
por VaticanNews
por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Nesta manhã de domingo (19/10), na Praça de São Pedro, em Roma, Papa Leão XIV presidiu à solene Missa de canonização de sete novos santos, em um evento que reuniu fiéis de todas as partes do mundo. Em uma homilia profunda e comovente, o Sumo Pontífice instigou os presentes a refletir sobre a essência da fé, ecoando a inquietante pergunta de Cristo “Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18, 8).
Para o Papa, a fé transcende todos os bens materiais e intelectuais, conferindo-lhes sentido e propósito. “Sem fé”, alertou, “o mundo seria povoado por filhos que vivem sem Pai, criaturas sem salvação.” Ele destacou que os novos santos – Ignazio Choukrallah Maloyan, Peter To Rot, Vincenza Maria Poloni, Maria del Monte Carmelo Rendiles Martínez, Maria Troncatti, José Gregorio Hernández Cisneros e Bartolo Longo – são faróis de esperança, demonstrando a capacidade humana de manter acesa a “lâmpada da fé” e de se tornarem, eles próprios, fontes da luz de Cristo.
A Oração como Oxigénio da Alma
Leão XIV enfatizou a intrínseca ligação entre fé e oração, comparando esta última à respiração. “Assim como não nos cansamos de respirar, também não nos cansemos de orar!”, exortou o Papa. “A fé, com efeito, expressa-se na oração e a oração autêntica vive da fé.” Ele invocou a parábola evangélica da viúva persistente diante do juiz injusto para ilustrar a tenacidade necessária na busca por justiça divina, lembrando que Deus, como Pai bom, “não fará justiça aos seus eleitos que a Ele clamam dia e noite?”.
O Pontífice abordou as tentações que testam a fé, como o escândalo do mal, que leva a crer que Deus não ouve, e a pretensão de ditar a Deus como agir. Contra essas inclinações, o Papa Leão XIV recordou o exemplo de Jesus, que, mesmo em sua Paixão, orou “Pai, faça-se a tua vontade” (Lc 22, 42). “A cruz de Cristo revela a justiça de Deus”, afirmou o Santo Padre, “e a justiça de Deus é o perdão: Ele vê o mal e redime-o, tomando-o sobre si.” Ele sublinhou que quem se recusa a acolher a misericórdia divina permanece incapaz de oferecê-la ao próximo.
Sete Vidas, Um Legado de Fé
Os sete novos santos, agora elevados aos altares, representam um mosaico de virtudes e vocações. Entre eles, há mártires pela fé, como o Bispo Ignazio Choukrallah Maloyan e o catequista Peter To Rot, que deram a vida por Cristo. A Igreja também celebra evangelizadores e missionários, como a Irmã Maria Troncatti, primeira Filha de Maria Auxiliadora proclamada Santa pela Igreja desde a Cofundadora, da Congregação, Santa Maria Domingas Mazzarello; fundadoras carismáticas, como a Irmã Vincenza Maria Poloni e a Irmã Carmen Rendiles Martínez; e benfeitores da humanidade, com corações ardentes de devoção, como Bartolo Longo e José Gregorio Hernández Cisneros. Suas vidas, cada qual à sua maneira, testemunham a profunda e transformadora força da fé.
Ao final de sua homilia, o Papa Leão XIV reafirmou que as perguntas de Jesus são, na verdade, um convite vigoroso à esperança e à ação. Ele convidou os fiéis a seguir o exemplo dos novos santos, a perseverar na oração e a manter “firmes naquilo que aprendemos e acreditamos resolutamente (cf. 2 Tm 3, 14)”, pois a fé terrena é o alicerce para a esperança do céu. Uma mensagem de renovação e compromisso que ressoa pelos quatro cantos do mundo católico, chamando cada um a reacender a chama da fé em seu próprio coração.
