por Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo da Arquidiocese de Belém

“Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o retirou aos seus olhos. Continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apresentaram-se a eles então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu’” (At 1,9-11). Na narrativa de São Marcos, assim está escrito: “Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então, eles foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,19-20).

Compromisso assumido! O mesmo Jesus vai manifestar-se como foi visto partir para o céu, mas permanece misteriosamente conosco: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Inaugurou-se então um novo tempo, o Tempo do Espírito, entre a efusão do mesmo Espírito que celebraremos dentro de poucos dias no Pentecostes e a vinda gloriosa do Senhor. Este é também o Tempo da Igreja, no qual a visibilidade das ações do Senhor é entregue à nossa responsabilidade. De formas diversas, o Senhor continua presente e até aqui o Senhor nos ajudou, dando-nos a certeza de que o fará sempre. Com esta disposição, continuamos clamando “Vem, Senhor Jesus!”

Quais são as tarefas confiadas à Igreja, enquanto esperamos a vinda do Senhor? Cabe-nos olhar para frente e para o alto (Cf. Cl 3,1), pois quem fica parado já está regredindo. Seremos diante do mundo homens e mulheres peregrinos de esperança, como nos propõem o tema e a espiritualidade do Jubileu em curso, na certeza do sentido da existência pessoal e da história, plantando esta força em todos os ambientes em que nos encontrarmos. Cabe-nos superar e ajudar a superar o desânimo e o esmorecimento. E o tempo em que vivemos lança à Igreja o desafio significativo que são as cidades, a pastoral e a mentalidade urbana, que envolvem não só os que habitam a cidade, mas também as pessoas que bebem da mesma mentalidade, levando em conta a circulação de ideias e costumes, cujos limites se ampliaram e provocam os cristãos a darem uma resposta, e esta é a Evangelização, missão irrecusável da Igreja e dos cristãos. Nossa Igreja assumiu o compromisso de ter suas portas abertas e contribuir para que a cidade seja repleta de alegria!

Avançando nesse processo, especialmente diante da cultura urbana, cada vez mais abrangente, cabe-nos fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo (cf. São João Paulo II, Novo Millenio ineunte 43). Para oferecer esta casa acolhedora aos homens e mulheres de nosso tempo, é fundamental que a Igreja aponte para a santidade e a busca da perfeição da caridade. Ela deverá ser um apelo constante a uma vida melhor, sem

nivelar pelo rodapé da existência os ideais a serem oferecidos. Cada vez que uma pessoa experimentar a vida da Igreja sentir-se-á convocada a ser santa! E os cristãos precisam estimular-se reciprocamente nesta aventura, contando também com o estímulo das gerações de santos e santas que são hoje oferecidas como exemplo.

O alimento da santidade na Igreja está na vida sacramental. Aqui resplandece de forma inequívoca a Eucaristia, o tesouro mais precioso da Igreja. A Eucaristia é como o coração pulsante que dá vida a todo o corpo místico da Igreja: um organismo social totalmente baseado no vínculo espiritual, mas concreto com Cristo. Como afirma o apóstolo Paulo: ‘Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão’ (1 Cor 10,17). Sem a Eucaristia a Igreja simplesmente não existiria. De fato, é a Eucaristia que faz de uma comunidade humana um mistério de comunhão, capaz de levar Deus ao mundo e o mundo a Deus. O Espírito Santo, que transforma o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, transforma também quantos o recebem com fé em membros do corpo de Cristo, de modo que a Igreja é realmente sacramento de unidade dos homens com Deus e entre eles” (cf. Bento XVI, Angelus do dia 26 de junho de 2011).

A ela se liga todo o edifício da vida espiritual e da oração, que a Igreja deve cultivar. Recolher-se em oração pessoal, fazer a leitura orante da Palavra de Deus, rezar em família! Rezar na Comunidade e nos tantos grupos de oração, nas várias modalidades existentes! Podemos pensar na grande quantidade de Grupos de Oração formados a partir dos Movimentos Eclesiais e Carismas existentes na Igreja!

No tempo da Igreja que é o tempo de hoje, continuam os cristãos na missão de serem sal, luz e fermento, alimentados pela Palavra de Deus. Muitas vezes será silencioso este testemunho, outras pedirão a saída à vida pública, a parceria com homens e mulheres de boa vontade que aspiram os mesmos ideais de fraternidade e justiça dos cristãos. O que não é possível é a omissão! E aqui se encontra o compromisso de servir às causas dignas do Evangelho e o serviço a todos, especialmente os mais pobres e fragilizados da sociedade, na caridade!

Tenhamos a ousadia de assumir um roteiro de vida, enquanto esperamos a vinda do Senhor: ser homens e mulheres peregrinos de esperança (1); Fazer da Igreja de Belém uma Igreja de portas abertas, para que a cidade seja repleta de alegria! (2); Cada cristão ou cristã se sinta convocada à santidade! (3); Considerar a Eucaristia, o tesouro mais precioso da Igreja como o coração pulsante da própria Igreja (4); Como a Eucaristia transforma o pão e o vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, transforme também quem a recebe com fé em membro do corpo de Cristo, para que a Igreja seja realmente sacramento de unidade dos homens com Deus e entre eles (5); Vida espiritual e oração, cada pessoa em seu estado de vida e vocação específica no coração da Igreja (6); Rezar em Comunidade e nos tantos grupos de oração, nas várias modalidades existentes (7); No tempo da Igreja que é o tempo de hoje, os cristãos sejam sal, luz e fermento para transformar o mundo, alimentados pela Palavra de Deus (8); Testemunho dos valores do Evangelho, muitas vezes no silêncio ou na família e no trabalho cotidiano (9); Segundo a vocação de cada pessoa, muitas vezes os cristãos deverão sair à vida pública, em parceria com homens e mulheres de boa vontade que aspiram os mesmos ideais de fraternidade e justiça, para servir às causas dignas do Evangelho e o serviço a todos, especialmente os mais pobres e fragilizados da sociedade, na caridade! O que não é possível é a omissão! (10)

Não é um decálogo, pois já o temos resumido no amor a Deus e ao próximo, mas não será difícil identificar nas dez propostas um reflexo da lei de Cristo e da Igreja, num tempo fecundo e positivamente provocante, tempo da Igreja, enquanto esperamos a sua vinda! Estamos prontos a responder “sim”!?