por Juce Rocha / Cepast CNBB
“Somos 12 Comissões na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas eu realmente fico impressionado com a Comissão Sociotransformadora. A cada dia descubro uma nova frente de trabalho, uma iniciativa diferente, um novo projeto sendo implantado. Então, sem sombra de dúvidas, eu posso dizer a vocês que é a Comissão mais ampla, mais complexa e mais desafiadora da Igreja do Brasil. Por um lado, isso nos dá a força e a coragem de ter que realmente enfrentar tudo o que isso significa”, destacou o secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers em sua saudação no segundo dia do Seminário das Pastorais Sociais, em Brasília (DF). O evento reúne os bispos referenciais e representantes das pastorais e organismos que integram a Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB).
Dom Ricardo pontuou o agradecimento da presidência da CNBB aos agentes das pastorais sociais pela missão que vivem junto às comunidades e na liderança de ações em defesa de direitos fundamentais, inseridos também nos espaços de atuação cidadã. “Agradecemos a vocês pelo trabalho que realizam nas bases, que é um trabalho imensurável. Sabemos que há um discurso, uma narrativa sendo construída, de que tudo do social é negativo e vocês continuam perseverando. Da nossa parte, estamos sempre preocupados em como poderíamos avançar, como poderíamos apresentar também ao Brasil, nas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja, no processo de evangelização, que isso é parte integrante, é DNA da Igreja, não tem como separar”.
O seminário
“Nós estamos realizando o Seminário das pastorais sociais e organismos do Povo de Deus que é promovido exatamente pela Cepast-CNBB que tem como objetivo, em primeiro lugar, vivenciar e levar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, junto às pessoas empobrecidas, também pautados na Doutrina Social da Igreja (SDI)”, explicou Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo diocesano de Brejo (MA) e presidente da Cepast-CNBB.
“Estar reunidos com todas as pastorais sociais é um momento muito importante para nós porque conseguimos perceber o que cada uma tem feito, conseguimos nos articular e refletir coletivamente, uma vez que juntas somos o braço social da Igreja no Brasil. São as pastorais sociais e os organismos que conseguem estar mais próximos das pessoas mais vulneráveis, e poder estar aqui reunidos nos faz pensar também em como a nossa ação nos aproxima e nos fortalece, enquanto Igreja em saída”, destaca Indi Gouveia, membro da coordenação colegiada da Cáritas Brasileira.
Programação
Os dois dias de Seminário contaram com uma programação que alternou momentos de acolhimento entre as pessoas, formação e encaminhamentos práticos em vista da organização e planejamento das pastorais e organismos. “Compartilhamos nosso compromisso com os pobres fazendo essa caminhada também com os movimentos populares. Neste Seminário nós estamos realizando uma análise de conjuntura social, para olhar exatamente os desafios que nós encontramos na sociedade mas, ao mesmo tempo, para dizer que é importante o papel das pastorais sociais específicas: Pastoral Carcerária, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas Brasileira, Pastoral da Mulher, Pastoral da Pessoa Idosa, Pastoral da Moradia e Favela, Pastoral da Saúde, enfim, são 27 pastorais identificadas com as causas sociais, a partir da perspectiva da Doutrina Social da Igreja”, relata dom Valdeci.
De acordo com o bispo, o Seminário “é um momento de animação, para alimentar o nosso esperançar na luta por um mundo mais justo, mais fraterno. Por isso, retomamos vários temas, por exemplo, o Projeto Popular: O Brasil que queremos, o Bem Viver dos Povos, esse projeto que nós estamos construindo como resultado da 6ª Semana Social Brasileira”, finaliza.
Os participantes do Seminário puderam também participar presencialmente do Ciclo de Reflexões: Jubileu e ecologia integral – implicações socioambientais e pastorais, que aconteceu na sede da CNBB.
Elementos de esperança
Um dos pontos centrais do Seminário foi a análise de conjuntura, que contou com as contribuições de Chico Botelho, secretário adjunto da Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) e Rud Rafael da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e propôs um olhar sobre os arranjos geopolíticos atuais e as oportunidades para saídas sociotransformadoras.
Segundo Botelho, diante de um mundo mergulhado em crises políticas, econômicas e sociais, a profecia que o Papa Francisco nos oferece, expressa-se de maneira extraordinária na Laudato Si e se constitui como um elemento de grande esperança, na medida em que aponta para questões essenciais para a compreensão de saídas justas para a nova organização mundial, com uma crítica profunda ao neoliberalismo. Francisco nos oferece ainda outra porta de saída que é a Fratelli Tutti, “uma crítica profunda à forma como os grupos autoritários estão se posicionando no mundo”, bem como a proposta da Economia de Francisco e Clara que se apresenta como alternativa à economia que mata.
Em sua análise Botelho ainda destacou ainda a carta do Papa Francisco aos bispos americanos. “As propostas de um novo mundo estão muito nas ações e práticas do Papa Francisco, e tem dialogado com uma série de forças no mundo. As resistências estão sendo levantadas”, afirma o secretário adjunto da CBJP.
Entre os sinais de esperança, Rud Rafael também destaca a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) como espaço para discutir justiça climática no Brasil e no mundo. “O debate ambiental permite aos movimentos sociais recuperar a capacidade de pensar sistemas e lutas por moradia e reforma agrária. Chegou a hora de retomar as utopias e a agenda ambiental nos recolocar nesse debate. Popularizar esse debate é fundamental, por isso estamos investindo na Cúpula dos Povos como propulsora do aprofundamento político sobre alternativas articuladas a partir dos territórios e de uma unidade política que nos permita avançar numa agenda comum, conclui.
Dom Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia do Marajó e presidente do Conselho da Pastoral da Terra – CPT, integra a Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB) e esteve presente no encontro.