por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
foto Vatican News
Em sua homilia, nesta Domingo de Pentecostes, Papa Leão XIV refletiu junto com os milhares de fiéis que acompanhavam a Santa Missa, sobre a importância de abrir as fronteiras da vida para o amor, para que não dê passagem para o egoísmo, narcisismos e medos que nos bloqueiam.
Antes da Celebração de Pentecostes, o Santo Padre percorreu, por cerca de 30 minutos, a Praça São Pedro e parte da Via della Conciliazione para saudar os fiéis de todo o mundo que lhe aguardavam.
A homilia de Leão XIV para este domingo pode ser lida, abaixo, em tradução livre para o português, a partir do original em Italiano.
[Tradução livre do original]
HOMILIA DO SANTO PADRE LEÃO XIV
“Irmãos e irmãs,
Amanheceu para nós o dia agradável em que […] o Senhor Jesus Cristo, glorificado com a sua ascensão ao céu após a ressurreição, enviou o Espírito Santo” (Santo Agostinho, Discurso 271, 1). E também hoje se revive o que aconteceu no Cenáculo: como um vento impetuoso que nos sacode, como um estrondo que nos desperta, como um fogo que nos ilumina, desce sobre nós o dom do Espírito Santo (cf. Atos 2,1-11).
Como ouvimos na primeira Leitura, o Espírito opera algo de extraordinário na vida dos Apóstolos. Eles, após a morte de Jesus, tinham-se encerrado no medo e na tristeza, mas agora recebem finalmente um novo olhar e uma inteligência do coração que os ajuda a interpretar os eventos ocorridos e a fazer a íntima experiência da presença do Ressuscitado: o Espírito Santo vence o seu medo, quebra as correntes interiores, alivia as feridas, unge-os de força e dá-lhes a coragem de sair ao encontro de todos para anunciar as obras de Deus.
A passagem dos Atos dos Apóstolos diz-nos que em Jerusalém, naquele momento, havia uma multidão de várias proveniências, e ainda assim, “cada um os ouvia falar na sua própria língua” (v. 6). Eis que, então, em Pentecostes as portas do cenáculo se abrem porque o Espírito abre as fronteiras. Como afirma Bento XVI: “O Espírito Santo dá a capacidade de compreender. Supera a ruptura iniciada em Babel – a confusão dos corações, que nos coloca uns contra os outros – e abre as fronteiras. […] A Igreja deve sempre novamente tornar-se aquilo que ela já é: deve abrir as fronteiras entre os povos e romper as barreiras entre as classes e as raças. Nela não pode haver nem esquecidos nem desprezados. Na Igreja há somente irmãos e irmãs livres de Jesus Cristo” (Homilia de Pentecostes, 15 de maio de 2005).
Eis uma imagem eloquente do Pentecostes sobre a qual gostaria de me deter convosco para meditar.
O Espírito abre as fronteiras antes de tudo dentro de nós. É o Dom que abre a nossa vida ao amor. E esta presença do Senhor dissolve as nossas durezas, os nossos fechamentos, os egoísmos, os medos que nos bloqueiam, os narcisismos que nos fazem girar apenas em torno de nós mesmos. O Espírito Santo vem desafiar, em nós, o risco de uma vida que se atrofia, sugada pelo individualismo. É triste observar como num mundo onde se multiplicam as ocasiões de socializar, arriscamos ser paradoxalmente mais sós, sempre conectados e ainda assim incapazes de “fazer rede”, sempre imersos na multidão permanecendo, porém, viajantes desorientados e solitários.
E, em vez disso, o Espírito de Deus faz-nos descobrir um novo modo de ver e viver a vida: abre-nos ao encontro connosco mesmos para além das máscaras que usamos; conduz-nos ao encontro com o Senhor educando-nos a fazer experiência da sua alegria; convence-nos – segundo as mesmas palavras de Jesus acabadas de proclamar – que só se permanecermos no amor recebemos também a força de observar a sua Palavra e, portanto, de sermos transformados por ela. Abre as fronteiras dentro de nós, para que a nossa vida se torne um espaço hospitaleiro.
