por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá

Dois camponeses trabalhavam em duas roças vizinhas. Passavam os dias a semear e a colher, sempre curvos sobre a terra. Nunca falavam entre si, ocupados demais para perder tempo. Um dos dois, porém, vez por outra, se endireitava, estendia os braços, louvava e agradecia a Deus. O outro, que ficava espiando às escondidas, pensava que o vizinho não era tão bom de cabeça. A colheita era sempre muito boa para ambos porque Deus recompensava igualmente quem o louvava com a oração e quem continuava trabalhando. Os anos passaram e, um dia, por causa da idade, os dois tiveram que deixar o trabalho da roça. Mais uma vez, aquele que estava acostumado a louvar ao Senhor, levantou os braços e agradeceu. O outro ficou todo encurvado, não conseguia mais se endireitar. Dizem que se endireitou só quando aprendeu a rezar.

Neste domingo celebramos a solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria ao céu. Acreditamos que Maria, pela sua única e singular participação no mistério da encarnação do Filho de Deus, desde já esteja gloriosa no céu junto ao Cristo ressuscitado. A esta meta, a vida plena e amorosa de Deus, nós todos somos chamados e alimentamos a esperança de chegar lá um dia. Na página do encontro entre Maria e Isabel, o evangelista Lucas, nos apresenta o hino com o qual Maria engradece ao Senhor pelas maravilhas que ele fez olhando à humildade de sua serva. Este hino é também um exemplo  de oração e a Igreja nos convida a rezá-lo todo dia na oração das Vésperas. Sobre isso quero refletir um pouco porque papa Francisco nos convida neste ano de 2024 a preparar o Jubileu de 2025 meditando justamente sobre a oração. Acredito que todos possamos aprender a rezar melhor inspirados no hino de Nossa Senhora.

O ponto de partida de toda oração deve ser a consciência da pobreza da nossa condição humana. Nada de arrogância ou de apresentar merecimentos. Tudo é obra de Deus. Com efeito, Maria reconhece que se todas as gerações a “chamarão de bem-aventurada”, foi por total gratuidade do amor de Deus que a escolheu. Outra atitude do orante deve ser o reconhecimento da grandeza e da bondade de Deus. Ele é “santo” e nós somos pecadores, mas a sua misericórdia não tem limites. A compaixão de Deus com os pobres e os humildes se revela numa nova justiça social. Os poderosos e os soberbos são rebaixados e os pequenos enaltecidos, os famintos recebem com fartura e os ricos vão embora de mãos vazias. Parecem palavras chocantes, mas afirmam simplesmente que Deus está do lado dos pobres porque eles não tem outro protetor e defensor. Os grandes confiam no seu próprio poder, os pobres clamam e invocam a Deus, só a ele podem recorrer. Maria retoma a pregação confiante dos profetas quando garantiam a escuta por parte de Deus da oração do órfão e da viúva a revelia daqueles que os exploravam sem algum temor. O final do hino é o reconhecimento da fidelidade de Deus às suas promessas feitas a Abraão e à sua descendência para sempre.

Com o hino de Maria podemos aprender a rezar melhor. Não é questão de acertar palavras ou posturas. A nossa oração será mais viva e sincera se iluminada pela fé em Deus. Na oração, rezamos de verdade somente se acreditamos que alguém esteja nos escutando interessado e atencioso conosco. Por isso, também quando rezamos juntos com os irmãos, a nossa oração é sempre profundamente pessoal. Ela vai junta com a nossa fé e com o jeito com o qual cada um de nós se relaciona com Deus. Com efeito, só falamos e abrimos o nosso coração com quem confiamos. Para Maria, Deus não era um desconhecido, tinha familiaridade, intimidade, era o Deus das promessas, mas também dos pequenos, um Deus comprometido com o seu povo. Maria rezava com os demais e, como todos, aguardava a chegada do Messias. Provavelmente, em certos momentos da vida, todos rezamos, mas muito melhor se todo dia podemos abrir o nosso coração ao Pai providente e bondoso, ao Filho que nos ensinou a amar até ao fim e ao Divino Espírito, luz, força, coragem para nós também anunciarmos as maravilhas de Deus. Como Maria.