por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
com informações e fotos da CEAMA

Em um encontro marcante em Bogotá, na Colômbia, os bispos da Amazônia reafirmaram, no primeiro dia (18/8), seu compromisso com a sinodalidade, a defesa da região amazônica e seus povos, e a busca por esperança em meio aos desafios. O evento, organizado pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), reúne bispos de diversas jurisdições eclesiásticas de nove países que dividem o bioma amazônico, como os bispos das Arquidioceses, Dioceses e Prelazia do Regional Norte 2, no Pará e Amapá.

O Encontro dos Bispos da Amazônia, é realizado na sede do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM), em Bogotá, e marca um momento crucial para a Igreja Católica na região. Com a presença de mais de 75 jurisdições eclesiásticas, o evento serve como um espaço para fortalecer a unidade, a amizade e o compromisso com a Amazônia e seus povos.

O Cardeal Pedro Barreto – presidente da CEAMA, em sua mensagem de abertura, destacou a importância de ouvir tanto o clamor da terra quanto o clamor dos pobres. Ele ressaltou que a CEAMA é um organismo permanente e representativo da Igreja Católica que promove a sinodalidade na região, e que a presença dos bispos é um sinal evidente de seu compromisso com o processo sinodal no Bioma Amazônico.

O Vice-presidente da Ceama, Dom Zenildo Lima, animou os bispos a viver este encontro como fraternidade em Cristo: “Fomos chamados a uma experiência de encontro entre nós para fortalecer nossa amizade em Jesus”.

O Cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, expressou que, ainda que não tenha participado do Sínodo Amazônico, se sentiu parte do processo: “Uma Igreja que escute as comunidades, os leigos e a vida religiosa é a que sonhamos”.

O prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Michael Czerny, afirmou que a gestação da Ceama “foi um verdadeiro milagre”.

Recordou que seu caráter eclesial significa que participam não só bispos, mas também “leigos, religiosos, povos originários e especialistas”. Acrescentou que o desafio é ser “real e constitutivamente episcopal e sinodal”.

Em seguida, o secretário geral do Celam, Dom Lizardo Estrada, deu as boas-vindas em nome do organismo continental a seus irmãos bispos. E manifestou seu desejo por “viver estes dias como uma experiência de conversão, colegialidade e sinodalidade”.

Ainda na abertura do encontro foram homenageadas figuras importantes que marcaram o caminho do compromisso eclesial com a Amazônia, como o Papa Francisco e o Cardeal Claudio Hummes. Além disso, os bispos foram incentivados a se abrirem à ação do Espírito Santo, buscando uma presença evangelizadora mais visível e eficaz na Amazônia.

Durante o evento, os participantes também agradeceram aos membros da Comissão Preparatória, ao CELAM, à Arquidiocese de Bogotá, à Universidade UNIMINUTO e à Secretaria Executiva da CEAMA pela organização do encontro.

A irmã María Inés Castellano, secretária geral da Confederação Latino-Americana de Religiosos – CLAR, expressou o compromisso da vida consagrada “Desejamos seguir escutando os sussurros do Espírito em nossa querida Amazônia”.

O presidente da Cáritas da América Latina, Dom Gustavo Rodríguez Vega, recordou “O Papa teve a valentia de fazer ressoar a mensagem da Amazônia para toda a Igreja”.

Desde a Repam, Dom Rafael Cob animou a continuar sonhando juntos “Sonhar juntos é mais fácil fazer realidade os sonhos”.

O presidente da Conferência Episcopal da Colômbia, Dom Francisco Javier Múnera, expressou o compromisso de seu país “O tema da Amazônia não é só dos bispos da região, mas de toda a Igreja”, expressou.

O presidente da Conferência Episcopal do Equador, Cardeal Luis Cabrera, comparou o caminho amazônico com o fruto de sementes pequenas “Estamos colhendo o que foi semeado”, e recordou o exemplo da salesiana María Troncatti, próxima a ser canonizada.

O núncio apostólico na Colômbia, monsenhor Paolo Rudelli, compartilhou a mensagem do Secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Parolin, na qual manifestou o agradecimento do Papa Leão XIV e convidou os bispos a integrarem três dimensões inseparáveis em sua missão “A proclamação do Evangelho, o tratamento justo aos povos e o cuidado com a casa comum”. O encontro foi inaugurado em um ambiente de sinodalidade. Como destacou o cardeal Barreto “Continuemos com renovado vigor a nossa caminhada juntos como Igreja com rosto amazônico”.

Um dos momentos mais simbólicos do encontro foi a entrega de cruzes amazônicas aos bispos participantes. As cruzes, feitas com madeira proveniente de árvores queimadas na região da Chiquitania, na Amazônia boliviana, representam a transformação da dor em esperança e o compromisso com a defesa da vida, dos povos e da Casa Comum.