O Espírito, além disso, abre as fronteiras também nos nossos relacionamentos. De facto, Jesus diz que este Dom é o amor entre Ele e o Pai que vem tomar morada em nós. E quando o amor de Deus habita em nós, tornamo-nos capazes de nos abrirmos aos irmãos, de vencermos as nossas rigidezes, de superarmos o medo em relação a quem é diferente, de educarmos as paixões que se agitam dentro de nós. Mas o Espírito transforma também aqueles perigos mais escondidos que poluem os nossos relacionamentos, como os mal-entendidos, os preconceitos, as instrumentalizações. Penso também – com muita dor – em quando um relacionamento é infestado pela vontade de dominar sobre o outro, uma atitude que frequentemente desagua na violência, como infelizmente demonstram os numerosos e recentes casos de feminicídio.
O Espírito Santo, em vez disso, faz amadurecer em nós os frutos que nos ajudam a viver relacionamentos verdadeiros e bons: “Amor, alegria, paz, magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, domínio de si” (Gálatas 5,22). Deste modo, o Espírito alarga as fronteiras.
Maria Santíssima, Senhora do Pentecostes, Virgem visitada pelo Espírito, Mãe cheia de graça, nos acompanhe e interceda por nós”.
[Texto original em Italiano]
OMELIA DEL SANTO PADRE LEONE XIV
“Fratelli e sorelle,
«È spuntato a noi gradito il giorno nel quale […] il Signore Gesù Cristo, glorificato con la sua ascesa al cielo dopo la risurrezione, inviò lo Spirito Santo» (S. Agostino, Discorso 271, 1). E anche oggi si ravviva ciò che accadde nel Cenacolo: come un vento impetuoso che ci scuote, come un fragore che ci risveglia, come un fuoco che ci illumina, discende su di noi il dono dello Spirito Santo (cfr At 2,1-11).
Come abbiamo ascoltato dalla prima Lettura, lo Spirito opera qualcosa di straordinario nella vita degli Apostoli. Essi, dopo la morte di Gesù, si erano rinchiusi nella paura e nella tristezza, ma ora ricevono finalmente uno sguardo nuovo e un’intelligenza del cuore che li aiuta a interpretare gli eventi accaduti e a fare l’intima esperienza della presenza del Risorto: lo Spirito Santo vince la loro paura, spezza le catene interiori, lenisce le ferite, li unge di forza e dona loro il coraggio di uscire incontro a tutti ad annunciare le opere di Dio.
Il brano degli Atti degli Apostoli ci dice che a Gerusalemme, in quel momento, c’era una moltitudine di svariate provenienze, eppure, «ciascuno li udiva parlare nella propria lingua» (v. 6). Ecco che, allora, a Pentecoste le porte del cenacolo si aprono perché lo Spirito apre le frontiere. Come afferma Benedetto XVI : «Lo Spirito Santo dona di comprendere. Supera la rottura iniziata a Babele – la confusione dei cuori, che ci mette gli uni contro gli altri – e apre le frontiere. […] La Chiesa deve sempre nuovamente divenire ciò che essa già è: deve aprire le frontiere fra i popoli e infrangere le barriere fra le classi e le razze. In essa non vi possono essere né dimenticati né disprezzati. Nella Chiesa vi sono soltanto liberi fratelli e sorelle di Gesù Cristo» (Omelia a Pentecoste 15 maggio 2005).
Ecco un’immagine eloquente della Pentecoste sulla quale vorrei soffermarmi con voi a meditare.
Lo Spirito apre le frontiere anzitutto dentro di noi. È il Dono che dischiude la nostra vita all’amore. E questa presenza del Signore scioglie le nostre durezze, le nostre chiusure, gli egoismi, le paure che ci bloccano, i narcisismi che ci fanno ruotare solo intorno a noi stessi. Lo Spirito Santo viene a sfidare, in noi, il rischio di una vita che si atrofizza, risucchiata dall’individualismo. È triste osservare come in un mondo dove si moltiplicano le occasioni di socializzare, rischiamo di essere paradossalmente più soli, sempre connessi eppure incapaci di “fare rete”, sempre immersi nella folla restando però viaggiatori spaesati e solitari.