Leia a homilia do Papa Leão XIV na integra abaixo:
SANTA MISSA E CANONIZAÇÃO DOS BEATOS:
– Ignazio Choukrallah Maloyan
– Peter To Rot
– Vincenza Maria Poloni
– Maria del Monte Carmelo Rendiles Martínez
– Maria Troncatti
– José Gregorio Hernández Cisneros
– Bartolo Longo
CAPELA PAPAL
HOMILIA DO PAPA LEÃO XIV
Praça de São Pedro
XXIX Domingo do Tempo Comum, 19 de outubro de 2025
“Queridos irmãos e irmãs,
a pergunta que encerra o Evangelho acabado de proclamar abre esta nossa reflexão: «Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?» (Lc 18, 8). Esta interrogação revela-nos o que é mais precioso aos olhos do Senhor: a fé, ou seja, o vínculo de amor entre Deus e o ser humano. Hoje, temos precisamente diante de nós sete testemunhas, os novos santos e as novas santas, que mantiveram acesa, com a graça de Deus, a lâmpada da fé, ou melhor, tornaram-se eles mesmo lâmpadas capazes de difundir a luz de Cristo.
Em relação aos grandes bens materiais e culturais, científicos e artísticos, a fé sobressai não porque estes se devam desprezar, mas porque sem fé perdem sentido. A relação com Deus é da maior importância porque Ele, no início dos tempos, criou todas as coisas do nada e, no tempo, salva do nada tudo o que simplesmente acaba. Uma terra sem fé seria povoada por filhos que vivem sem Pai, ou seja, por criaturas sem salvação.
Eis por que Jesus, o Filho de Deus feito homem, se interroga sobre a fé: o que aconteceria se ela desaparecesse do mundo? O céu e a terra permaneceriam como antes, mas não haveria mais esperança nos nossos corações; a liberdade de todos seria derrotada pela morte; o nosso desejo de vida precipitaria no nada. Sem fé em Deus, não podemos ter esperança na salvação. Por isso, a pergunta de Jesus inquieta-nos, sim, mas só se esquecemos que é o próprio Jesus que a pronuncia. Com efeito, as palavras do Senhor permanecem sempre Evangelho, ou seja, alegre anúncio de salvação. Esta salvação é o dom da vida eterna que recebemos do Pai, por meio do Filho, com a força do Espírito Santo.
Caríssimos, é precisamente por isso que Cristo fala aos seus discípulos «sobre a obrigação de orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18, 1): tal como não nos cansamos de respirar, também não nos cansemos de orar! Do mesmo modo que a respiração sustenta a vida do corpo, a oração sustenta a vida da alma: a fé, com efeito, expressa-se na oração e a oração autêntica vive da fé.
Jesus mostra-nos essa ligação com uma parábola: um juiz mantém-se surdo perante os pedidos insistentes de uma viúva, cuja persistência, por fim, o leva a agir. Tal tenacidade, à primeira vista, torna-se para nós um bonito exemplo de esperança, especialmente nos momentos de provação e tribulação. Porém, a perseverança da mulher e o comportamento do juiz, que age contra vontade, preparam uma provocante pergunta de Jesus: Deus, Pai bom, «não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite?» (Lc 18, 7).
Deixemos que estas palavras ressoem na nossa consciência: o Senhor pergunta-nos se acreditamos que Deus é um juiz justo para com todos. O Filho pergunta-nos se acreditamos que o Pai quer sempre o nosso bem e a salvação de todas as pessoas. A este propósito, duas tentações põem à prova a nossa fé: a primeira ganha força a partir do escândalo do mal, levando-nos a pensar que Deus não ouve o clamor dos oprimidos nem tem piedade do sofrimento dos inocentes. A segunda tentação é a pretensão de que Deus deve agir como nós desejamos: a oração cede então lugar a uma ordem dirigida a Deus, para lhe ensinar o modo de ser justo e eficaz.
Jesus, testemunha perfeita da confiança filial, liberta-nos de ambas as tentações. Ele é o inocente que, sobretudo durante a sua Paixão, reza assim: “Pai, faça-se a tua vontade” (cf. Lc 22, 42). São as mesmas palavras que o Mestre nos entrega na oração do Pai Nosso. Aconteça o que acontecer, Jesus confia-se como Filho ao Pai; por isso, nós, como irmãos e irmãs em seu nome, proclamamos: «Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação, dar-Vos graças sempre e em toda a parte, por Jesus Cristo, vosso amado Filho» (Missal Romano, Oração Eucarística II, Prefácio).