Durante a tarde de ontem os bispos se reuniram em grupos para discutir os processos que foram empreendidos na caminhada de sua Igreja local a partir do Sínodo da Amazônia e da criação da CEAMA, pontuando quais avanços e quais resistências foram notadas.

O documento que resume a Plenária do dia 18 de Agosto, abordou avanços, dificuldades e ideias centrais relacionadas à Igreja na Amazônia e à ecologia integral. Dentre os avanços foram citadas a formação de lideranças inculturada, cuidado com a casa comum (Laudato Sí), trabalho em comunidade, planos pastorais, formação permanente em ecologia integral, acolhimento da Doutrina Social da Igreja, sustentabilidade, produção de energia limpa, diálogo com órgãos governamentais, atendimento a povos indígenas e ribeirinhos, catequese, criação da Cáritas, formação de guardiões da ecologia, equipes itinerantes, evangelização integral, respostas a problemas sociais, organização de seminários amazônicos, construção de plano pastoral, sensibilização para ações da casa comum, criação de núcleos de formação, escolas de fé e política, e santuários.

Dentre as dificuldades foi observado a ministerialidade (formação de leigos), oposição de conservadores, falta de compromisso, negação da crise ambiental, pessimismo, pouca consciência ecológica, fechamento paroquial, falta de espírito missionário e evangelizadores, ignorância teológica, dificuldades com povos indígenas, clericalismo, dificuldade de escuta, resistência a autoridades locais, polarização política, falta de compromisso com a vida e criação, e alto custo da evangelização.

Os bispos elencaram algumas ideias centrais como os processos de formação de lideranças, cuidado com a casa comum, planos pastorais sinodais, assembleias diocesanas e paroquiais, e conselhos pastorais e econômicos.

 

Outras questões foram pontuadas como a defesa da vida, proteção do meio ambiente, elaboração de planos pastorais, constituição de conselhos, clericalismo, negação da crise ambiental, recursos/sustentabilidade, dificuldades de acesso a comunidades e diálogo político. Houve também perguntas sobre a formação de leigos, o papel dos conselhos pastorais, equipes itinerantes, assembleias, a influência do Espírito Santo, comunicação, pandemia, e cuidado da casa comum. Foram citados os avanços e dificuldades da formação de lideranças, importância da Sinodalidade, resistências ao novo, a necessidade de uma Igreja com rosto amazônico, e o impacto da mineração e contaminação ambiental.

Neste segundo dia do Encontro dos Bispos da Amazônia diante dos trabalhos de ontem quando viram e ouviram, irão trabalhar hoje como poderão discernir e agir. Nesta manhã Dom Zenildo fez um resumo do dia de ontem e respondeu a questionamentos. E o Cardeal Pedro Barreto, Patricia Gualinga e Irmão João Gutemberg, apresentaram os serviços oferecidos pela CEAMA e REPAM às igrejas locais. Em seguida foi apresentada uma palestra “O ministério episcopal e a sinodalidade na Amazônia” Experiência de três jurisdições.

Missa em homenagem aos Martires da Amazonia

Aconteceu também, nesta manhã, uma missa em homenagem aos martires da Amazônia onde foram homenageados e lembrado de suas falas marcantes. Chico Mendes – Brasil “Os seringueiros, os índios, os ribeirinhos, levam mais de 100 anos ocupando a selva. Nunca a ameaçaram. Quem a ameaça, são os projetos agrícolas, os grandes madeireiros, e as hidrelétricas com suas criminosas inundações.”; Irmã Dorothy Stang – Brasil “A morte da floresta é o fim da nossa vida.”; Nicolasa Nosa – Bolívia “Não os denunciarei. Prefiro morrer sob o chicote.”; Padre Alcides Jiménez – Colômbia “Não basta viver em uma comunidade para ser parte dela, é necessário sentir seus problemas e participar ativamente em sua solução.”; Dom Alejandro Labaka – Equador “Cristo faz ressaltar minha fraqueza para que a força de suas ações brilhe mais em meus irmãos Waorani.”; Irmã Inés Arango – Equador “Se eu morrer, vou feliz, oxalá ninguém saiba nada de mim, não busco fama nem nome, Deus o sabe, sempre com todos.”; Beata María Agustina Rivas (Aguchita) – Peru “A morte não se improvisa, o amor é nossa vocação.” e Irmão Vicente Cañas, SJ (Kiwxi) – Brasil “Não te surpreendas se um dia me encontrares morto”.

Antes do almoço, fechando a manhã, os bispos estarão reunidos em grupos, para a conversa no Espírito sobre como podem, como Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), contribuir e acompanhar para que, como Igrejas locais, respondamos aos nossos desafios e aos da Pan-Amazônia. Durante a tarde darão continuidade aos trabalhos em grupos e participarão de uma plenária onde os bispos relatores apresentarão o resumo de seus trabalhos.