por Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo da Arquidiocese de Belém

Em visita a uma anciã, cega de nascença, ouvi uma edificante declaração: “Ouço o Bispo pelos programas de Rádio, quando convida à participação na vida da Igreja. Sendo cega, descobri que minha contribuição é a oração, e rezo, nas intenções da Igreja, dez terços por dia! Penso que serve para alguma coisa!” Certamente esta pessoa faz mais do que o Bispo, ou os Padres, ou quem quer que esteja nas frentes pastorais de uma Diocese, pois oferta sua vida, suas limitações de saúde e, mais ainda, suas orações diárias! É com este rico testemunho que desejamos celebrar o Dia dos Idosos e dos Avós, no domingo mais próximo da Festa de Sant’Ana e São Joaquim, pais da Virgem Maria e Avós de Jesus Cristo.

Trago aqui uma reflexão do Papa Leão XIV, na Mensagem para o Dia dos Idosos e Avós (Tema: “Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança” – cf. Sir 14, 2), que nos introduz o tema da oração: “É necessária uma mudança de atitude, que testemunhe uma assunção de responsabilidade por parte de toda a Igreja. Cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da “revolução” da gratidão e do cuidado, a realizar-se através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos. A esperança cristã impele-nos continuamente a ousar mais, a pensar grande, a não nos contentarmos com o status quo. Neste caso específico, a trabalhar por uma mudança que devolva aos idosos a estima e o afeto. Por isso, o Papa Francisco quis que o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos fosse celebrado, em primeiro lugar, encontrando aqueles que estão sozinhos. E decidiu-se, pela mesma razão, que aqueles que não puderem vir a Roma neste ano em peregrinação podem “obter a Indulgência jubilar se se deslocarem para visitar por um côngruo período idosos em solidão, quase fazendo uma peregrinação em direção a Cristo presente neles (cf. Mt 25, 34-36)” (Penitenciaria Apostólica, Normas sobre a Concessão da Indulgência Jubilar III). Visitar um idoso é um modo de encontrar Jesus, que nos liberta da indiferença e da solidão.” Assim, também em nossa Igreja de Belém, é possível obter a Indulgência Plenária visitando um doente ou um idoso!

Falamos de oração, indulgência, Terço! Por que rezar? Como rezar? É bom lembrar nossa condição de criaturas. Não nos inventamos a nós mesmos, mas fomos resultado de um ato de amor, vindo da eternidade, chegados a esta terra pela Providência de Deus, através de nossos pais, só seremos felizes e realizados na comunhão com aquele que nos criou e pôs em nossos corações uma sede de infinito, que chega à sua realização quando nos abrimos para este relacionamento com o Senhor. Em poucas palavras, rezamos, ou oramos, como quisermos dizer, porque Deus nos fez para sermos felizes e realizados na comunhão com ele, e nosso coração anda inquieto enquanto não encontrar este caminho!

A oração começa no alto, pelo que sua forma mais perfeita é a Oração de Eucaristia, quando o próprio Filho de Deus, em sua Morte e Ressurreição, faz presente seu Mistério, envolvendo-nos com sua Palavra, seu Corpo e Sangue e a participação em sua vida. Cada

Missa bem participada é um mergulho na vida de Deus, quando nos dirigimos, com Jesus presente em nosso meio, ao Pai, por Cristo e no Espírito Santo. Preparando-nos bem e comungando o Corpo e o Sangue de Cristo, saímos da Missa como verdadeiras procissões, na simplicidade de nosso dia a dia, mas capazes de fazer transbordar o que vivemos na Eucaristia.

Entretanto, entremos em nossos corações. No Sermão da Montanha, há um precioso ensinamento: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,6). Entrar no quarto escondido de nossa alma, ouvir o Senhor, que nos fala no silêncio, agradecer, pedir, chorar, reclamar, acolher seus planos de amor. Ninguém precisa saber! Deus sabe! Este é um ato profundo de fé! Deus está presente e acolhe nossas preces!

E dele passamos à oração de adoração, diante de Jesus Eucaristia, presente em todos os Tabernáculos, pelo mundo afora. Cresce a prática da Adoração em tantos lugares, e vale a pena acolher o precioso ensinamento do Papa Francisco, na Epifania de 2020: “Descubramos de novo a adoração como exigência da fé. Se soubermos ajoelhar diante de Jesus, venceremos a tentação de olhar apenas aos nossos interesses. Adorar é fazer o êxodo da maior escravidão: a escravidão de si mesmo. Adorar é colocar o Senhor no centro, para deixarmos de estar centrados em nós mesmos. É predispor as coisas na sua justa ordem, reservando o primeiro lugar para Deus. Adorar é antepor os planos de Deus ao meu tempo, aos meus direitos, aos meus espaços. É aceitar o ensinamento da Escritura: ‘Ao Senhor, teu Deus, adorarás’ (Mt 4, 10). ‘Teu Deus’: adorar é sentir que nos pertencemos mutuamente, eu e Deus. É tratá-lo por ‘tu’ na intimidade, é depor a seus pés a nossa vida, permitindo-lhe entrar nela. É fazer descer sobre o mundo a sua consolação. Adorar é descobrir que, para rezar, basta dizer ‘Meu Senhor e meu Deus!’ (Jo 20, 28) e deixar-me invadir pela sua ternura. Adorar é ir ter com Jesus, não com uma lista de pedidos, mas com o único pedido de estar com ele.”

Mas a oração pode e deve acontecer também nos momentos mais difíceis. Tive a alegria de ouvir do Servo de Deus Cardeal Van Thuan o relato que que nos períodos mais duros de sua longa estada de treze anos na prisão, quando sentia a tentação do desespero, apenas repetia os nomes de Jesus e Maria, o que lhe restituía a paz e a serenidade. Vale experimentar!

E como nos conhece, o Senhor nos deu de presente o “Pai Nosso”, na qual todos os sentimentos de fé em relação a Deus se fazem presentes na primeira parte da oração, assim como todas as necessidades essenciais da vida são resumidas na segunda parte. No rastro da oração do Pai Nosso encontramos uma infinidade de orações nascidas da piedade dos cristãos, na sucessão dos tempos, assim como tantas preces espontâneas com as quais o Espírito Santo nos ilumina para entrarmos em comunhão com Deus. E não nos esqueçamos da “Ave Maria”, oração de profunda raiz bíblica e de verdade professada pela Igreja!

É preciso rezar sempre! Demos a palavra ao Senhor, que tem toda a autoridade para recomendar-nos: “Pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta. Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu saberá dar o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lc 11,9-13).