por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar de Arquidiocese de Belém

Nas diversas cartas de São Paulo encontramos uma grande sensibilidade para com o tema da oração. A referência à oração faz parte da introdução da maioria das suas cartas. Podemos dizer que Paulo escreve às comunidades e aos seus colaboradores, em espírito de oração como podemos perceber em alguns exemplos.

No início da carta aos Romanos, Paulo, além de dizer que sempre os recorda, pede em oração a ocasião para visitá-los. Dessa forma o Apóstolo nos revela que suas intenções pastorais passavam pela oração. No início da segunda Carta aos Coríntios, recordando as grandes tribulações pelas quais passou, pede aos fiéis que continuem oração por sua libertação. A graça da oração contribui para a realização de boas ideias, intenções e bons projetos (cf. 2Cor 1,10-11).

No início da Carta aos Efésios Paulo manifesta a sua prece de ação de graças a Deus pelo crescimento do amor daquela comunidade e também pede a Deus que conceda aos Efésios o espírito de sabedoria, que lhes ilumine com os olhos da mente para que compreendam a Esperança para a qual foram chamados (cf. Ef 1,16-18). Paulo nos estimula a pensar que o processo de compreensão das exigências da fé, passa não só pela razão, mas também pela experiência da oração porque é Dom de Deus. A compreensão das exigências da fé é dom de Deus.

No início da primeira carta a Timóteo, Paulo recomenda que “façam pedidos de orações súplicas e Ação de graças em favor de todos os homens, pelos reis e por todos os que têm autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda a piedade e dignidade. Isso é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador. Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,1-4).  Paulo também rezava, noite e dia, por seus amigos e colaboradores como Timóteo (cf. 2Tm 1,3) e Filêmon (cf. Fm 1,4). Paulo nos educa a orar incessantemente pelos nossos colaboradores e benfeitores.

  1. A sustentabilidade da vida pastoral através da oração

No início da carta aos Filipenses, com espírito de alegria, Paulo revela-lhes que reza por eles para que possam cooperar no anúncio do Evangelho convictos de que Deus, que começou esse trabalho, vai continuar (cf. Fl 1,4; 1Ts 1,2). O fortalecimento dos colaboradores no processo de evangelização é fruto da oração. Rezamos pelo anúncio do evangelho porque Deus continua com a sua obra e cada evangelizador ou missionário é colaborador de Deus. A oração dos fiéis contribui para a sustentabilidade espiritual e moral dos evangelizadores (cf. Fl 1,19-20).

Paulo estimula a perseverante oração da comunidade pela luta da evangelização para que os evangelizadores superem as dificuldades e toda espécie de tribulação (cf. Rm 12,12; 15,31). A comunidade dos fiéis não deve ser uma passiva receptora de benefícios religiosos e espirituais que brota do suor dos missionários, mas deve ser sensibilizada a contribuir com a missão através da oração para que Deus assegure a efetividade e a eficácia da evangelização (cf. Ef 6,19; 2Ts 3,2; Hb 13,18).

Na segunda Carta aos Tessalonicenses o apóstolo dos pagãos escreve “irmãos, rezem por nós, a fim de que a palavra do Senhor se espalhe rapidamente e seja bem recebida, como acontece entre vocês. Rezem também para que Deus nos livre dos homens ímpios e maus, porque nem todos têm fé” (2Tss 3,1-2). A oração ajuda a expansão da Palavra de Deus de modo mais rápido. De Deus depende a acolhida da sua palavra e bem como a sua fecundidade no coração daqueles que a acolhem. A oração também contribui para que aqueles que não tem fé e vivem mal, não se tornem obstáculos para os evangelizadores.

  1. A necessidade da perseverança na oração

Em diversos escritos, convicto da importância da oração, São Paulo estimula a comunidade dos fiéis à experiência da perseverança na oração: a oração contribui para a perseverança vocacional e vida de equilíbrio, serenidade e temperança (cf. 1Cor 7,5). No final da Carta aos Efésio Paulo insiste: “Rezem incessantemente no Espírito, com orações e súplicas de todo tipo, e façam vigílias, intercedendo, sem cansaço, por todos os cristãos. Rezem também por mim: que a Palavra seja colocada na minha boca, para anunciar ousadamente o mistério do Evangelho, do qual sou embaixador aprisionado. Que eu possa anunciá-lo com ousadia, como é meu dever” (Ef 6,18-20).

