Lançamento: Bíblia Apócrifa: Segundo Testamento.
Petrópolis: Vozes, 2025
Autor: Frei Jacir de Freitas Faria, OFM.

Dia 16 de Agosto de 2025-Sábado
Horário 19h30
Local  Sede Regional Norte 2 – CNBB |  Tv. Barão do Triunfo, 3151 Marco – Belém (PA)

A Bíblia Apócrifa: Segundo Testamento é o fruto de mais duas décadas de pesquisa de Frei Jacir de Freitas sobre a literatura apócrifa, isto é, os livros que foram excluídos da Bíblia. São 784 páginas de fé, presente numa literatura pouco conhecida do grande público. A tradução apresentada, fruto de 10 anos de trabalho, baseia-se em textos originários em suas diversas traduções para as línguas modernas.

Os cristãos consideram a Bíblia como livro sagrado. Os católicos consideram como inspirados 73 livros, e os evangélicos, 66. São 180 livros que ficaram fora da lista oficial que a Igreja reconheceu como inspirados. Entre eles, 120 são do Novo Testamento, os quais foram escritos no final do século I e, sobretudo, no século II, com o objetivo de acrescentar, esclarecer ou contrapor ensinamentos sobre Jesus e seus seguidores. Os apócrifos do Novo Testamento podem ser classificados, em relação aos canônicos, como aberrantes (exagerados), complementares e alternativos.

Essa obra é uma Bíblia, pois ela é também uma coleção de 67 livros, traduzidos e comentados de forma acessível ao estudo e ao contato com a fé de origem. Ela apresenta também informações sobre 38 outros textos e fragmentos apócrifos. Os livros foram chamados de Segundo, e não de Novo Testamento, por uma questão de diálogo e respeito como os nossos irmãos judeus.

Apócrifo é a tradução do termo grego “apokryphos” e significa escondido, oculto, isto é, no caso, livro utilizado, lido de forma escondida. Seria a Bíblia Apócrifa outra Bíblia? Sim e não! Como apresentação de um pensamento diferenciado, é, sim, outra Bíblia, mas, em relação a seu objetivo, que é o de dialogar com os vários cristianismos de origem, não. Ela é um convite ao diálogo e amadurecimento na fé, bem como o de levar o/a leitor (a) a compreender a revelação do Espírito Santo na oralidade da fé, na catequese que chegou até os nossos dias.

Para que isso fique bem claro, a obra inicia com grande introdução à Bíblia Canônica e à Bíblia Apócrifa. Na sequência, a tradução dos apócrifos do Segundo Testamento está distribuída da seguinte forma:

  • Cinco Evangelhos do nascimento e infância de Jesus (Segundo Pseudo-Tomé, Infância do Salvador…).
  • Seis Evangelhos sobre Maria (livro do Descanso, Protoevangelho de Tiago…).
  • Um Evangelho sobre São José (História de José, o Carpinteiro).
  • Cinco Evangelhos da Paixão, morte e ressurreição de Jesus (Sentença de Pilatos, Descida de Cristo aos infernos, Evangelhos Segundo Pedro…).
  • Seis Evangelhos gnósticos (Evangelho de Maria Madalena, Evangelho de Tomé, Evangelho de Judas Iscariotes…).
  • Oito História de Pilatos (Relatório de Pilatos a César, Vingança do Salvador, Morte de Pilatos…).
  • Catorze Atos dos Apóstolos (Atos de André, Atos de São Judas Tadeu, A filha de Pedro…).
  • Dezoito Cartas (Carta dos Coríntios a Paulo, Carta de Paulo aos Laodicences, Cartas entre Paulo e Sêneca…).
  • Quatro Apocalipses (Apocalipse de Paulo, Apocalipse de Tomé…).

No início de cada livro apócrifo, há um comentário com as principais informações sobre seus contextos histórico e literário.

Bíblia Apócrifa – Segundo Testamento é um marco editorial inédito no Brasil e na história da pesquisa bíblica. Esta é a primeira vez que uma obra reúne, em um único volume, os evangelhos, cartas e atos apócrifos.

Uma Bíblia Apócrifa desafia, em certo grau, a autoridade da Igreja Católica, que adota a versão oficial das Escrituras, a Bíblia Canônica, composta pelo Antigo e Novo Testamentos. A Igreja definiu, ao longo dos séculos, definiu quais seria os livros inspirados por Deus e rejeitou os chamados apócrifos, que foram excluídos do cânon oficial por diversos critérios históricos, teológicos e doutrinários.

O lançamento de uma Bíblia Apócrifa, composta por Frei Jacir de Freitas, que se destaca entre centenas de pesquisadores, historiadores e especialistas em bíblica católica, não é apenas um ato de coragem, é um gesto de revolução silenciosa. Uma ousadia teológica. Um eco de vozes antigas que insistem em ser ouvidas e que provocam reflexões e debates profundos, pois os apócrifos do Segundo Testamento:

  • Resgatam a face dos cristianismos perdidos ou excluídos, possibilitando-nos o conhecimento dessas correntes de pensamento condenadas ao ostracismo, nas quais poderiam estar traços do pensamento de Jesus que foram afastados pelo cristianismo que se tornou hegemônico.
  • Eles também revelam a luta desenfreada pelo poder, nos primórdios do cristianismo, entre suas lideranças. Nesse sentido, os apócrifos, sobretudo os gnósticos, evidenciam o papel, a liderança da mulher na era apostólica. Maria Madalena é o melhor exemplo.
  • Oferecem elementos da catequese não propriamente herética dos primeiros cristãos, ainda hoje presentes no imaginário popular, espelho de uma fé simples, piedosa e devocional em relação a Maria, por exemplo, os quais serviram de base para dogmas de fé na Igreja.
  • Influenciaram a arte e a literatura cristã na Idade Média e Moderna como a Legenda áurea, de Jacopo de Varezze, e a Divina Comédia, de Dante, as pinturas nas igrejas romanas, com imagens inspiradas nos apócrifos, e tantas outras obras, evidenciando o encontro inevitável entre o evangelho e a cultura, mesmo na sua condição de escrito não canônico.
  • Verdade ou não, os apócrifos do Segundo Testamento respondem a questões que os canônicos não conseguiram.

Embora o Papa Francisco tenha se mostrado mais aberto ao diálogo e à revisitação de temas históricos da fé, um projeto como esse pode ser visto com reservas pelo Vaticano, pois envolve uma abordagem teológica que escapa ao controle da hierarquia eclesiástica. Apesar disto, Frei Jacir de Freitas tem a coragem de exercer a liberdade para falar para todo o mundo: existe um outro Jesus esquecido pela tradição que se tornou oficial. Frei Jacir não apenas compilou uma Bíblia Apócrifa. Ele resgatou histórias. Ele quebrou silêncios. Ele abriu portas. Ele reavivou narrativas esquecidas pelo tempo.

Bíblia Apócrifa – Segundo Testamento, por mais polêmica que seja, abre um canal de diálogo com os valores cristãos de ontem e de hoje