E invece lo Spirito di Dio ci fa scoprire un nuovo modo di vedere e vivere la vita: ci apre all’incontro con noi stessi oltre le maschere che indossiamo; ci conduce all’incontro con il Signore educandoci a fare esperienza della sua gioia; ci convince – secondo le stesse parole di Gesù appena proclamate – che solo se rimaniamo nell’amore riceviamo anche la forza di osservare la sua Parola e quindi di esserne trasformati. Apre le frontiere dentro di noi, perché la nostra vita diventi uno spazio ospitale.
Lo Spirito, inoltre, apre le frontiere anche nelle nostre relazioni. Infatti, Gesù dice che questo Dono è l’amore tra Lui e il Padre che viene a prendere dimora in noi. E quando l’amore di Dio abita in noi, diventiamo capaci di aprirci ai fratelli, di vincere le nostre rigidità, di superare la paura nei confronti di chi è diverso, di educare le passioni che si agitano dentro di noi. Ma lo Spirito trasforma anche quei pericoli più nascosti che inquinano le nostre relazioni, come i fraintendimenti, i pregiudizi, le strumentalizzazioni. Penso anche – con molto dolore – a quando una relazione viene infestata dalla volontà di dominare sull’altro, un atteggiamento che spesso sfocia nella violenza, come purtroppo dimostrano i numerosi e recenti casi di femminicidio.
Lo Spirito Santo, invece, fa maturare in noi i frutti che ci aiutano a vivere relazioni vere e buone: «Amore, gioia, pace, magnanimità, benevolenza, bontà, fedeltà, mitezza, dominio di sé» (Gal 5,22). In questo modo, lo Spirito allarga le frontiere dei nostri rapporti con gli altri e ci apre alla gioia della fraternità. E questo è un criterio decisivo anche per la Chiesa: siamo davvero la Chiesa del Risorto e i discepoli della Pentecoste soltanto se tra di noi non ci sono né frontiere e né divisioni, se nella Chiesa sappiamo dialogare e accoglierci reciprocamente integrando le nostre diversità, se come Chiesa diventiamo uno spazio accogliente e ospitale verso tutti.
Infine, lo Spirito apre le frontiere anche tra i popoli. A Pentecoste gli Apostoli parlano le lingue di coloro che incontrano e il caos di Babele viene finalmente pacificato dall’armonia generata dallo Spirito. Le differenze, quando il Soffio divino unisce i nostri cuori e ci fa vedere nell’altro il volto di un fratello, non diventano occasione di divisione e di conflitto, ma un patrimonio comune da cui tutti possiamo attingere, e che ci mette tutti in cammino, insieme, nella fraternità.
Lo Spirito infrange le frontiere e abbatte i muri dell’indifferenza e dell’odio, perché “ci insegna ogni cosa” e ci “ricorda le parole di Gesù” (cfr Gv 14,26); e, perciò, per prima cosa insegna, ricorda e incide nei nostri cuori il comandamento dell’amore, che il Signore ha posto al centro e al culmine di tutto. E dove c’è l’amore non c’è spazio per i pregiudizi, per le distanze di sicurezza che ci allontanano dal prossimo, per la logica dell’esclusione che vediamo emergere purtroppo anche nei nazionalismi politici.
Proprio celebrando la Pentecoste, Papa Francesco osservava che «oggi nel mondo c’è tanta discordia, tanta divisione. Siamo tutti collegati eppure ci troviamo scollegati tra di noi, anestetizzati dall’indifferenza e oppressi dalla solitudine» ( Omelia, 28 maggio 2023). E di tutto questo sono tragico segno le guerre che agitano il nostro pianeta. Invochiamo lo Spirito dell’amore e della pace, perché apra le frontiere, abbatta i muri, dissolva l’odio e ci aiuti a vivere da figli dell’unico Padre che è nei cieli.
Fratelli e sorelle, è la Pentecoste che rinnova la Chiesa, rinnova il mondo! Il vento gagliardo dello Spirito venga su di noi e in noi, apra le frontiere del cuore, ci doni la grazia dell’incontro con Dio, allarghi gli orizzonti dell’amore e sostenga i nostri sforzi per la costruzione di un mondo in cui regni la pace.
Maria Santissima, Donna della Pentecoste, Vergine visitata dallo Spirito, Madre piena di grazia, ci accompagni e interceda per noi”.
[Texto original Italiano]