por Dom Antonio de Assis Ribeiro
nomeado Bispo da Diocese de Macapá

Na noite do dia 24 de dezembro o Papa Francisco oficializou a abertura do ano Santo ordinário de 2025. O rito foi muito simples que basicamente consistiu na abertura de uma porta da Basílica de São Pedro, chamada porta Santa, porque só se abre quando é proclamado um ano jubilar. A celebração do Ano jubilar 2025 vai até o dia 06 de janeiro de 2026. Para entendermos melhor o sentido do ano santo, ou ano jubilar, é necessário recorrermos à Sagrada Escritura.

As raízes do ano jubilar estão no antigo judaísmo. A palavra jubileu, vem do hebraico yovel, que era um instrumento sonoro feito de chifre de carneiros que servia para convocar o povo para as assembleias e outros importantes eventos comunitários. O yovel, poderia se traduzir como trombeta e que tem um uso muito comum na bíblia, sobretudo no Antigo Testamento.

O toque da trombeta, que hoje se poderia comparar ao toque dos sinos ou das sirenes, significava para o povo um sinal de advertência, uma chamada de atenção, uma convocação urgente, um anúncio de alegria, de vitória ou de perigo. Nenhum fiel deveria ficar indiferente ao toque da trombeta.

Os profetas que sempre estavam atentos aos acontecimentos da história advertiam o povo o perigo da dispersão e não serem capazes de perceber os alertas comunicando a necessidade de uma nova atitude. Por isso o profeta Isaias advertia o povo dizendo: “quando tocar a trombeta, escutem-na” (Is 18,3); era a mesma advertência do profeta Jeremias: “prestem atenção quando a trombeta tocar!» (Jr 6,17); também o profeta Ezequiel tinha a mesma preocupação para com os distraídos e dizia: “Se alguém ouve a trombeta e não fica de prontidão, a espada virá e o apanhará. E ele será responsável pelo seu próprio sangue, porque ouviu o toque da trombeta, mas não se preveniu, e terá que responder com seu próprio sangue” (Ez 33,3-5). O toque da trombeta deveria ser ouvido com atenção para ser interpretado e seguido.

Extraordinária atenção deveria ser dada ao toque da trombeta de anúncio do ano jubilar. Não se tratava simplesmente de um novo evento que estaria para começar, mas era o sinal que marcava o tempo de um profundo compromisso de renovação interior, de melhoria da qualidade das relações interpessoais, de revisão de vida, reflexão, arrependimento dos males praticados, perdão de dívidas, prática da misericórdia, compromisso de recomeçar tudo conforme a vontade de Deus. É isso que vamos encontrar, sobretudo, no capítulo 25 do livro do Levítico.

O ano jubilar era celebrado a cada 50 anos (cf. Lv 25,8-17). Era considerado um tempo sagrado; período de voltar-se para Deus, para os irmãos e de respeitar o ritmo da natureza; era época de experiência da gratuidade de Deus e de reconciliação com os irmãos, perdoando atos de violência e toda forma de injustiça. O jubileu era uma ocasião de crescimento e discernimento da vontade de Deus, portanto, oportunidade de crescimento na santidade que implicava a prática da justiça e da fraternidade.

O jubileu proclamava o compromisso de séria reorganização da justiça social, de restauração do Bem Comum e da harmonia da sociedade eliminando barreiras e distâncias entre todos os cidadãos. Por isso, os beneficiários do ano jubilar eram todos, e especial atenção era renovada para com os migrantes, escravos, estrangeiros, hóspedes, pobres, viúvas (cf. Lv 25,35).

Dessa forma o jubileu era um tempo de conversão; para isso era necessário avaliar a qualidade da vida das famílias, das comunidades; era tempo de compromisso de mudança de vida; de abandono de todas as formas de escravidão, opressão, injustiça, indiferença (cf. Lv 25,44). Era um significativo tempo de relançamento da vida fraterna. (continua).