por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
foto Vatican News
Após alguns dias de descanso, Papa Leão XIV retomou as Audiências Gerais, nesta quarta-feira (30/07), durante o Jubileu dos Jovens, na Praça São Pedro, onde ofereceu reflexões profundas sobre a importância da comunicação e da superação do isolamento em sua catequese jubilar, inspirada na cura do surdo-mudo por Jesus.
Em um mundo marcado pela violência, ódio e sobrecarga de informações, o Papa convidou os presentes à abertura e à cura das palavras. Em sua catequese abordou a necessidade de cura em um mundo permeado por violência e ódio, ressaltando a importância de superar o isolamento e a incomunicabilidade. Inspirado no Evangelho de Marcos, que narra a cura de um surdo-mudo por Jesus, o Papa convidou os fiéis a refletirem sobre a capacidade de ouvir e falar corretamente, não apenas para serem mais eficazes na comunicação, mas também para evitar ferir os outros com as palavras.
O Papa destacou que, assim como o homem do Evangelho, muitas vezes nos fechamos em nosso próprio silêncio por medo de não sermos compreendidos ou por desilusão com o que ouvimos. Ele enfatizou que Jesus, ao levar o surdo-mudo para um lugar à parte, demonstrou a importância da intimidade e da proximidade para superar o isolamento. O gesto de tocar os ouvidos e a língua do homem, seguido da ordem “Abre-te!”, simboliza a necessidade de nos abrirmos ao mundo, às relações e à vida, superando o medo e a renúncia.
Leão XIV ressaltou que a cura da comunicação não se resume a simplesmente voltar a falar, mas a fazê-lo corretamente. Ele explicou que muitas vezes evitamos falar por medo de errar ou de não nos sentirmos adequados. No entanto, o Papa encorajou os fiéis a pedirem a Deus que cure o seu modo de comunicar, para que possam expressar-se de forma honesta e prudente, evitando ferir os outros com as suas palavras.
O Papa lembrou que a verdadeira compreensão de Jesus requer um caminho de entrega e acompanhamento, que passa pela sua Paixão e pela experiência do poder salvífico da sua Cruz. Ele exortou os fiéis a não buscarem atalhos para se tornarem discípulos de Jesus, mas a perseverarem no diálogo, na cooperação e na busca da paz.
Em seu apelo final, o Papa Leão XIV renovou o seu profundo pesar pelo brutal ataque terrorista ocorrido na República Democrática do Congo, onde cristãos foram mortos durante uma vigília de oração. Ele pediu orações pelos feridos e pelos cristãos que sofrem violência e perseguição em todo o mundo, e exortou os responsáveis a nível local e internacional a colaborarem para prevenir tragédias semelhantes.
“Caros irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor que nos ensine a comunicar de maneira honesta e prudente. Oremos por todos aqueles que foram feridos pelas palavras dos outros. Rezemos pela Igreja, a fim de que nunca desista da sua tarefa de levar as pessoas ao encontro de Jesus, para que possam ouvir a sua Palavra, ser curadas por ela e, por sua vez, tornar-se portadoras do seu anúncio de salvação”, disse o Pontífice durante seu discurso,
Leia, na integra, o discurso do Papa Leão XIV abaixo.
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AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro – Quarta-feira, 30 de julho de 2025
Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo Nossa Esperança. II. A vida de Jesus. As curas 12. O surdo-mudo. Profundamente perplexos, diziam: «Tudo o que faz é bem feito: faz os surdos ouvir e os mudos falar» (Mc 7,37)
“Queridos irmãos e irmãs,
com esta catequese, terminamos o nosso itinerário sobre a vida pública de Jesus, feita de encontros, de parábolas e de curas.
Também este tempo que estamos vivendo precisa de cura. O nosso mundo é atravessado por um clima de violência e de ódio que mortifica a dignidade humana. Vivemos numa sociedade que está adoecendo por causa de uma “bulimia” das conexões das redes sociais: estamos hiperconectados, bombardeados por imagens, às vezes até falsas ou distorcidas. Somos inundados por múltiplas mensagens que suscitam em nós uma tempestade de emoções contraditórias.
