Nomeado bispo de Palmeira dos Índios (AL) na manhã desta quarta-feira, 19, pelo Papa Francisco, o padre Manoel Filho, sacerdote diocesano de Bragança (PA), conta detalhes dos últimos dias que antecederam a publicação de tal nomeação. Em entrevista ao site da CNBB Norte 2, o presbítero relembrou momentos de sua infância e primeiro contato com a fé católica. Confira:
Padre Manoel, como foi comunicada a nomeação ao senhor e agora qual o sentimento que domina seu coração?
Padre Manoel: Recebi um telefonema no final de novembro. Eu não atendi pois não estava na Paróquia, estava visitando e confessando uns doentes, mas tive de vir na Igreja para um atendimento de um casal e recebi o recado de que deveria retornar uma ligação para Brasília. Nem cheguei a retornar, a Nunciatura me ligou novamente algum tempo depois de ter recebido o recado e então me comunicaram a decisão do Papa. Eu fiquei sem chão, sem ar, sem nada. Pensei até que não fosse algo sério, pensei que não era verdade. Eu fiquei me perguntando: ‘por que eu?’. Olha, já tive muitos colegas, amigos padres, que foram nomeados. Todos eles estudados, com mestrado, doutorado. E agora eu? Bispo? Foi uma surpresa grande! Depois conversei com meu bispo, Dom Jesus e fui me tranquilizando naquilo que podia me tranquilizar. O chamado é de Deus, eu fiquei sem chão e estremeci, mas sei que Nossa Senhora me acompanhou nestes anos de sacerdócio e não vai me desamparar nunca.
O senhor teve uma infância bem vivida na fé e no seio das comunidades. Quais experiências tem deste tempo?
Padre Manoel: Eu sou o quarto de dez irmãos. Sou filho de agricultor e me considero agricultor também. Até hoje, por onde eu passo eu planto e colho. Trabalhei com meu pai na roça até o momento de entrar para o Seminário em 1983. Lá em casa aprendi com meu pai e minha mãe a rezar o terço, eu lembro bem da gente rezando o terço de Nossa Senhora na casa de barro. Nós não tínhamos Igreja perto de nós. Ouvíamos a Missa pelo Rádio desde o início da década de 80. Mas a fé foi cultivada ali, em nossa família. Depois surgiram as comunidades, aí me envolvi na Igreja. Eu era o único menino da minha comunidade que sabia ler, cheguei uma vez pro culto dominical e alguém me deu o boletim da Missa e disse: ‘toma, hoje você vai ler essa leitura aqui’. Então me envolvi no trabalho das comunidades e me animei tanto que em 1983 a Irmã Raimunda Dorilene me convidou para ir pro Seminário e eu aceitei. Fui e descobri minha vocação!
Seja na caminhada vocacional ou no ministério sacerdotal o senhor sempre teve essa ligação com a Igreja de Bragança. Como Bispo no agreste alagoano o senhor deixará o serviço nesta Igreja particular do nordeste paraense. Qual sua mensagem a todos de Bragança?
Padre Manoel: Fui gerado na fé aqui nesta Diocese, minha gratidão é infinita à esta Igreja particular. Eu sempre terei esse carinho. Sempre trabalhei aqui, as paróquias que assumi todas foram aqui. Sou profundamente agradecido a Deus por ter servido este povo.
O senhor está levando para o episcopado o mesmo lema de sua ordenação presbiteral. Por que a resposta de Pedro a Jesus após aquela pesca sem resultados lhe toca tanto?
Padre Manoel: Eu era seminarista, devia estar no primeiro ano de Teologia. Estava acompanhando o então Pe. Carlos Verzeletti (hoje, Bispo de Castanhal) numa visita aos festejos de uma comunidade. Chegando lá, o padre me pegou de surpresa, me trouxe o boletim da Missa e disse: ‘toma, leia e vá rezar com este evangelho, hoje você fará a reflexão da Palavra’. Eu lembro que naquele dia fiquei tão comovido e tocado com essa palavra que decidi fazer dela o meu lema sacerdotal. Agora como bispo quero continuar com este lema. Por que? Porque eu tenho que olhar pra Pedro e Jesus e ver em quem devo confiar, mesmo que eu falhe, mesmo que eu seja fraco, só tenho que confiar n’Ele, dar atenção à voz e às palavras d’Ele, porque eu mesmo não tenho forças.
Padre Manoel, há alguma inspiração pro seu ministério episcopal?
Padre Manoel: Eu aprendi muito de Dom Carlos Verzeletti e toda sua ação pastoral me toca bastante. Mas tenho profunda admiração por dom Pedro Casaldáliga. E tenho esperança de um dia ainda conhecê-lo pessoalmente. Dom Hélder Câmara que já não está entre nós também é uma inspiração, sempre o li e reli várias vezes quando buscava textos que me ajudassem no ministério. E também tenho gratidão e carinho a Dom Jesus que é um grande pastor, bem como dom Luís Ferrando (bispo emérito de Bragança) que foi meu reitor no Seminário.
Padre Manoel, no Pará é forte a devoção mariana e a gente percebe seu grande carinho por Nossa Senhora. Qual a origem desta devoção ?
Padre Manoel: Aprendi sobretudo com minha mãe, ela é um modelo de devoção a Nossa Senhora. Hoje ela está com 84 anos mas ainda nutre essa devoção e eu aprendi com ela. E sabe que interessante, a maioria das paróquias que passei (não passei em muitas) foram sob a proteção de Nossa Senhora. Graças a Deus! Sempre me senti seguro no colo dela. Ontem dom Genival (que estava na administração apostólica da Diocese de Palmeira dos Índios) me contou por telefone que lá a padroeira da Catedral e da Diocese é Nossa Senhora do Amparo, fiquei muito feliz sabendo disso. Sei que ela me acompanha e me ampara!
A partir de agora, da sua nomeação, quais os próximos passos e o que o senhor já sabe da Diocese de Palmeira dos Índios?
Padre Manoel: Eu ainda tenho Paróquia (risos). Tenho que ver agora a transição de pároco com dom Jesus (bispo de Bragança). Devo ficar por lá até fevereiro. Minha ordenação será em Bragança no dia 24 de fevereiro. Em março devo chegar em Plameira dos Índios. Já estamos vendo a data com dom Genival. Hoje ou amanhã anunciaremos a data. Sobre Palmeira dos Índios eu não conheço nada. Nunca estive no estado de Alagoas e o nordeste mesmo eu só estive duas vezes e, em ambas, não conheci quase nada. Numa vez fui para o interior do Ceará para um retiro. E em outra para Recife, fui a um congresso de sociologia. Eu tô encarando como uma missão do Reino. Não conheço nada deste povo que me espera. Meu plano agora é conhecê-los, escutá-los e caminhar com eles. E depois, eu não tô indo para um país distante (risos). Tô indo aqui do lado, região vizinha, no nosso Brasil. Se Deus me deu este povo, Ele vai me ajudar a guiá-l0s. Eu estou indo para lá para fazer comunhão.