por Dom Pedro Jose Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Certo dia a discussão entre as sementes de uma árvore tornou-se mais acalorada. Era natural pois colocava-se uma questão fundamental a todas: O que devo fazer? Os frutos estavam maduros e as sementes tinham que decidir do próprio futuro. Uma semente dizia: – Daqui não saio, estou tão bem aqui. Uma outra rebatia: – Mas não percebes que se não saíres daqui e não caíres na terra, nunca serás uma árvore? Por fim tomaram a decisão de se deixar cair por terra, perto da árvore a que pertenciam. Porém uma daquelas sementes recusou-se. Não aceitou cair no mesmo lugar. E dizia para si: – Por que deveria cair aqui onde o sabor do fruto ao qual pertenço já é conhecido? Prefiro cair num lugar onde o sabor não é conhecido; assim serei uma grande novidade. Assim pensando, esperou uma forte rajada de vento e lançou-se no ar, indo para além dos limites de onde nascera.
No evangelho de Lucas do Terceiro Domingo de Advento encontramos João, chamado “o Batista” porque batizava as pessoas nas águas do rio Jordão. O batismo de João era um gesto de conversão e penitência. As multidões o procuravam e perguntavam: – O que devemos fazer? (Lc 3,10). O Batista tinha uma resposta para todos e para alguns grupos específicos. Ao povo em geral ele pedia que praticassem a partilha do necessário para todos: comida e roupa. Aos cobradores de impostos pedia que praticassem a justiça não cobrando mais do que o estabelecido. Enfim, aos soldados pedia que não aproveitassem da força da armas para extorquir dinheiro e que não espalhassem o medo com falsas acusações. Era um tempo de grande expectativa e vendo toda aquela mobilização o próprio povo se perguntava se João não fosse ele mesmo o messias tão aguardado. O Batista responde claramente que não era ele o messias. Explica que o batismo dele era de purificação e que devia chegar outro “mais forte” do que ele que batizaria “no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,16). Com muita humildade João, o Batista, reconhece não ser digno nem de servir aquele que estava para chegar.
O evangelista Lucas aproxima bastante a pregação do Batista aos ensinamentos de Jesus e diz que o precursor “anunciava de muitos modos a Boa-Nova ao povo” (Lc 3,18). No entanto, não pude silenciar as diferenças entre os dois. Com efeito, João, o Batista, convida a todos a mudar de vida, mas, falando daquele que virá, o apresenta como alguém que julgará; ele separará o trigo da palha que será inexoravelmente queimada. Este era o pensamento de João. Segundo ele e os seus seguidores, o messias esperado devia ser aquele juiz que puniria os errados e premiaria os justos. Mais tarde, Jesus usará palavras duras para desmascarar toda falta de amor ao próximo e denunciar a hipocrisia de certas pessoas aparentemente muito religiosas. Ele, porém, anunciou, em primeiro lugar, a misericórdia do Divino Pai e a possibilidade de resgate e de vida nova para os pecadores. Por isso foi difícil acolher Jesus porque foi um messias diferente daquele que estavam esperando: em lugar do poder e do castigo, o escândalo da cruz e o perdão.
Ainda hoje muitos bons cristãos acham que a própria Igreja deveria ser menos tolerante e mais rigorosa, voltar a usar a ameaça da excomunhão e do inferno. Isso já aconteceu no passado, mas não foi este o caminho que Jesus escolheu e praticou em sua vida terrena. Então hoje vale tudo? Não, os pecados são sempre os mesmos, denunciá-los e corrigi-los é obrigação de todos. Mas antes precisamos começar conosco mesmo e apontar novos caminhos com o nosso exemplo e o nosso compromisso. Depois devemos usar sempre do remédio da misericórdia porque a bondade e a aproximação fraterna conquistam mais que o desprezo e o afastamento. A chegada do Natal é sempre uma boa oportunidade para a reconciliação entre os irmãos que pararam de se falar, entre os grupos que se olham com raiva e desgosto. O amor é sempre novo e renova as nossas vidas. Peçamos, sem medo, uma rajada poderosa do vento do Divino Espírito Santo, para ir mais longe com o bem, como aquela semente que não queria repetir sempre o mesmo.