Introdução

Seguindo as narrações dos evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, outra consequência da fé no Ressuscitado é a experiência da conversão. A fé no Ressuscitado gera radical mudança de vida: atitude de reconhecimento dos males (a falta de fé, a ignorância, a violência etc.), o arrependimento, o pedido de perdão, a vida nova com a conversão!

Esse novo dinamismo de vida percebemos desde os primeiros sinais da ressurreição com a constatação do sepulcro vazio, que se transforma num movimento expansivo e profundo com as aparições de Jesus. Quem se encontra com o Ressuscitado tem a sua vida transformada!

Esse dinamismo positivo é primeiramente atestado por Madalena e as mulheres que vão bem cedo ao túmulo, depois por Pedro, João, os discípulos de Emaús, as comunidades dos discípulos, Tomé, Paulo de Tarso e aos poucos, crescendo atingindo o povo com a pregação dos apóstolos gerando milhares de conversão. O processo de conversão se exemplifica e se consolida na comunidade primitiva.

 

  1. O impacto da Ressurreição

O impacto da ressurreição de Jesus não foi uma realidade sentida somente por seus discípulos e discípulas, mas também por aqueles que pareciam seguros, corajosos e inabaláveis, como narra Mateus descrevendo a reação dos guardas. Com a aparição dos anjos eles tremeram de medo, e ficaram como mortos, paralisados (cf. Mt 28,4). A ressurreição de Jesus freia os promotores da morte de modo que se sentiram ameaçados e confusos.

As mulheres estavam cheias de medo, paradas e chorando. Com a notícia de que Jesus havia Ressuscitado, elas se levantam, saem correndo com alegria, superando o medo (cf. Mt 28,8; Mc 16,8). O próprio Ressuscitado, sabendo o que se passava no coração delas, cheios de ansiedade, lhes acalma dizendo-lhes: «Alegrem-se!» (Mt 28,9). «Não tenham medo. Vão anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galiléia. Lá eles me verão.» (Mt 28,10). A fé no Ressuscitado nos desinstala do pessimismo, da tristeza, do comodismo, do saudosismo e nos transforma em missionários da alegria e da esperança. 

O evangelista Lucas nos apresenta um detalhe muito significativo no processo de mudança do ânimo das mulheres. Elas foram questionadas pelo anjo: “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se de como ele falou, quando ainda estava na Galiléia: ‘O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado, e ressuscitar no terceiro dia’.» Então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus. Voltaram do túmulo, e anunciaram tudo isso aos Onze, bem como a todos os outros” (Lc 24, 7-9). Temos aqui a importância da memória que desperta a fé e gera transformação.

Algo muito semelhante também acontece com os discípulos de Emaús; mas quem provoca a memória, que desperta a fé e os transforma é o próprio Ressuscitado. A conversão desses discípulos passou por um processo e o condutor do mesmo é o próprio Jesus. A mudança pela qual eles passam, a partir desse encontro com o Ressuscitado, é extraordinária e profunda. Eles estavam decepcionados, abatidos, tristes, frustrados, como que cegos, e se afastavam de Jerusalém (cf. Lc 24,11-15).

Após escutá-los, com sua intervenção, Jesus Ressuscitado abriu-lhes as mentes para entender as Escrituras (cf. Lc 24,25-27). Ao final comentaram entre si: “Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?» (Lc 24,32). Mas essa experiência de conversão não ficou somente na mente e no coração deles, mas se traduziu em compromisso missionário. Por isso diz o evangelista que, “na mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os Onze, reunidos com os outros” (Lc 24,33).

Recordemos também a mudança das atitudes do apóstolo Tomé; antes do encontro com Jesus Ressuscitado, ele era um homem isolado, fora da comunidade, desconfiado, negacionista e descrente em relação ao testemunho comunitário. Todavia, após o encontro pessoal com Jesus Ressuscitado, com sua atitude de acolhida do mistério confessa a sua fragilidade fazendo uma profunda profissão de fé (cf. Jo 20,24-29).

