
por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Em uma das demonstrações mais íntimas de sua proximidade com o sofrimento humano, o Papa Leão XIV dedicou sua atenção pessoal a um leitor da revista Piazza San Pietro, oferecendo palavras de esperança a um pai que carrega a dor da perda de um filho há dezoito anos.
Francesco, pai de quatro filhos, escreveu ao Santo Padre em busca de conforto e oração pela memória de Domenico Maria, falecido aos 13 anos por uma doença súbita e fulminante. A carta, descrita como uma súplica “digna e carregada de fé”, pedia que Deus acolhesse o jovem capitão de seu time de futebol no Reino dos Céus.
A resposta do Pontífice, publicada no número de outubro da revista editada pelo Padre Enzo Fortunato, transcende a pastoral protocolar. O Papa afirmou a esperança de que Domenico Maria esteja no Céu e incentivou a família a “Rezar por ele. Rezar com ele”, sublinhando um princípio central da fé cristã: a comunhão que a morte não pode quebrar.
O Símbolo do Capitão
O Papa Leão XIV transformou o amor do menino pelo esporte em uma poderosa metáfora teológica. O esporte autêntico, que Domenico Maria amava, “cria laços, e une para sempre”. Assim, o pequeno capitão se torna símbolo de uma “equipe maior: a da vida eterna”, reforçando a ideia de que a conexão com o Senhor permanece inquebrável.
Mais do que um consolo espiritual, a mensagem do Santo Padre foi um reconhecimento da força do exemplo familiar. Dirigindo-se diretamente ao sofrimento de Francesco, o Papa declarou: “A vossa vida, unida à de Domenico Maria, é um grande exemplo para todos os papás e mamães que não conseguem se levantar do imenso dor da perda de um filho.”
A Luz Contra o Vazio
A resposta papal solidifica uma visão teológica clara: a vida iniciada no Batismo não tem um fim definitivo. Em uma afirmação que ecoa o editorial do Padre Fortunato, “A luz que vence a noite da dor”, o Papa Leão XIV assegura que, para os cristãos, “a morte não tem nunca a última palavra”.
Em um contexto onde a revista dedicava sua edição aos pobres e à fraternidade como resposta às divisões mundiais, a carta do Papa serve como um lembrete de que a maior pobreza é a ausência de esperança, e a maior riqueza é a certeza da vida eterna. O Santo Padre encerrou sua bênção pessoal garantindo orações por Domenico Maria e por todos os jovens que partiram cedo demais, para que não permaneçam no silêncio, mas sim na luz.
Leia abaixo a tradução para o português, na integra, a carta para Papa Leão XIV e a sua resposta ao pai.

DIÁLOGO COM LEITORES
LEÃO XIV RESPONDE CARTA DE UM PAI
PERDEMOS UM FILHO DE 13 ANOS…
“Santíssimo Padre,
Agradeço a constante disponibilidade demonstrada a todo o povo de Deus. Escrevo-lhe esta carta para pedir que abençoe fortemente a minha família, composta por mim, minha esposa e outros três filhos vivos, pois o nosso primeiro filho Domenico Maria – agora no Céu – nos deixou com a tenra idade de 13 anos incompletos.
Cerca de dezoito anos se passaram desde que ele partiu, devido a uma doença súbita e fulminante, mas parece que foi ontem. Ele era um rapaz de promissoras esperanças, tanto na escola quanto no futebol que praticava quando criança. Com a sua morte, os seus colegas de equipa, mas também muitos outros amigos, quiseram alinhar-se no campo de jogo, onde o tinham eleito “Capitão”.
Santidade, esta minha carta quer ser apenas um pensamento, além de uma recordação para o nosso filho, para que Deus, na Sua infinita bondade e misericórdia de Pai, o acolha “no reino dos céus”, um “anjo” para todos nós queridos que ficamos na terra, que confiamos na Sua intercessão para obter os benefícios que sempre esperamos.
Um caríssimo abraço a Vós, Santidade, com o desejo de que reze por todos nós da família e pelo nosso querido “anjo” Domenico Maria.
Com deferente respeito
Francesco
04 DE OUTUBRO”

JUNTO COM DOMENICO MARIA, SEJAM SEMPRE TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO E DA LUZ DE CRISTO
“Caro Francesco,
É nossa esperança que Domenico Maria esteja no Céu com Jesus e Nossa Senhora e interceda por sua família. Rezem por ele. Rezem com ele. A oração autêntica, como o esporte autêntico, praticada em conjunto, cria laços e une para sempre, como uniu Domenico Maria com todos os da sua “equipe” de uma amizade verdadeira, com laços que vão muito além da morte.
O importante é permanecer sempre conectado ao Senhor, atravessando a dor maior com a ajuda da Sua Graça, que chega sempre – tenham certeza -, mesmo nos momentos mais escuros.
A sua carta, Francesco, testemunha a sua fé em Cristo, a sua confiança na ressurreição. E a sua vida, juntamente com a da sua família, que permanece unida a Domenico Maria, é um grande exemplo para todos os pais, para todos os pais e mães que não conseguem se reerguer desta dor imensa da perda de um filho. Espero que possam compartilhar tudo isso na Comunidade paroquial que frequentam.
O nosso horizonte está sempre iluminado pelo amor de Deus, com quem caminhamos juntos. Tudo isso começa com o nosso Batismo e nunca terá fim. O Batismo introduz na comunhão com Cristo e dá a vida verdadeira, comprometendo-nos a renunciar a uma cultura da morte muito presente na nossa sociedade. Mas a morte nunca tem a última palavra! A última palavra, que nos abre as portas da eternidade e para a alegria que dura para sempre, é a ressurreição, que não conhece o desânimo e a dor que nos aprisiona na dificuldade extrema de não encontrar um sentido para a nossa existência.
Com a luz de Cristo, morto e ressuscitado, que salva, luz que nos comprometemos a manter acesa alimentando-a com a Palavra e a Comunhão assídua, também Vós sois o sal da terra. “A Igreja – como disse aos catecúmenos franceses que encontrei no dia 29 de julho passado – precisa do vosso belo testemunho de fé para crescer cada vez mais e estar perto de cada pessoa necessitada”.
Abençoo-vos e rezo por Vós com todo o coração. E asseguro orações de sufrágio por Domenico Maria e por todos os rapazes e jovens que morreram prematuramente.
Leo PP. XIV
05 DE OUTUBRO”