por Marcelo Santos / Coordenador da Comissão Justiça e Paz – CJP de Santarém
No coração da Amazônia, comunidades celebram o meio século da Comissão Pastoral da Terra e testemunham o compromisso da Igreja com a vida e a dignidade dos povos do campo. 50 anos de Fé, Justiça e Luta pelos Povos da Terra.
Neste ano de 2025, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) celebra 50 anos de missão. Fundada pela Igreja Católica em um momento crítico da história brasileira, ainda durante a ditadura militar, a CPT nasceu com o compromisso de estar ao lado dos pobres da terra, lutando pela vida, pela dignidade e pela justiça social. No último domingo, 22, a CPT da Arquidiocese de Santarém escolheu um lugar significativo para comemorar esta data, a comunidade do Jatobá, na região da PA 370 — Curuá-Una, numa manhã alegre promovida pela comunidade, denominada “FESTA DA COLHEITA DA ROÇA, DA FLORESTA, DAS ÁGUAS E DA LUTA”.
Logo na abertura do momento comemorativo no Jatobá, Gilson Rego, da Coordenação da CPT da Arquidiocese, fez questão de destacar a presença histórica da CPT. “Vou fazer 20 anos como agente da CPT e nesses anos todos pude conhecer várias histórias e poderia falar cada uma aqui, tantas lutas e muitas vitórias. Estamos nesses lugares porque essas pessoas precisam, mas nós não conseguimos resolver todos os problemas, mas estamos ali para ajudar no que pudermos”, destacou.
Gilson também acrescentou sobre a missão de ser agente da CPT: “Somos agentes que não trabalhamos para acumular dinheiro, nossos salários são poucos, mas, mesmo assim, quem entra para essa comissão, e outras comissões também, só saem por algum motivo muito forte, porque acabamos nos apaixonando pela causa”.
Na Amazônia Paraense, comunidades como a RESEX Renascer, em Prainha e Jatobá, em Santarém, são exemplos vivos dessa atuação. A CPT esteve presente em momentos de conflito, perseguições, ameaças e, também, nas vitórias que garantiram o direito à terra e à permanência das famílias em seus territórios.
Lucivaldo Esquerdo dos Santos, conhecido como Lúcio, oriundo da comunidade Mato Grosso (RESEX Renascer), reconheceu o papel evangelizador e transformador da CPT. “A partir de 2006 a gente conheceu o Gilson. Então, ele foi a primeira liderança que apareceu lá, foi a CPT. Deram o pontapé inicial ao nosso acordo de pesca. E hoje temos mais estrutura, fruto desse acordo de pesca. Através do dinheiro da pesca, a gente vai construindo igreja, escola e outras coisas. Então, nós temos muito que agradecer à CPT”, assegurou. Lúcio ainda fez um registro importante: “A maioria das lideranças de lá vive ameaçada de morte, mas com fé em Deus e muita luta nós vamos conseguindo seguir firmes, com a ajuda da CPT”.
Da mesma forma, Márcia Guerreiro Ribeiro, presidenta da Associação do Jatobá, também reconheceu a importância da CPT na vida da comunidade e suas lutas. “Sem a permissão de Deus, a gente jamais estaria aqui na primeira Festa da Colheita, celebrando os 50 anos da CPT, que tanto nos ajudou a conseguirmos vencer um processo, e hoje estamos aqui podendo comemorar”, destacou. Márcia comparou todas as lideranças perseguidas em seus territórios com João Batista: “João Batista teve sua cabeça colocada a prêmio, para satisfazer o pedido de uma rainha. Então, as cabeças de várias lideranças também foram colocadas a prêmio para satisfazer a vontade de pessoas que querem roubar seus territórios”, enfatizou.
Ao longo dessas cinco décadas, a CPT tem vivido o Evangelho, na prática, como uma Igreja que não se limita aos templos, mas que caminha com os pobres, enfrenta o latifúndio, denuncia a violência contra os trabalhadores e promove a justiça agrária.
Inspirada na missão de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10,10), a CPT segue fortalecendo a esperança de homens e mulheres que acreditam que outra realidade é possível.
O momento contou com a presença de parceiros convidados, como representantes do Conselho Pastoral de Pescadores e Pescadoras da Arquidiocese de Santarém (CPP), da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Santarém (CJP), professores e acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Contou também com a presença de representantes de vários territórios acompanhados pela atuação da CPT, como da Comunidade Morada Nova — Zona Rural de Almeirim, Resex Renascer, que abrange 18 Comunidades e 3 setores na Zona Rural do município de Prainha, PDS Serra Azul — Monte Alegre, Aldeias São Francisco da Cavada e Açaizal, Assentamento Chapadão, aldeias e assentamento localizados na região da Rodovia Curuá-Una em Santarém.
Após as falas da coordenação da CPT e de algumas lideranças, e de cantarem parabéns pela passagem dos 50 anos da CPT no Brasil, o momento festivo encerrou com um almoço partilhado, com os alimentos trazidos de todos os territórios representados neste dia.
A celebração dos 50 anos da CPT é também uma renovação do compromisso da Igreja com os pobres da terra, reafirmando que fé e luta caminham juntas.