por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

O evangelista São Lucas pelo outro seu livro, os Atos dos Apóstolos (cfr. At 1,9-11) descreveu a Ascensão do Senhor Jesus, quarenta dias após a sua ressurreição no Monte das Oliveiras (cfr. At 1,3,12). A Igreja dos primeiros séculos pela celebração da Páscoa do Senhor, tendo presente todo um conjunto no Senhor Jesus, de sua paixão, morte, ressurreição e glorificação, não conheceu ainda como uma festa específica da Ascensão do Senhor como nos relatou a Carta de Barnabé: “Eis por que celebramos como festa alegre o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus”[1].

Festa específica

Sendo a volta de Jesus ao Pai, a fixação da festa da Ascensão do Senhor como solenidade em toda a Igreja seja no Oriente como no Ocidente foi no século IV. No Oriente temos as primeiras testemunhas que mereceram a atenção como as Constituições Apostólicas que aludiram ao final do século IV, pelos meados de 380, no quadragésimo dia, após a Páscoa a primeira celebração da Ascensão do Senhor[2]. Esta era já uma festa específica, distinta, enquanto Pentecostes tornou-se a festa do Espírito Santo[3].

Jesus subiu ao céu

Santo Agostinho, Bispo de Hipona nos séculos IV e V afirmou pela festa da Ascensão do Senhor que Jesus subiu ao céu de modo que também suba com Ele o coração humano, a vida humana. Ele tinha como base a afirmação de São Paulo que “Se nós ressuscitamos com Jesus, somos chamados ao esforço para alcançar as coisas do alto, onde está Jesus Cristo sentado à direita de Deus de modo que somos chamados a aspirar as coisas celestes e não tanto as coisas terrestres” (cfr.Cl 3,1-2)[4].

Cristo foi elevado no mais alto do céu

Santo Agostinho dizia que Jesus Cristo foi elevado no mais alto dos céus, mas Ele continua sofrendo na terra, as tribulações, as perseguições, pois, sofremos como seus membros. O fato deste sofrimento é possível decifrá-lo quando o Senhor Jesus disse a Saulo que estava fazendo perseguições contra os discípulos do Senhor: “Saulo, por que estás me perseguindo”? (cfr. At 9,4). Ou ainda é possível decifrar o sofrimento do Senhor, segundo Santo Agostinho quando o Senhor dirá no dia do julgamento: “Eu estava com fome e me destes de comer”(Mt 25,35)[5].

O trabalho na terra em unidade com o do céu

Santo Agostinho convocou os fieis de seu tempo para que eles trabalhassem na fé, esperança e caridade, virtudes teologais para a unidade com o Salvador na realização do bem, do amor para algum dia descansar com Ele no céu. Cristo está no céu, mas Ele está com cada pessoa humana de modo que todas as pessoas que permanecerem com Ele na terra, vivam a alegria e o amor no céu. Ele está com todas as pessoas de bem, de fraternidade, de modo que toda a pessoa realize pelo amor com os outros o que tem para com Ele[6]

Jesus Cristo está nos céus e está conosco

O Bispo de Hipona ressaltou a presença do Senhor nos céus e na terra, porque Ele voltou para a casa do Pai e Ele está também conosco em vista da fé, da esperança e da caridade a serem construídas neste mundo junto às pessoas. Ele caminha conosco para um dia participar do Reino dos céus. Ele pede a unidade nas ações para serem feitas com amor sabendo que a sua presença é com os seus fieis para um dia viverem na eternidade[7].  

A sua presença no céu e na terra

Santo Agostinho afirmou que Jesus Cristo, a sua unidade entre o céu e a terra. Ele não deixou o céu para descer até nós, e não se afastou de nós quando voltou para o Pai em unidade com o Espírito Santo. Ele disse que “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu” (cfr. Jo 3,13). Ele desceu do céu por sua misericórdia e ninguém subiu mais senão Ele, e pela graça, segundo o bispo de Hipona, também nós subimos e subiremos com Ele em vista da eternidade. Como Jesus Cristo é um só como Homem e como Deus, só Cristo desceu e só Ele que subiu para um dia nós participarmos do Reino dos céus pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo dado aos irmãos e irmãs[8].

[1] Carta de Barnabé, 15,9. In Padres Apostólicos. São Paulo: Paulus, 1995, pg. 310. Ver também: V. Saxer – S. S. Heid.  Ascensione. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane A-E. Genova-Milano: Marietti, 2006, pg. 569.

[2] Cfr. Idem, pg. 569.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 569.

[4] Cfr. Dos Sermões de Santo Agostinho. Sermo de Ascensioni Domini, Mai 98,1-2: PL S2,494-495. In; Ascensão do SenhorLiturgia das horas Online.

[5] Cfr. Idem.

[6] Cfr. Ibidem.

[7] Cfr. Ibidem.

[8] Cfr. Ibidem.