Introdução

No meio de tantas atividades e rituais natalinos de caráter folclórico devemos estar atentos para não nos deixarmos perder de vista o essencial. A autêntica alegria da celebração do Natal brota de uma convicção de fé que tudo sustenta: o menino que nasceu em Belém é o Salvador, o Messias, o Senhor (cf. Lc 1,11), é Deus que se faz homem e vem habitar no meio de nós.

É essa a mais profunda verdade que gerou espanto, alegria e esperança nos pastores. A celebração do Natal sem essa convicção religiosa não passa de uma pura festa cultural (folclórica) com muito brilho, abundância de coisas, gestos e ritos, mas logo tudo se acaba. É festa sem compromisso!

Ao contrário, a celebração do nascimento do Deus conosco é carregada de compromissos porque não é fruto de uma mera convenção humana, mas sim, uma celebração de Fé. De fato, a ação salvadora do Filho de Deus não é um espetáculo pirotécnico, mas convite a um compromisso de vida que dá novo sentido à existência de quem a ele adere e segue.

 

  1. O Natal pagão

O paganismo é o movimento do homem que, com suas ansiedades e desejos, busca projetar-se para o alto, enaltecendo a si mesmo. Dessa forma nasce toda espécie de idolatria, quando o homem exaltando a si mesmo deposita nas criaturas a sua alegria, segurança, confiança e esperança. Essa foi uma das mais duras críticas feita pelos profetas como adverte o profeta Jeremias: “Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!” (Jr 17,5).

Há atualmente na sociedade muitas atividades que já receberam o adjetivo “natalinas”, mas na verdade, estão distantes do Verdadeiro Natal. São atividades sociais e folclóricas, recheadas de afetividade e emoção, com seus devidos valores, mas que na sua essência não fazem parte do dinamismo da experiência de Fé cristã. Por isso somos chamados a repensar o que, de fato, caracteriza a autêntica celebração do verdadeiro Natal.

O Natal não é a festa do afeto da humanidade em si mesma; não é a troca de presentes materiais entre as pessoas, mas é o reconhecimento, daqueles que tem fé, que Deus se faz presente para a humanidade. A verdadeira celebração do Natal, quando é regada pela fé, nunca prioriza as coisas, mas as pessoas. E por isso a bondade passageira não basta.

A celebração do Natal não é, puramente, fazer-se esporadicamente bonzinho e dar presente a um necessitado, mas é o ato de fé que nos leva a acolher a Deus como presente para a humanidade carente de sentido e salvação. E assim nos fazemos permanentemente presente para os outros. 

 

  1. Deus vem a nós

O Natal é o movimento de Deus, “abrindo os céus” e vindo à terra. Essa é uma ideia do profeta Isaías quando afirma: “Céus, deixai cair orvalho das alturas, e que as nuvens façam chover justiça; abra-se a terra e germine a salvação; brote igualmente a salvação” (Is 45,8).

O Natal não é a celebração do esforço da bondade humana, mas é a festa das boas vindas ao Salvador chegando ao encontro da humanidade. O Verdadeiro Natal é a celebração da colhida do mistério de Deus em forma de criança como disse o anjo aos pastores: «Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura» (Lc 2,10-12).

O Verdadeiro Natal é celebração dos sinais da fé e estes superam por completo os limites do tempo cronológico. Dessa forma celebramos a chegada do Salvador lá onde nos exercitamos no Amor. Celebramos o Natal, com os sinais da chegada do Salvador, quando superamos a indiferença e nos tornamos solidários.

Celebramos o Verdadeiro Natal quando manifestamos ao próximo os sinais do conforto da acolhida, do alívio do perdão, da força da misericórdia. O profeta Isaías ainda nos estimula a pensar a Celebração do Natal como visibilização das manifestações de Deus que está em nós: “o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14).

Celebrar o Natal é “dar à luz”, mostrar ao mundo, o Bem maior que temos que é Deus. Naturalmente essa manifestação da divindade em nós só pode acontecer através das nossas atitudes de amor ao próximo, como bem nos descreve o evangelista João: “Se alguém diz: «Eu amo a Deus», e no entanto, odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão” (1Jo 4,20-21).

 

  1. O Deus escondido se revela

Enquanto os ídolos deste mundo são visíveis e concretos, capazes de serem observados e manipulados (cf. Is 45,20), o Deus de Israel era mistério, por isso diz o profeta Isaías: “De fato, tu és o Deus escondido, o Deus de Israel, o salvador” (cf. Is 45,15). Os ídolos são estáticos e o brilho deles depende dos homens! Mas só Deus pode se revelar, porque é absolutamente sujeito. No início da Carta aos Hebreus encontramos esta linda afirmação sobre o mistério de Cristo que se revela progressivamente ao longo da história. “Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. No período final em que estamos, falou a nós por meio do seu Filho. Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas e, por meio dele, também criou os mundos” (Hb 1,1-2).

Deus fala por meio do seu Filho que é a Palavra que se encarnou: “No começo a Palavra já existia: a Palavra estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus… E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (Jo 1,1-2.14). Não há festa do Verdadeiro Natal sem a celebração da Palavra de Deus. Não bastam, portanto,  poesias e decorações, música, comidas e bebidas, presentes e panetones urge boas ações derivadas dos ensinamentos do Emanuel, humildemente colocado numa manjedoura e acessível aos olhares dos olhos de que tem fé.

Muito mais que uma festa passageira, a celebração do Natal é a acolhida da Palavra de Deus que faz permanente morada no coração quem ama. Desejo-lhe um Feliz Natal!

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Como se manifesta a celebração do natal pagão?
  2. Quais são os principais ídolos do natal pagão?
  3. Para você, o que é essencial para a celebração do verdadeiro Natal?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2