Além dessas narrações individuais temos também fatos comunitários que se referem à comunidade dos apóstolos. Eles estavam fechados e cheios de medo dos judeus (cf. Lc 24,36-42), mas após o encontro com Jesus Ressuscitado tudo mudou. Antes de tudo, Jesus lhes deseja a Paz (cf. Lc 24,36; Jo 20,21), e após mostrar-lhes as mãos e os pés, eles ficaram espantados e cheios de alegria (cf. Lc 24,37-43). Mais uma vez, também nesse encontro comunitário aparece a importância da memória. O que foi feito com Madalena, com os discípulos de Emaús, também acontece com a comunidade: a memória do testemunho da Sagrada Escritura expõe o plano de Deus (cf. Lc 24,44-47).

Na pesca milagrosa, temos também outro exemplo de conversão da comunidade dos apóstolos. Eles tinham passado a noite pescando, mas não pegaram nada. De manhã estavam cansados, sonolentos, famintos. Jesus não esteve com eles na pescaria, mas após a aparição de Jesus dando-lhes orientações precisas, eles obedecem, tudo muda e vem a abundância de peixe (cf. Jo 21,1-11). Essa pescaria é símbolo da atividade missionária da Igreja que não tem sustento, consistência e nem eficácia se não for alimentada pela fé na presença do Ressuscitado que nutre o dinamismo missionário com a força da sua Palavra que tudo anima e transforma.

 

  1. A pregação gera conversão

Aquilo que São Paulo afirma, que a fé depende da pregação e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo (cf. Rm 10,17), é o que encontramos em diversas narrações nos Atos dos Apóstolos. A fé no Ressuscitado gerou nos apóstolos a consciência do dever do anúncio daquilo que eles testemunharam e a proclamação desse anúncio através a pregação despertou a fé em milhares de ouvintes. 

O testemunho de vida e a pregação sobre Jesus Ressuscitado gerava nas pessoas o arrependimento dos males cometidos, estimulava o desejo do perdão dos pecados, provocava a vontade de mudança de vida (cf. At 3,19), promovia a restauração da saúde (cf. At 3,7-8), abria a todos a esperança da salvação (cf. At 3,20).

A mensagem desta primeira fase da pregação é que a fé em Jesus Ressuscitado deve atingir a totalidade da vida de quem crê, causando-lhe profundo impacto dentro da sua pessoa levando-a sentir algo diferente dentro de si que a faz mudar de estilo ou dinâmica de vida. Quando a nossa dimensão afetiva e intelectual não é tocada pela fé, também não há consequências consistentes para assumirmos os mesmos sentimentos de Jesus Cristo (cf. Fl 2,5). A Ressurreição não é um “conto”, não é um “mito”, não é produto da fantasia dos discípulos em estado de carência paterna; é um fato histórico e é sobre ele que se fundamenta a nossa fé e nos compromete ao testemunho e anúncio (cf. 1Cor 15,1-19).

 

  1. A fé na ressurreição em nossa vida

Todas essas referências nos convidam insistentemente a refletir sobre quais são as consequências da fé em Jesus Ressuscitado no nosso cotidiano. Na exortação Apostólica Evangelii Gaudium o Papa Francisco nos convida a traduzir a nossa fé na Ressurreição em atitudes de vida: a cultivar um amor inabalável pela dignidade humana, levantar a cabeça e sempre recomeçar, nunca dar-se por morto suceda o que suceder (cf. EG, 3).

A fé na ressurreição nos comunica a misericórdia do Pai que contém uma força de vida que penetra o mundo; por isso não devemos ceder às injustiças, maldades, indiferenças e crueldades; é preciso crer no mundo novo que surge dos dramas da história; a força da ressurreição é a força de todo evangelizador, por isso é necessário manter a esperança viva (cf. EG, 276-279). A fé no Cristo Ressuscitado enche o coração e a vida inteira daqueles que o encontram. E todos aqueles que se deixam conduzir por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento e renascem para a alegria sem cessar (cf. EG,1).

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Como você testemunha a fé em Jesus Ressuscitado em sua vida?
  2. Por que apesar da fé na Ressurreição, há tristeza na vida religiosa de muitos cristãos?
  3. Qual personagem apresentado teve uma mudança que mais lhe tocou?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2