Introdução:

Nossa reflexão sobre as Áreas Missionárias desta edição nos leva a falar sobre os passos que são efetivados para a criação e o desenvolvimento das mesmas. Trata-se de um processo! A evangelização pressupõe um caminho! Nada na evangelização é automático e imediato!

Esse caminho não é gratuito; exige de todos os líderes uma profunda intimidade com a pessoa de Jesus Cristo, amor à Igreja e paixão pelo Reino de Deus. Esses três amores são inseparáveis. A evangelização é consequência do amor a Deus que quer a Salvação de todos.

É lamentável constatarmos que, muitas pessoas, gostam de falar do seu amor a Jesus (da sua misericórdia, por exemplo), contudo, nem sempre nutrem o mesmo amor pelos irmãos, nem pela Igreja e muito menos lutam pela promoção do Reino de Deus. Isso é um gravíssimo engano.  

Não é aceitável um amor a Cristo sem aquele aos irmãos, sem à Igreja, sem paixão pelo Reino de Deus que pressupõe a transformação dos males do mundo. Desse fato podemos imaginar o necessário enfrentamento de muitos desafios.

  1. Passos a serem dados

No artigo anterior falamos sobre a importância do cultivo de determinadas atitudes saudáveis no desenvolvimento do serviço missionário. Pois, vejamos alguns compromissos consequentes dessas atitudes.

O primeiro compromisso para a criação de uma área missionária é o reconhecimento de que um determinado espaço demográfico precisa de uma especial atenção pastoral a ser mapeada, demarcada e definida em suas fronteiras. Isso depende da sensibilidade missionária de cada paróquia tendo o seu pároco um pastor que conhece os desafios pastorais do território de abrangência da sua missão.

Após o reconhecimento das áreas com “vazio pastoral” (sem presença visível da Igreja Católica, sem comunidade organizada, sem capela, sem ação pastoral) é necessário que essa área seja mapeada, e projetada a fundação de novas Comunidades. Uma vez identificadas as áreas das futuras comunidades é necessário que seja elaborado um plano de ação com múltiplas atividades pastorais, como por exemplo: visitas domiciliares, reza do terço, celebração da Palavra, novenas, celebrações eucarísticas (nas ruas ou residências), procissões…  Tais atividades desperta a população para a percepção da presença da Igreja Católica no território.

Esse serviço não pode ser esporádico, mas permanente. Por isso é necessário que para cada canto da área missionária seja definida uma equipe de atuação permanente. Eles serão os missionários desbravadores daquele contexto criando vínculos com a comunidade, formando lideranças e estando atentos às oportunidades, sendo uma das principais dessas, a aquisição de um terreno para ser a sede (ou capela) da comunidade.

O resto é cuidado! Os missionários preparam a terra do coração das pessoas, semeiam a Palavra, regam as mentes, estimulam a fraternidade, mas é o Espírito de Deus que fará com que a semente da Palavra germine, cresça e dê bons frutos (cf. 1Cor 3,5-9).

Especial atenção deve ser dado à formação de líderes. Sem a formação de líderes o futuro fica comprometido. É preciso que os missionários sejam desapegados… Não basta contar com a boa vontade dos voluntários para assumirem responsabilidades; é preciso que se faça todo esforço possível para que as pessoas da própria comunidade sejam capacitadas para que possam assumir a liderança da nova comunidade.

  1. Desafios a serem superados

Diante da urgência da evangelização a Igreja é chamada a ressignificar todas as suas estruturas pastorais; mas isso pressupõe uma exigente conversão pastoral de todos os sujeitos eclesiais.

O elenco dos desafios que listaremos a seguir, estão presentes em diversos documentos pastorais da Igreja dos últimos anos como, por exemplo, o documento de Aparecida (2007), a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho, do Papa Francisco),  a Exortação Apostólica Amoris Laetitia (Alegria do Amor, do Papa Francisco), Exortação Apostólica Querida Amazônia e Instrução “Conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja” (ano 2020), da Congregação para o Clero.

  • A paixão missionária depende do amor a Jesus Cristo e da Alegria do Serviço pelo Reino de Deus; urge a superação da ignorância sobre Jesus Cristo;
  • Apesar de muitos serviços pastorais, ainda se sente a falta da cultura missionária em nossas comunidades; ela vai além de um simples serviço institucional;
  • É necessário superar a tentação do devocionalismo e do sacramentalismo;
  • Ainda é muito forte no clero e nas lideranças em geral uma visão territorialista da paróquia, e por isso, muitos não aplaudem o redimensionamento das mesmas; é necessário considerar o dinamismo demográfico de cada área geográfica (o crescimento da população e sua reorganização habitacional);
  • Os documentos ainda acusam o lamentável clericalismo; e em geral constatamos essas fragilidades nas bases onde emergem conflitos que já deveriam ser superados devido à nova mentalidade eclesial; dessa forma a missionariedade dos leigos fica engessada, ameaçada, reduzida;
  • O papa Francisco tem acusado uma série de “ismos” que devem ser superados tais como, o “burocracismo”, o “legalismo”, o “imobilismo”, o “comodismo”, o “pessimismo estéril”, o “feudalismo pastoral”, o “relativismo pastoral” (como perda da referência do Evangelho), o “pragmatismo”, “mundanismo espiritual”;
  • Enfim, outro grave desafio que amordaça a missionariedade é a fragmentação pastoral como sinal de perda da pastoral de conjunto; desse mal decorre o paralelismo pastoral, o isolamento, a falta de comunhão e de sinodalidade, favorecendo a autorreferencialidade pastoral.
  1. O que fazer?

A Igreja de modo geral já está profundamente comprometida na mudança desses males que compromete as atitudes de todos os sujeitos eclesiais. Sobre isso vejamos o que afirma a Instrução Pastoral sobre a renovação das Paróquias (Congregação para o Clero, ano 2020).

“Para promover a centralidade da presença missionária da comunidade cristã no mundo, é importante repensar não só a uma nova experiência de paróquia, mas também, nessa, o ministério e a missão dos sacerdotes, que, junto aos fiéis leigos, têm o compromisso de ser “sal e luz do mundo” (cfr. Mt 5,13-14)” (N. 13). “A partir justamente da consideração dos sinais dos tempos, escutando o Espírito, é necessário também gerar novos sinais” (N. 14).

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Você conhece toda a área geográfica da sua paróquia?
  2. Qual dos documentos citados você já leu? Se ainda não leu nenhum deles, faça o esforço para ler a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium.
  3. Qual dos desafios a serem superados você mais percebe e quais são os prejuízos geram?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2