Neste cenário, é possível que nasça em nós o desejo de desligar tudo. Podemos chegar a preferir não sentir mais nada. Até as nossas palavras correm o risco de serem mal interpretadas e podemos ser tentados a fechar-nos no silêncio, numa incomunicabilidade onde, por mais próximos que estejamos, não conseguimos mais dizer as coisas mais simples e profundas.
A este respeito, gostaria de me deter hoje sobre um texto do Evangelho de Marcos que nos apresenta um homem que não fala e não ouve (cf. Mc 7, 31-37). Tal como poderia acontecer conosco hoje, este homem talvez tenha decidido não falar mais porque não se sentiu compreendido, e desligar todas as vozes porque ficou desiludido e ferido com o que ouviu. De fato, não é ele que vai a Jesus para ser curado, mas é levado por outras pessoas. Poder-se-ia pensar que aqueles que o conduzem ao Mestre são os que estão preocupados com o seu isolamento. A comunidade cristã viu, porém, nessas pessoas também a imagem da Igreja, que acompanha cada homem a Jesus para que ouça a sua palavra. O episódio ocorre num território pagão, portanto estamos num contexto onde outras vozes tendem a cobrir a voz de Deus.
O comportamento de Jesus pode parecer inicialmente estranho, porque pega nesta pessoa e leva-a para um lugar à parte (v. 33a). Parece assim acentuar o seu isolamento, mas, olhando bem, ajuda-nos a compreender o que se esconde por detrás do silêncio e do fechamento deste homem, como se tivesse percebido a sua necessidade de intimidade e de proximidade.
Jesus oferece-lhe, antes de tudo, uma proximidade silenciosa, através de gestos que falam de um encontro profundo: toca os ouvidos e a língua deste homem (cf. v. 33b). Jesus não usa muitas palavras, diz a única coisa que lhe serve neste momento: «Abre-te!» (v. 34). Marcos relata a palavra em aramaico, effatà, quase para nos fazer sentir como “ao vivo” o som e o sopro. Esta palavra, simples e belíssima, contém o convite que Jesus dirige a este homem que deixou de ouvir e de falar. É como se Jesus lhe dissesse: «Abre-te a este mundo que te assusta! Abre-te às relações que te desiludiram! Abre-te à vida que renunciaste a enfrentar!». Fechar-se, de fato, nunca é uma solução.
Depois do encontro com Jesus, aquela pessoa não só volta a falar, mas fá-lo «corretamente» (v. 35). Este advérbio inserido pelo evangelista parece querer dizer-nos algo mais sobre os motivos do seu silêncio. Talvez este homem tenha deixado de falar porque lhe parecia dizer as coisas de modo errado, talvez não se sentisse adequado. Todos nós fazemos a experiência de sermos mal compreendidos e de não nos sentirmos compreendidos. Todos nós precisamos de pedir ao Senhor que cure o nosso modo de comunicar, não só para sermos mais eficazes, mas também para evitar fazer mal aos outros com as nossas palavras.
Voltar a falar corretamente é o início de um caminho, não é ainda o ponto de chegada. Jesus, de fato, proíbe aquele homem de contar o que lhe aconteceu (cf. v. 36). Para conhecer verdadeiramente Jesus, é preciso percorrer um caminho, é preciso estar com Ele e atravessar também a sua Paixão. Quando o tivermos visto humilhado e sofredor, quando experimentarmos a potência salvífica da sua Cruz, então poderemos dizer que o conhecemos verdadeiramente. Para se tornarem discípulos de Jesus, não há atalhos.
Queridos irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor para podermos aprender a comunicar de modo honesto e prudente. Rezemos por todos aqueles que foram feridos pelas palavras dos outros. Rezemos pela Igreja, para que nunca falte ao seu dever de levar as pessoas a Jesus, para que possam ouvir a sua Palavra, serem curadas e tornarem-se, por sua vez, portadoras do seu anúncio de salvação.
