se expressa através de múltiplos credos. É através da religiosidade que o ser humano dá sentido para as suas buscas, inquietudes, questionamentos, relação com os outros, sacrifícios pessoais e problemas pelos quais passa. A dimensão religiosa é motivadora. Educar a dimensão é despertar para a transcendentalidade, para o culto, para a esperança, para o respeito para com o sentido da vida.

Educar a religiosidade é buscar respostas para as mais profundas e inquietantes questões do homem: Quem sou eu? De onde vim? Onde estou? Com quem estou? Qual é o sentido da minha existência? Para onde vou? A busca por uma honesta resposta a essas perguntas leva a pessoa a encontrar-se com o mistério da sua existência e assim passará a admitir que há uma fonte de tudo, Deus; um ser regente que tudo mantém onde reside o sentido de tudo. Isso o motiva a ser verdadeiro, justo, amável, correto, generoso, fraterno uma vez que reconhecerá o outro como seu irmão porque tem a mesma origem.

Num mundo cada vez mais profundamente caracterizado pela pluralidade de credos e cultos, é urgente que essa dimensão não seja esquecida na educação. Onde há negligência para com essa dimensão ali crescem problemas como o proselitismo, o doutrinalismo, o fundamentalismo, a intolerância religiosa, o charlatanismo etc.

 

  1. A dimensão vocacional

Da consideração das nossas origens brota a consciência da nossa identidade: quem nós somos?! Somos criaturas inteligentes, conscientes, capazes de amar, somos filhos que, geneticamente trazem no próprio ser as mais evidentes e profundas marcas do nosso criador e Pai.

Na questão vocacional reconhecemos um vínculo indestrutível, a nossa criaturalidade. A criaturalidade é o reconhecimento do vínculo com o nosso criador, nossa fonte. Portanto, na questão vocacional, está presente a consciência da nossa condição de dependência de Deus como criaturas e filhos que nos chama a viver em comunhão consigo. Todavia, onde não se admite a dimensão espiritual e onde se abafa a religiosidade, em consequência, não haverá espaço para dimensão vocacional.

 A questão vocacional nos fala de alguém que nos chamou à vida, nos cumulou de dons (cf. Mt 25,14-31 – Parábola dos talentos) e tem um projeto para cada um de nós. Isso tudo pressupõe a experiência da fé. A felicidade, na sua essência, é inseparável da experiência da fé no Bem Supremo.

O sentido da vida está atrelado ao reconhecimento das nossas fontes, que é o nosso Sumo Bem e, a partir do qual, é possível organizar a hierarquia dos valores e a ordem de importância daquilo que nos edifica e realiza como pessoa. A dimensão vocacional nos leva ao compromisso de discernimento sobre o como viver, qual projeto de vida abraçar e estado de vida a seguir como forma de realização para própria existência que vai muito além do sucesso econômico.

 

  1. A dimensão profissional

Muito próxima à questão vocacional, está a reflexão sobre a profissão. Vocação e profissão não se confundem. A vocação está para o estado de vida (casado ou solteiro), para o “ser” (identidade) que é permanente e dinâmico, mas a profissão está voltada para o “fazer” que pode ser diversificado. Por exemplo, a paternidade ou maternidade é vocação, que é compromisso permanente, mas ser motorista, médico, dentista, pedreiro ou advogado é ocupação que podem variar ou serem acumuladas ao longo da vida.

Educar para a dimensão profissional significa o investimento que vai ao encontro das necessidades do «saber fazer», para servir com honestidade, competência, sinceridade, eficiência… Educar a dimensão profissional quer dizer levar os estudantes à compreensão de que na vida não basta ter um ofício, trabalhar, ter um emprego, mas é necessário aprender a deixar-se orientar por valores. Portanto, é preciso no exercício profissional «saber pensar», «saber conviver», «saber ser», «saber discernir», «saber escolher», “saber obedecer”, “saber respeitar” etc.

O profissional é chamado a trabalhar com maior dignidade; é chamado a passar da alegria de ter um emprego para a consciência da empregabilidade; a passar da vontade de fazer as coisas, para o cultivo da laboriosidade; enfim, é chamado a passar da visão mecanicista pré-programada em executar procedimentos para a criatividade de iniciativas e cordialidade nas relações com os outros revelando seu senso de responsabilidade social. Profissionais sem senso de coletividade e ética profissional se dão mal.

 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Quais influências as emoções exercem em nossa vida?
  2. O que é a inteligência emocional?
  3. Por que a vida profissional exige muitos saberes?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2