A oração da Igreja lembra-nos que Deus, ao dar a sua vida por todos, faz justiça a todos. Assim, quando clamamos ao Senhor: “Onde estás?”, transformamos essa invocação em oração e reconhecemos, então, que Deus está precisamente ali onde o inocente sofre. A cruz de Cristo revela a justiça de Deus e a justiça de Deus é o perdão: Ele vê o mal e redime-o, tomando-o sobre si. Quando somos crucificados pela dor e pela violência, pelo ódio e pela guerra, Cristo já está ali, na cruz por nós e conosco. Não há choro que Deus não console, nem lágrima que esteja longe do seu coração. O Senhor escuta-nos, abraça-nos como somos, para nos transformar como Ele é. Quem, pelo contrário, recusa a misericórdia de Deus, permanece incapaz de misericórdia para com o próximo. Quem não acolhe a paz como um dom, não saberá dar a paz.
Caríssimos, compreendemos agora que as perguntas de Jesus são um vigoroso convite à esperança e à ação: quando o Filho do homem vier, encontrará fé na providência de Deus? Na verdade, é esta fé que sustenta o nosso empenho pela justiça, precisamente porque acreditamos que Deus salva o mundo por amor, libertando-nos do fatalismo. Perguntemo-nos, então: quando ouvimos o apelo de quem está em dificuldade, somos testemunhas do amor do Pai, como Cristo o foi para com todos? Ele é o humilde que chama os prepotentes à conversão, o justo que nos torna justos, como atestam os novos santos de hoje: não são heróis, nem paladinos de um ideal qualquer, mas homens e mulheres autênticos.
Estes fiéis amigos de Cristo são mártires pela sua fé, como o Bispo Ignazio Choukrallah Maloyan e o catequista Pietro To Rot; são evangelizadores e missionários, como a Irmã Maria Troncatti; são fundadoras carismáticas, como a Irmã Vincenza Maria Poloni e a Irmã Carmen Rendiles Martinez; são benfeitores da humanidade, com coração ardente de devoção, como Bartolo Longo e José Gregorio Hernández Cisneros. Que a sua intercessão nos assista nas provações e o seu exemplo nos inspire na comum vocação à santidade. Enquanto peregrinamos rumo a esta meta, rezemos sem nos cansarmos, firmes naquilo que aprendemos e acreditamos resolutamente (cf. 2 Tm 3, 14). A fé sobre a terra sustenta assim a esperança do céu”.
– Ignazio Choukrallah Maloyan – São Inácio Choukrallah Maloyan, arcebispo católico armênio, foi assassinado durante o genocídio armênio de 1915, após se recusar a abandonar sua fé, e sua canonização foi aprovada em março de 2025.
- Quem foi: Arcebispo católico armênio da cidade de Mardin (na atual Turquia).
- Vida e martírio: Nasceu em 1869 e foi assassinado por soldados otomanos em 1915 durante o genocídio armênio, por se recusar a apostatar de sua fé.
- Reconhecimento: Foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 2001 e canonizado hoje como mártir da fé.
– Peter To Rot – foi um catequista de Papua-Nova Guiné, se tornou o primeiro santo do país e foi martirizado durante a Segunda Guerra Mundial por se opor às políticas do governo japonês que proibiam o ensino da fé católica.
- Quem foi: Um catequista leigo que serviu sua comunidade, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando os missionários foram proibidos de atuar.
- Seu martírio: Foi preso e executado pelos japoneses em 1945 após se opor a práticas como o casamento polígamo e continuar a conduzir cultos secretos de oração.
- Reconhecimento: Foi beatificado em 1995 pelo Papa João Paulo II.
– Vincenza Maria Poloni – cofundadora das Irmãs da Misericórdia de Verona, dedicou sua vida aos pobres e doentes, falecendo em 1855 após uma doença. Ela foi beatificada em 2008 pelo Papa Bento XVI, e sua canonização foi aprovada em 2025 após o reconhecimento de um segundo milagre
- Quem foi: Em 1840, junto com o Beato Carlos Steeb, fundou as Irmãs da Misericórdia para difundir o amor de Jesus Cristo através do serviço aos mais necessitados.