Saudações
Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa, em particular os jovens que participam do Jubileu, e desejo que estes dias jubilares possam transmitir ao mundo uma mensagem de esperança, de paz e de amor. Que Deus vos abençoe!
I extend a warm welcome to the English-speaking pilgrims and visitors taking part in today’s Audience, especially those coming from England, Scotland, Ireland, Sweden, South Africa, New Zealand, Hong Kong, India, Japan, Malaysia, South Korea, the United Arab Emirates, Canada, and the United States of America. In greeting with particular affection all the young people present today who are participating in the Jubilee of Youth, I encourage you to open your hearts to God’s healing love, so that you can become even brighter beacons of hope in the world. God bless you all!
Estendo um caloroso boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua inglesa que participam da Audiência de hoje, especialmente aqueles vindos da Inglaterra, Escócia, Irlanda, Suécia, África do Sul, Nova Zelândia, Hong Kong, Índia, Japão, Malásia, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Canadá e Estados Unidos da América. Ao saudar com particular afeto todos os jovens presentes hoje que participam do Jubileu da Juventude, encorajo-vos a abrir os vossos corações ao amor curador de Deus, para que vos possais tornar faróis ainda mais brilhantes de esperança no mundo. Que Deus vos abençoe!
Herzlich grüße ich die Pilger deutscher Sprache, insbesondere die zahlreichen jungen Menschen, die anlässlich ihrer Heilig-Jahr-Feier nach Rom gekommen sind. Die Erfahrung der Gemeinschaft dieser Tage erinnert euch daran: Wer glaubt, ist nie allein. Seid immer freudige Zeugen dieses Glaubens an Christus!
Saúdo cordialmente os peregrinos de língua alemã, em particular os numerosos jovens presentes por ocasião do seu Jubileu. A experiência de comunhão destes dias recorda-vos que quem acredita nunca está sozinho. Sejam sempre testemunhas alegres desta fé em Cristo!
Saludo cordialmente a los peregrinos de lengua española, en particular a los numerosos grupos de jóvenes aquí reunidos para el Jubileo de los Jóvenes. Pidamos hoy de manera especial por la Iglesia, para que nunca deje de llevar a las personas al encuentro con el Señor, para que escuchen su Palabra, curen sus heridas y sean asimismo mensajeras de la Buena Noticia. Que Dios los bendiga. Muchas gracias.
Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola, em particular os numerosos grupos de jovens aqui reunidos para o Jubileu dos Jovens. Peçamos hoje de maneira especial pela Igreja, para que nunca deixe de levar as pessoas ao encontro com o Senhor, para que escutem a sua Palavra, curem as suas feridas e sejam também mensageiras da Boa Nova. Que Deus os abençoe. Muito obrigado.
我向讲中文的人们致以亲切的问候。亲爱的弟兄姐妹们,愿天主将祂恩宠的宝藏倾注在你们及你们所爱的人身上。我降福大家!
[Saúdo cordialmente as pessoas de língua chinesa. Queridos irmãos e irmãs, que o Senhor derrame sobre todos vocês e sobre as pessoas queridas os tesouros da sua graça. A todos a minha bênção!]
Saúdo cordialmente os peregrinos de língua portuguesa, de modo especial todos os jovens vindos a Roma dos diversos países lusófonos para o seu jubileu. Aproveitai esta experiência para levar os vossos amigos a Jesus, a fim de que o encontrem, escutem a sua palavra e o amem. Deus vos abençoe!
[Saúdo cordialmente os peregrinos de língua portuguesa, de modo especial todos os jovens vindos a Roma dos diversos países lusófonos para o seu jubileu. Aproveitem esta experiência para levar os vossos amigos a Jesus, para que possam encontrá-lo, escutar a sua palavra e amá-lo. Deus vos abençoe! [Deus vos abençoe!]
