por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá

“No túmulo de um dos antigos faraós do Egito encontraram um punhado de grãos de trigo. Eram velhos de cinco mil anos. Alguém pegou um daqueles grãos, o plantou e o regou. Com grande surpresa de todos, a semente estava viva e brotou. Depois de cinco mil anos.”

Sabemos que o evangelho de Marcos é o mais curto dos quatro evangelhos. Apesar de dizer que Jesus ensinava e explicava, não encontramos muitos discursos ou palavras dele. Significa que devem ser mais o agir dele e as diversas situações que ajudam a reconhecer a chegada do Reino de Deus e assim acreditar naquele que o está anunciando e o mostrando presente. No evangelho do Decimo Primeiro Domingo do Tempo Comum encontramos duas parábolas de Jesus com as quais ele apresenta a surpreendente realidade do Reino de Deus. A primeira parábola é própria do evangelista Marcos. Ela continua a apresentar a imagem da semente, como na bem conhecida parábola do semeador, mas com mais detalhes e uma belíssima novidade. De fato, o agricultor semeia, mas depois, “vai dormir e acorda”, ou seja, os dias vão passando e “a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. A parábola segue com a descrição das etapas do crescimento da espiga, dos grãos que enchem a espiga, até a colheita. “A terra, por si mesma, produz o fruto”, eis um dos segredos do Reino de Deus: o agricultor não sabe como, mas existe uma força que, “por si mesma”, faz crescer a semente. Indiretamente, a parábola faz uma grande afirmação: o Reino de Deus cresce porque é “de Deus” e não pode não crescer. Esta consideração serve de introdução da segunda parábola, aquela da semente de mostarda que é bem pequena e, por isso, pode deixar dúvidas sobre a sua efetiva possibilidade de crescimento. No entanto, daquela sementinha surgirá uma grande “hortaliça” capaz de abrigar os pássaros à sua sombra.

O anúncio do início e, portanto, da presença do Reino de Deus é a grande novidade de Jesus (Mt 4,17;Lc 17,21). Ela foi também a causa de inúmeras críticas e mal-entendidos. Aqueles que aguardavam um reino de poder e dominação ficaram decepcionados. Igualmente aqueles que esperavam um reino somente de puros e rigorosos seguidores da Lei não suportaram a liberdade de Jesus a respeito da própria Lei e a sua misericórdia com os enfermos que curava e com os pecadores que perdoava. As parábolas de Jesus sobre o Reino servem para esvaziar – se podemos dizer assim – as falsas expectativas e, ao mesmo tempo, para abrir os novos e maravilhosos horizontes deste Reino. Baste lembrar a ousadia da primeira das bem-aventuranças que em Lucas reza assim: “Bem-aventurados vós, os pobres, pois vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20). Jesus surpreendeu a todos e ainda hoje a dinâmica do Reino é bem diferente dos esquemas que  explicam o funcionamento e a eficiência das organizações simplesmente humanas. As duas parábolas do evangelho deste domingo, que têm como exemplo a semente, desafiam a lógica do planejamento, da previsibilidade e da eficácia tão privilegiada por aqueles que visam a garantia do lucro e não conhecem a potência da gratuidade e do amor. O Reino de Deus tem uma “força” que o faz crescer porque é, acima de tudo e muito além do esforço humano, um dom. Isto não significa que não haja também a nossa pequena colaboração, mas esta deveria ser mais no sentido da generosidade e da confiança que dos cálculos e da organização. Todo “presente” é mais bonito quando supera as nossas expectativas e nos deixa encantados! O pequeno grão de mostarda que se torna grande hortaliça é também sinal de um Reino aberto e acolhedor. Os ramos com a sua “sombra” oferecem abrigo e descanso para quem precisar sem discriminações ou exclusões. Se depois imaginamos a alegria dos pássaros cantando, melhor ainda fica a imagem daquele crescimento inesperado. Deveríamos arriscar e confiar mais na “força” do Reino. Se os grãos do tempo dos faraós brotaram, por que duvidar das “sementes” do Reino de Deus semeadas em nossas vidas desde o dia do nosso Batismo?