O mesmo pedido de perseverança na oração faz ao final da segunda carta aos Tessalonicenses colocando a oração no meio de outras recomendações, como se quisesse dizer que não basta o esforço pela oração, mas também pela vida fraterna: “Vivam em paz entre vocês. Por favor, irmãos: corrijam os que não fazem nada, encorajem os tímidos, sustentem os fracos e sejam pacientes com todos. Cuidem que ninguém retribua o mal com o mal, mas procurem sempre o bem uns dos outros e de todos. Estejam sempre alegres, rezem sem cessar” (2Ts 5,13-18).

  1. Evitar o sentimentalismo

Por fim, merece dar atenção à linda relação que Paulo faz entre a oração e a inteligência. Ele afirma, com outras palavras, que a oração não é uma experiência que se opõe à racionalidade, por exemplo, falar em línguas: “aquele que fala em línguas deve rezar para que ele mesmo possa interpretá-las. Se rezo em línguas, o meu espírito está em oração, mas a minha inteligência não colhe fruto nenhum. O que fazer então? Rezarei com meu espírito, mas rezarei também com a minha inteligência; cantarei com o meu espírito, mas cantarei também com a minha inteligência. De fato, se é apenas com o seu espírito que você bendiz, como poderá o ouvinte não iniciado dizer «Amém» ao agradecimento que você faz, uma vez que ele não sabe o que você está dizendo? A ação de graças que você faz é sem dúvida valiosa, mas o outro não se edifica” (1Cor 14,13-18).

A oração é um ato humano, aberto às inspirações divinas e, por isso pressupõe a contribuição da consciência e da inteligência do orante. De fato, a oração concorre para a obediência a Jesus e, por isso, há a necessidade da inteligência (cf. 2Cor 10,5). Concluindo, não é admissível uma oração irracional e desobediente. Por isso, quando a oração descamba para um dinamismo puramente sentimental, nega a totalidade do ser humano que busca a santidade (cf. 1Tss 5,23). A oração, na sua autenticidade de expressão, está em prol da promoção do homem novo, a santidade, que requer a transformação espiritual da inteligência (cf. Ef 4,23,24).

  1. A oração nas cartas católicas

Também nas cartas chamadas católicas (universais), Tiago, Judas, I e II Pedro, I, II e III João, o tema da oração está intensamente presente. Na carta de São Tiago a oração é considerada uma força portadora de diversos efeitos para quem está sofrendo e doente: “Alguém de vocês está sofrendo? Reze. Está alegre? Cante. Alguém de vocês está doente? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que rezem por ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé salvará o doente: o Senhor o levantará e, se ele tiver pecados, será perdoado… rezem uns pelos outros, para serem curados. A oração do justo, feita com insistência, tem muita força” (Tg 5,12-16).
Citando um episódio do profeta Elias, nos diz que a oração tem poder sobre o dinamismo da natureza: “Elias era homem fraco como nós. No entanto, ele rezou bastante para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Depois ele rezou de novo, e o céu mandou chuva, e a terra produziu seu fruto” (Tg 5,17-18). A força da oração vem do Espírito Santo (cf. Jd 1,20), fonte de todos os dons e a chuva é dom de Deus.

Na primeira carta de São Pedro a oração tem um vínculo com a qualidade do relacionamento com os outros, sobretudo com os mais frágeis (cf. 1Pd 3,7) e a oração tem uma estreita relação com a virtude da sobriedade. Quem não é sóbrio não tem condições para se dedicar a oração (cf. 1Pd 4,7).

Na sua primeira carta, São João afirma: “dirigimo-nos a Deus com a confiança de que, se pedimos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos escutará. E se sabemos que nos escuta quando lhe pedimos, sabemos que contamos com o que pedimos” (1Jo 5,14-15). É uma afirmação confortadora. Enfim, o apóstolo nos sugere que se encontrarmos um irmão cometendo um pecado que não é mortal, que rezemos por ele, para que Deus lhe conceda a vida (cf. 1Jo 5,16). Isso significa que a experiência da oração contribui para conversão das pessoas.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Qual ideia sobre a oração nessas Epístolas apostólicas mais lhe chamou atenção?
  2. Por que a experiência da oração é compromisso de vida fraterna?
  3. Qual relação existe entre fé, inteligência (racionalidade) e oração? Há conflitos?