Introdução

Continuemos nossa reflexão sobre os horizontes e a sensibilidade da educação católica. Alicerçada na dignidade da pessoa humana, sensível às suas diversas potencialidades, a educação católica deve também considerar a dimensão econômica, política, moral e cultural do educando. Assim como falamos da sociabilidade como dimensão humana fundamental, podemos também considerar a economicidade, a politicidade, a moralidade e a culturalidade.

Há um dinamismo natural, próprio da pessoa humana, que precede a economia, que vem antes da política, que é anterior à reputação de alguém e à cultura onde está inserido. É essa potencialidade que deve ser acolhida com respeito e educada com firmeza. Mais do que nunca, hoje em dia, urge por toda parte, um sério investimento na restauração da educação para justa economia, para a gestão da vida e dos serviços, para a paixão pelas virtudes, gestão e produção de conhecimento a serviço da vida (cultura). 

 

  1. A dimensão econômica

A economicidade diz respeito ao dinamismo do ser humano pela promoção da sua sobrevivência, à necessidade de dar manutenção a si mesmo, ao cuidado com a busca do próprio alimento e a tudo aquilo que lhe assegura melhores condições de vida e conforto. Portanto, quando se fala de economia não devemos em primeiro lugar pensar na posse de bens materiais e nem em dinheiro.

É necessário, todavia, educar o ser humano para a compreensão de que nem tudo vale na desenfreada corrida pela própria manutenção e conforto. A dimensão econômica está no nosso instinto de sobrevivência. Mas por causa da racionalidade, ela se apresenta muito diferente daquela vivenciada pelos animais.

O processo de educação nos leva a compreender que a justa vivência da economicidade exige o respeita a princípios, normas, valores e limites para preservar a harmonia da “casa” (oikós+nómos), do ambiente onde vivemos. Nem tudo vale em nome da defesa do próprio bem-estar! Por isso a economicidade não se sustenta sem a consciência da alteridade, se não a pessoa cai na idolatria do materialismo, supervalorizando as coisas. A gincana do “vale tudo por dinheiro” é um “jogo duro” que propõe a lei do mais esperto e do mais forte que é a lei da selva. A educação deve estimular a sadia e harmoniosa busca dos bens materiais, o sentido do trabalho, a necessidade da partilha, a experiência da solidariedade, a consciência da dimensão social e da propriedade privada.

 

  1. A dimensão política

A dimensão política se refere à capacidade que o ser humano possui à correta administração dos seus bens e do bem comum! Ele não só busca, produz e usufrui dos bens (dimensão econômica), mas também é dotado da capacidade de gestão que implica o desafio da sua relação com o outro. Isso é natural porque a dimensão social nos lança na vida comunitária.

Aos poucos, ajudados pela educação, aprendemos a estar com os outros, a conviver, a assumir responsabilidades e a liderar gerindo direitos e deveres. Essa experiência começa na família. A educação deve estimular a convicção do que é “nosso” e para a corresponsabilidade com o que é do outro.

Não basta que a pessoa aprenda a relacionar-se, é imprescindível que ela se organize inteligentemente e seja significativa para os outros através do desenvolvimento da sua capacidade de servir, cumprir seus deveres e respeitar direitos alheios. Sem educação política, em seu sentido mais amplo, não cuidamos das coisas alheias, não respeitamos os bens públicos porque não entendemos a estrutura e nem o funcionamento da sociedade.

A educação da dimensão política desperta para a consciência da participação, da ação conjunta, da capacidade de projetar juntos. Uma educação sem a sensibilidade política favorece a promoção de pessoas insensíveis aos bens e problemas sociais. Diante da disseminação da corrupção é urgente a educação para a política. Quando nos líderes sociais falta a visão do bem comum, consequentemente, carecem de sensibilidade ética, por isso caem nas mais variadas e hediondas práticas de corrupção. A educação política é a promoção da liderança justa.  

 

  1. A dimensão moral

A dimensão moral é aquela que leva o ser humano a sentir atração pelo bem, pela bondade, beleza, retidão, justiça, verdade, paz… A paixão pelo bem está dentro do ser humano. Essa paixão quando vivida num contexto específico (na família, na religião, na profissão, na cultura…) chama-se moral, mas quando pensada numa escala universal significa ética. Todos os seres humanos desejam viver, buscam o bem, querem a paz, o bem-estar, a justiça etc. Esses são valores éticos universais.

A educação moral é necessária para que a pessoa possa buscar a harmonia entre a busca do bem pessoal, social e universal. Fora dessa harmonia viverá num contínuo conflito com os outros. Por isso, desde cedo a pessoa precisa ser educada para que se deixe orientar por valores e se comprometa no crescimento das virtudes.

Na dimensão moral está o nosso desejo de felicidade que é um dos mais nobres sentimentos do ser humano. Esse sonho de felicidade, sede de realização, constitui a sua mais profunda busca orientada pela consciência moral, a nossa “bússola interior” que nos adverte para fazer o bem e a evitar o mal.

A educação profunda implica o desenvolvimento da consciência moral, que estimula a pessoa, desde cedo, a reconhecer valores que passam a guiá-la em todas as circunstâncias de sua vida em vista do seu próprio bem e, consequentemente, da promoção do bem comum, porque a leva a fazer escolhas justas e pautadas na corresponsabilidade para com os demais atores sociais. 

 

  1. A dimensão cultural

A culturalidade é aquela capacidade que temos de fazer, fabricar, construir, inventar, de usar criativamente os bens da natureza. E assim se constrói modelos de vida, modos de pensar, padrões de comportamentos conforme as exigências próprias de um determinado contexto.

Nesse cenário cultural se encontra a música, a dança, os costumes, a culinária, a indumentária, as normas sociais, as tradições, o idioma. É através dos valores culturais que identificamos uma etnia, uma cultura, um povo, uma categoria profissional… Os animais irracionais não criam novos hábitos, não tem costumes criativos; só tem instintos! Educar para a cultura significa a promoção do reconhecimento dos elementos peculiares da identidade de um povo que merece acolhida, admiração, respeito.

Hoje com o fenômeno da globalização, a identidade local está ameaçada. Os meios de comunicação importam modelos de vida, comportamentos, ideias, critérios, valores que, muitas vezes, colaboram para a desvalorização das riquezas culturais locais. Por falta da educação cultural podemos cair em diversos males como a xenofobia (o medo do estrangeiro), etnocentrismo (supervalorização da própria cultura desprezando as outras), a intolerância cultural, a alienação, reprodução dos costumes dos outros etc.

 

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Por que a dimensão econômica está no nosso instinto de sobrevivência?
  2. Quais males são consequentes da falta de educação moral em nossa sociedade?
  3. O que a xenofobia e o nacionalismo tem a ver com a educação cultural?

POR Dom ANTÔNIO DE ASSIS RIBEIRO, SDB

Bispo Auxiliar de Belém - PA e Secretário Regional da CNBB Norte 2