أُحيِّي المُؤمِنِينَ النَّاطِقِينَ باللُغَةِ العَرَبِيَّة، ولا سيِّما الشَّبِيبةَ القادِمَةَ مِن مُختَلَفِ البلادِ العربيَّة. أدعوكُم إلى أنْ تَفتَحوا قلوبَكُم لِيَسوع، وتُصغُوا إلى
كَلِمَتِهِ بِثِقَةٍ ورَجاء، لأنَّه هو الطَّرِيقُ وَالحَقُّ وَالحَياة. بارَكَكُم الرَّبُّ جَميعًا وَحَماكُم دائِمًا مِن كلِّ شَرّ!
Saúdo os fiéis de língua árabe, em particular os jovens provenientes de diversos países árabes. Convido-vos a abrir os vossos corações a Jesus e a escutar a Sua palavra com confiança e esperança, porque Ele é o caminho, a verdade e a vida. O Senhor vos abençoe a todos e vos proteja sempre de todo o mal!
Serdecznie pozdrawiam Polaków, szczególnie tych, którzy przybyli do Rzymu z Polski i z innych krajów, na Jubileusz Młodzieży. Niech to spotkanie z Jezusem w braterskiej komunii, umocni waszą wiarę i nadzieję, napełni serca pokojem i zjednoczy was w Jego miłości. Przyjmijcie od Chrystusa te dary i dzielcie się nimi z rówieśnikami i rodakami w waszej Ojczyźnie. Z serca wam błogosławię!
Saúdo cordialmente os poloneses, em particular aqueles que vieram a Roma da Polônia e de outros países para o Jubileu dos Jovens. Que este encontro com Jesus em fraterna comunhão fortaleça a vossa fé e esperança, encha os vossos corações de paz e vos una no Seu amor. Acolhei de Cristo estes dons e partilhai-os com os vossos coetâneos e com os vossos compatriotas na vossa Pátria. Abençoo-vos de coração!
APELOS
Renovo a minha profunda dor pelo brutal ataque terrorista ocorrido na noite entre 26 e 27 de julho passados em Komanda, na parte oriental da República Democrática do Congo, onde mais de quarenta cristãos foram mortos na igreja durante uma vigília de oração e nas próprias casas. Enquanto confio as vítimas ao amoroso Misericórdia de Deus, rezo pelos feridos e pelos cristãos que no mundo continuam a sofrer violência e perseguição, exortando quantos têm responsabilidades a nível local e internacional a colaborar para prevenir semelhantes tragédias.
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No dia 1º de agosto, ocorrerá o 50º aniversário da assinatura da Ata Final de Helsinque. Animados pelo desejo de garantir a segurança no contexto da guerra fria, 35 países inauguraram uma nova estação geopolítica, favorecendo uma reaproximação entre Leste e Oeste. Aquele evento marcou também um renovado interesse pelos direitos humanos, com particular atenção à liberdade religiosa considerada como um dos fundamentos da então nascente arquitetura de cooperação de «Vancouver a Vladivostok». A participação ativa da Santa Sé na Conferência de Helsinque – representada pelo Arcebispo Agostino Casaroli – contribuiu para favorecer o compromisso político e moral para a paz. Hoje, mais do que nunca, é indispensável guardar o espírito de Helsinque: perseverar no diálogo, fortalecer a cooperação e fazer da diplomacia a via privilegiada para prevenir e resolver os conflitos.
Resumo da catequese do Santo Padre:
Concluímos com esta catequese o nosso itinerário sobre a vida pública de Jesus. No evangelho encontramos um homem que não fala e não escuta e, portanto, vive isolado da sociedade. A iniciativa de ir ao encontro de Jesus não parte dele, mas de amigos que se preocupam com ele. A comunidade cristã viu nesses amigos uma imagem da Igreja, que acompanha cada pessoa a Jesus, a fim de que escute as suas palavras de vida eterna. Jesus toca os seus ouvidos e a sua língua e diz simplesmente uma palavra: Effathá, que quer dizer “Abre-te”. Significa não só tornar-se capaz de falar e escutar, mas sair do isolamento, abrir-se ao mundo que o rodeia e, sobretudo, à boa nova da salvação”.
https://www.youtube.com/watch?v=Bdgfr3viDKI