De Conselho Indigenista Missionário

 

A Pastoral Indigenista da Prelazia de Itaituba (PA) e o Cimi Regional Norte II manifestam sua solidariedade e firme apoio ao povo Munduruku, ameaçado por conflitos causados pela invasão garimpeira em seu território

A Pastoral Indigenista da Prelazia de Itaituba e o Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Norte II manifestam sua solidariedade e firme apoio ao povo Munduruku em sua persistência na defesa da vida, de seus direitos e de seu território.

Conforme se pode verificar nas imagens divulgadas pelo Ministério Público Federal (MPF) em 20 de março, do avanço da invasão de garimpeiros dentro do território tradicional Munduruku na região do igarapé Baunilha, em Jacareacanga, no Oeste do Pará, a situação de conflito é evidente. As invasões garimpeiras já vem acontecendo há muitos anos, e têm se agravado desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, quando houve o aumento expressivo de invasores e maquinários dentro do território.

No Rio Cururu, ao qual está ligado o igarapé Baunilha, local dos conflitos, fica situada a Aldeia Missão São Francisco, que há mais de cem anos tem a presença dos religiosos e religiosas que ajudam o povo Munduruku na formação de lideranças, no fortalecimento cultural e na defesa dos direitos indígenas, e onde nunca se pensava que haveria invasão de garimpeiros. Agora, com as ameaças da invasão garimpeira na bacia do Rio Cururu, os índios temem que isso possa significar o fim da vida indígena na região.

O impacto do mercúrio, usado largamente na atividade de garimpo, tem contaminado o povo. Um estudo realizado pela Fiocruz junto aos Munduruku indica que todos os participantes da pesquisa estão afetados por este contaminante. De cada dez participantes, seis apresentaram níveis de mercúrio acima de limite máximo de segurança estabelecido por agências de saúde.

Os resultados nos mostram que a atividade garimpeira vem promovendo alterações de grande escala no uso do solo nos territórios tradicionais dos Munduruku. Além de impactar a saúde dos rios e florestas, a atividade garimpeira na Bacia do Tapajós impõe aos Munduruku o abandono do seu modo de vida tradicional, já que altera por completo a relação dessa população com os rios, que de fontes de vida passaram a ser a principal fonte de ameaça à reprodução física e cultural deles.

A Pastoral Indigenista e o Cimi apoiam todas as medidas para barrar as invasões garimpeiras no território Munduruku e reiteram as ações do MPF que cobram a atuação urgente de forças federais para coibir a ação dos invasores. Esperamos que sejam respeitados os direitos fundamentais dos povos indígenas, reconhecidos na Constituição Federal de 1988, que obrigam a União à proteção dos territórios dos povos indígenas.

Unimo-nos às manifestações públicas das organizações indígenas locais e de outras entidades sociais e eclesiais em apoio ao povo Munduruku em defesa das garantias constitucionais. Chamamos a toda a sociedade civil para que possamos manter a unidade necessária na defesa dos direitos fundamentais e da democracia.

Itaituba, 23 de março de 2021

 

Pastoral Indigenista da Prelazia de Itaituba

Conselho Indigenista Missionário Regional Norte II

 

Foto de capa: Povo Munduruku durante mobilização, em Brasília, para cobrar a fiscalização de invasões e o respeito ao seu território tradicional. Foto: Adi Spezia/Cimi