por Dom Paulo Andreolli, SX
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém
Caríssimos leitores, estamos iniciando o mês de agosto e com ele trazemos como temática da Igreja do Brasil a dimensão vocacional. Para esta primeira semana vamos refletir sobre a chamada à santidade e a dimensão da missionariedade, a qual todos somos convocados como cristãos. Nesta oportunidade colabora comigo o missionário Xaveriano, Padre René Casillas Barba, SX.
A passagem de Lucas 12, 13-21 deste 18º Domingo do Tempo Comum não apenas nos convida a refletir sobre a vocação à santidade e o desapego material, mas também nos desafia a considerar a “nossa missão” no mundo. A missão é um aspecto fundamental da vida cristã, que se entrelaça com a busca pela verdadeira riqueza espiritual.
O homem da parábola, ao decidir acumular bens e construir celeiros maiores, representa a “cegueira espiritual” que Jesus critica. A advertência, “louco”, destaca a fragilidade da segurança que os bens materiais podem oferecer. A vida é efêmera, e a verdadeira riqueza não está no que acumulamos, mas na nossa relação com Deus e com os outros.
A santidade, conforme apresentada nesta passagem, não é apenas uma questão de evitar o apego às riquezas, mas de cultivar uma “vida de generosidade” e “solidariedade”. O discípulo é chamado a viver em comunhão, partilhando o que tem e confiando na Providência Divina. Essa mudança de perspectiva é fundamental para entender que a vida plena se encontra na “relação com Deus” e no amor ao próximo.
O desapego material não deve ser visto como uma forma de negligência, mas como uma “liberdade” que nos permite viver com gratidão e generosidade. Ao administrar nossos bens para o bem comum, estamos não apenas cumprindo um chamado, mas também construindo um tesouro eterno em Deus. Essa prática de partilha e serviço é o que realmente enriquece nossas vidas e nos aproxima da santidade.
A mensagem de Lucas 12, 13-21 nos desafia a reavaliar nossas prioridades e a buscar a verdadeira riqueza que vem da fé, da justiça e do amor. Em vez de nos apegarmos a tesouros perecíveis, somos convidados a investir em relacionamentos, em atos de benevolência e em um estilo de vida que reflete a generosidade de Deus.
A missão, então, se torna uma extensão natural dessa reflexão. Cada cristão é chamado a ser um “agente de transformação” no mundo, utilizando seus talentos e recursos para promover a justiça, a paz e a solidariedade. A verdadeira missão não é apenas sobre pregar ou ensinar, mas sobre viver de maneira que reflita o amor de Deus em ações concretas.
Através da partilha, do serviço e da generosidade, podemos ser luz para os outros, mostrando que a verdadeira riqueza está em viver para os outros e em construir um mundo mais justo. A missão nos convida a sair de nós mesmos, a nos desapegar do egoísmo e a nos comprometer com a construção do Reino de Deus aqui na Terra.
A Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate” (n.19 e 20), do Papa Francisco, sobre a chamada à santidade no mundo atual, já nos lembrava:
“Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque ‘esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação’ (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho. Esta missão tem o seu sentido pleno em Cristo e só se compreende a partir d’Ele. No fundo, a santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspectos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor”.
Essa reflexão nos leva a considerar como podemos viver de maneira mais intencional, usando nossos talentos e recursos para o bem dos outros e para a construção de um mundo mais justo e solidário. A santidade é, portanto, um chamado universal que se manifesta na simplicidade, humildade e serviço ao próximo. Sigamos com esperança nos caminhos de uma vida de santidade na e pela missão.