- Seu martírio: Não houve martírio. Sua canonização não se deve a um martírio, mas ao reconhecimento de milagres atribuídos à sua intercessão. O milagre reconhecido para a canonização envolveu a cura inexplicável de Audélia del Carmo Para Para, do Chile, após uma cirurgia renal que se complicou com uma hemorragia grave
- Reconhecimento: Foi beatificada em 2008 pelo Papa Bento XVI.
– Maria del Monte Carmelo Rendiles Martínez – Cujo nome de batismo era Carmen Elena, foi uma freira venezuelana, fundadora das Servas de Jesus de Caracas, que viveu uma vida de virtudes heroicas, mas não foi mártir.
- Quem foi: Foi uma freira católica, membro das Servas da Eucaristia e fundadora da Congregação das Servas de Jesus de Caracas em 1965. Ela também era conhecida por ter um braço direito amputado desde o nascimento.
- Seu martírio: Não há registro de que ela tenha sofrido martírio. Sua santidade foi reconhecida por sua vida de virtudes heroicas.
- Reconhecimento: Declaração feita pelo Papa Francisco em 2013, confirmando suas virtudes heroicas.
– Maria Troncatti – Primeira Filha de Maria Auxiliadora proclamada Santa pela Igreja desde a Cofundadora, da Congregação, Santa Maria Domingas Mazzarello
- Quem foi: Nasceu na Itália e ingressou na ordem das Filhas de Maria Auxiliadora. Foi enviada para as missões no Equador em 1922, onde viveu por 44 anos.
- Seu martírio: Maria Troncatti morreu em um trágico acidente aéreo em 25 de agosto de 1969, em Sucúa, Equador. Apesar de não ter sido martírio por perseguição, sua morte é vista como uma entrega total ao serviço e à sua vocação, entregando a vida a Deus após uma vida de dedicação aos outros.
- Reconhecimento: A Igreja a reconheceu como Beata em 24 de novembro de 2013, pelo Papa Francisco, no Dia Mundial das Missões
– José Gregorio Hernández Cisneros – Conhecido como o “médico dos pobres”, foi um médico e cientista venezuelano que se dedicou a tratar os mais necessitados.
- Quem foi: Dedicou sua vida a atender aos mais necessitados, muitas vezes doando medicamentos e cuidando deles de forma gratuita. Por isso, ganhou o apelido de “médico dos pobres”.É amplamente venerado em seu país e também possui forte devoção em outras comunidades, como a da Ilha da Madeira, Portugal. Morreu em 29 de junho de 1919, em Caracas, após ser atropelado por um carro quando ia comprar remédios para uma paciente idosa.
- Seu martírio: José Gregorio Hernández não foi um mártir, não foi morto por sua fé, mas sim em um acidente de carro enquanto prestava socorro.
- Reconhecimento: A canonização reconhece sua vida de santidade. O Papa Leão XIV não canonizou José Gregorio, o Papa Francisco autorizou a canonização de José Gregorio em 2025
– Bartolo Longo – Advogado italiano, ele se converteu do satanismo, dedicou-se à fé católica, fundou o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia e trabalhou com caridade, cuidando de órfãos, doentes e pobres. Seu martírio não foi um martírio físico, mas sim a dedicação de sua vida para a restauração da fé em Pompeia e ao seu trabalho caritativo.
- Quem foi: Bartolomeu Longo nasceu em Latiano. Inicialmente, Longo chegou a se envolver com cultos satânicos. Em 1871, após se converter ao catolicismo, tornou-se um terciário dominicano e adotou o nome religioso “Irmão Rosário”. Em 1872, ao visitar Pompeia, encontrou a igreja local em ruínas e a fé católica praticamente esquecida. Ele sentiu um chamado para restaurar a fé na região.
- Seu martírio: Ao contrário de outros santos, o “martírio” de Bartolomeu Longo não foi um martírio físico, mas sim a dedicação total de sua vida aos pobres e à fé católica, como parte de sua santidade.
- Reconhecimento: Foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 26 de outubro de 1980
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