por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

Nestes dias de Círio de Nossa Senhora de Nazaré refletimos na liturgia, diversos textos bíblicos marianos que são Palavras de Deus para as nossas vidas, em vista da conversão necessária na família, na comunidade e na sociedade. Maria foi a mulher escolhida por Deus para ser a mãe do Salvador, do Redentor. A ligação entre Jesus e Maria, é muito forte porque Maria leva os pedidos das pessoas ao seu Filho, Jesus Cristo.

O Círio e o texto de São João

O Círio de Nazaré é uma multidão de pessoas que caminha nas ruas para rezar, louvar a Nossa Senhora, o seu Filho Jesus Cristo. É muito bonita a manifestação popular da fé cristã, feita com esperança e com caridade. A liturgia coloca textos relacionados a Maria, para serem refletidos, vivenciados. Um dos textos é o de Jo 2,1-11, na qual fala do vinho que veio a faltar na festa de casamento, o primeiro milagre, sinal de Jesus na transformação da água em vinho e o vinho melhor que chegou ao fim,

A falta do vinho e a súplica de sua mãe a Jesus

Em Caná da Galiléia, naquela festa de matrimônio, estavam presentes Maria, a mãe de Jesus, as pessoas convidadas, Jesus e os seus discípulos. Santo Agostinho afirmou que Jesus veio a este mundo para as núpcias, para a encarnação com a humanidade e redimi-la[1].

Nesta festa veio faltar o vinho.  Sempre atenta às coisas, Maria pediu ao seu Filho para que a festa continuasse da forma melhor, dizendo a Ele que o vinho veio a faltar. Ela fez súplica junto ao Filho Jesus Cristo, o qual este falou para ela de mulher, símbolo da comunidade, como conseqüência da aliança nova que se formou em Jesus Cristo. Santo Agostinho afirmou: “Nosso Senhor Jesus Cristo era, ao mesmo tempo, Deus e homem. Como Deus, não tinha mãe, mas, como homem, a tinha. Ela era mãe da carne, mãe da humanidade, mãe da fraqueza que Ele assumiu por nós”[2]

A hora de Jesus

Jesus disse a Maria que a sua hora ainda não chegou, afirmação esta significando que a sua doação com os outros se fará de uma forma total, em vista da salvação da humanidade. Na realidade a sua hora para acontecer na sua morte e ressurreição será quando Ele nos reconciliará com Deus. O bispo de Hipona disse que a sua hora ainda não chegou, porque “Jesus tinha o poder de escolher quando morreria e via que ainda não era oportuno fazer uso daquele poder”[3]. Em seguida Maria disse aos servos para fazer tudo o que Ele diria. Maria possuía uma confiança em si que o Filho realizaria o grande milagre.

O vinho melhor

O vinho melhor veio ao fim. Jesus é o vinho melhor que dá sabor às coisas e a vida na realidade humana. Este fato significou que Jesus fez bem todas as coisas; Ele as transformou para melhor. Com Jesus as relações humanas tornaram-se amigáveis, pois tanto na sua pregação terrena como o seu sacrifício sobre a cruz Ele fez a amizade com todas as pessoas, dos homens entre si e com Deus. Santo Agostinho afirmou que pelo fato de que o mestre sala ter dito para o noivo que ele reservou o vinho melhor, representou a pessoa do Senhor Jesus, que guardou o bom vinho até aquele momento, isto é a sua palavra de salvação, o seu Evangelho[4].

O primeiro sinal

Sem duvida, João mostrou o primeiro milagre em um contesto de matrimônio pelo fato de que se o casamento é um compromisso entre duas pessoas, homem e mulher, a encarnação do Verbo é o casamento de Deus com a humanidade, realizando-a de uma maneira definitiva na pessoa de Jesus Deus e Homem. Sem Jesus o povo teria um casamento sem o vinho, sem o elemento festivo por excelência que era o vinho. O relato também trouxe presente a prefiguração da nova e eterna aliança de Deus com o povo em Jesus Cristo que será realizada na sua morte gloriosa sobre a cruz e a sua ressurreição. No fim do texto, João colocou um ponto importante afirmando que aquele sinal foi o inicio dos milagres de Jesus.

Sinais joaninos

Este foi o elemento modelo de todos os outros sinais; na realidade os sinais joaninos são ações que manifestaram a glória de Jesus Cristo recebida de Deus-Pai e assim permitia a fé n’Ele enquanto Filho de Deus e Filho do Homem. Os seus discípulos creram em Jesus Cristo, enriquecendo-se das suas coisas. Os sinais que Jesus realizou levavam as pessoas a adesão à sua Pessoa de modo que o Reino de Deus se manifestou em Jesus Cristo.

Este texto refletido no círio de Nazaré, reforce a palavra de Deus, em vista do caminho da conversão. Nós somos convidados a participar do grande acontecimento mariano realizado no Estado do Pará como forma de seguimento a Jesus Cristo, na vivência da fé, esperança e caridade. Maria nos ajude a perceber as necessidades das pessoas, sobretudo as mais necessitadas e leve os nossos pedidos ao seu Filho Jesus Cristo. Em Marabá, tem como tema o círio: Ó Maria, fortalecei a nossa fraternidade, que se realizará nos dias 19 e 20 de Outubro. A palavra de Maria aos que serviam ajude-nos a viver a fraternidade, para assim fazer tudo o que o Senhor disser.

[1] Cfr. Comentários a São João I Evangelho – Homilias 1-49. In: Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 2022, pg. 215.

[2] Idem, pg. 224.

[3] Ibidem, pg. 228.

[4] Ibidem, pg. 233.