Os padres da Igreja elaboraram reflexões sobre o tempo do advento, de modo que buscamos aprofundar pontos de suas doutrinas. Eles seguiram as palavras do Senhor sobre a necessidade de vigiar e de orar, para que assim o nascimento do Senhor encontrasse os seus discípulos em ações que glorificassem a Deus e também preparassem as suas comunidades, ao encontro com Ele.

            São Cipriano, bispo de Cartago, do século III, afirmou a necessidade de ter as lamparinas acesas com práticas de obras de caridade assim como no tempo dos apóstolos, no sentido que as pessoas vendiam os seus bens, ofereciam aos apóstolos os lucros da venda dos seus bens para que fosse distribuído aos pobres (cfr. At 2,42-44). Mas é preciso ter presente também à palavra de Jesus que diz à sua volta, encontrará a fé sobre a terra? (cfr. Lc 18,8). Devemos para isso vigiar para cumprir os preceitos do Senhor, para estar sempre prontos de modo que quando Ele vier abramos logo a porta apenas Ele bater na mesma. Bem aventuradas as pessoas que o Senhor à sua chegada, encontrará vigilantes (cfr. Lc 12,35-37). O fato é que o Senhor encontre os seus discípulos com as luzes acesas quando chegar, o dia da partida não nos encontre com obstáculos, não preparados, embargados. A nossa luz brilhe sobre nossas boas obras e ilumine o caminho para a luz do eterno esplendor. Esperamos com zelo e vigilância a vinda improvisada do Senhor, em modo que quando Ele baterá, a nossa fé seja vigilante, pronta a receber dele o prêmio pela vigilância assumida. São Cipriano afirmou que se nós observarmos os mandamentos e preceitos do Senhor, nós não seremos pegos de surpresa pelo sono enganador do demônio, mas nós reinaremos como servos vigilantes do Cristo Senhor, triunfante[1].

            São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V, afirmou que os fieis que seguem o Senhor são caminhantes e peregrinos, porque a vida presente é uma viagem. É impossível dizer que temos esta ou aquela cidadania, pois nesta vida não há nenhuma cidadania, mas a teremos somente nos céus. O fato é que a realidade presente é um caminho. Muitos vão acumulando dinheiro, outros guardam ouro e jóias. A nossa vida é uma pousada de modo que entramos nela, e, terminaremos a vida presente. Não se deve deixar nada na pousada, mas carregamos tudo na cidade do alto[2].

            São Basílio, bispo de Cesaréia, do século IV tinha presente o agir do cristão que consiste na fé através do amor (cfr. Gl 5,6). Este Padre da Igreja levantou perguntas, o que seria próprio do amor, senão aquele de guardar os mandamentos de Deus com o fim de dar glória ao Senhor. O que é o amor ao próximo? É a não busca das coisas próprias, mas aquelas daquele que se ama (cfr. 1 Cor 13,5) em benefício da alma e do corpo. O que é próprio do cristão? Amar uns aos outros como Cristo nos amou (cfr. Ef 5,2). É ver sempre o Senhor diante do próximo (cfr. Sl 15, 16,8). Que coisa é também própria do cristão? Vigiar todo o dia e toda hora (cfr. Mt 25,13) e de ser pronto a cumprir perfeitamente aquilo que é agradável a Deus (cfr. Mc 13,34), sabendo também que na hora, no qual nós não pensamos o Senhor virá[3].

            Em suas homilias, Pseudo Macário, padre do deserto, final do século IV, falou da importância de levar consigo o óleo como as virgens previdentes fizeram em vista da demora da chegada do noivo, para não cair no erro das imprevidentes que não levaram o óleo consigo de modo que não puderam entrar na sala de festa do Reino. As virgens previdentes acolheram nas vasilhas o óleo, isto é a graça do Espírito Santo, as obras de caridade, e assim puderam entrar com o esposo nas salas das núpcias do céu, enquanto as outras, fechadas na sua natureza, não vigiaram e nem se preocuparam de fazer obras de caridade, de colocar óleo nas vasilhas, vivendo uma vida desligada da doação, do amor. Elas foram excluídas da sala nupcial do Reino, porque não foram agradáveis ao esposo celeste. Elas não doaram o seu amor verdadeiro ao Esposo, nem se preocuparam do óleo, vivendo obras de amor aos outros e a Deus. Mas aquelas que se dedicaram ao Senhor, à Igreja são agradáveis ao esposo espiritual, do Espírito do Senhor com o óleo de exultação[4].

            Hesíquio Presbítero, século V, afirmava que a vigilância é uma atitude do coração, estranha a todo o pensamento, mas que invoca Cristo Jesus, Filho de Deus e Deus, Ele somente. A vigilância é o concentrar-se de uma forma contínua do pensamento e assumir uma atitude de estar à porta do coração. Um modo de viver, o silêncio, como atitude do advento, é suplicar a ajuda do Senhor Jesus Cristo. É preciso uma oração continua com Jesus para viver no seu amor. A oração precisa da vigilância como a chama tem a necessidade da lamparina para dar a luz[5].

            São Gregório Magno, papa de 590 a 604, afirmou que é preciso reavivar a fé nas coisas que nós acreditamos, nas realidades divinas e na vida eterna. O tempo de advento nos impulsiona a fazer coisas boas, de caridade. O que será a pastagem das ovelhas se não a alegria interior de um paraíso verdejante? Será a passagem dos eleitos e das eleitas à presença da face de Deus, no qual o coração se nutre do alimento da verdadeira vida. O Papa convidou os fiéis a buscar estas pastagens, onde nós nos alegraremos com a reunião festiva de tantos eleitos. Esta alegria de quem participará à festa seja para todos um convite. O Papa tinha presentes à necessidade de acender o fogo na alma das pessoas para que fosse reavivada a fé nas coisas que sempre se acreditou, o desejo humano seja inflamado pelas realidade celestes. Amar em tal modo é já estar no caminho, porque o desejo humano é a unidade com a pátria celeste[6].

            O advento é um tempo de preparação ao santo natal, o nascimento do Senhor Nosso Jesus Cristo na realidade humana. Ele alude à primeira vinda do Salvador, mas também a segunda vinda para as nossas vidas, de modo que é preciso viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A alusão é dada também à vida eterna, preparada neste mundo por obras de caridade.

[1] Cfr. Cipriano di Cartago, L´Unità della Chiesa, 26-27. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici. Scelta a cura dei fratelli e delle sorelle della Comunità di Bose. Edizioni QIQAJON, Comunità di Bose. 2012, Magnano (BI), pg313-14. Ver também: Cipriano de Cartago. Unidade da Igreja, 26-27. Paulus, SP, 2016, pgs. 154-155.

[2] Cfr. Giovanni Crisotomo, Omelia su Eutropio, 2,5-6. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici, pgs. 14-15.

[3] Cfr. Basilio di Cesarea, Regole morali, 80,22. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgici, pgs. 15-16.

[4] Cfr. Pseudo-Macario, Omelie 4,5-6. In: Idem, pgs. 17-18.

[5] Cfr. Esichio Presbitero, A Teodulo 5-6,. 14-18. 102, In: Idem, pgs. 18-19.

[6] Cfr. Gregorio Magno, Omelie sui vangeli I, 14,5-6. In: Idem, pgs. 20-21.

POR Dom VITAL CORBELLINI

Bispo de Marabá - PA