Escuta das Juventudes da Amazônia Manaus/AM, 09 de setembro de 2018

Nós, jovens da Amazônia brasileira, reunidos e reunidas em Manaus entre os dias 07 a 09 de setembro de 2018, na escuta para o sínodo da Amazônia, que será realizado em outubro de 2019, afirmamos que essa experiência de escuta da Igreja da Amazônia, com o olhar a partir do nosso chão, é um momento único na nossa história.

Somos jovens indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, habitantes da zona rural e urbana de nossas cidades, moradores das periferias, das fronteiras. Expressamos nossa fé, nossa cultura, nossa espiritualidade, nossa crença das formas mais plurais e diversas, seja no toque dos atabaques, no som dos maracás, no batuque dos tambores, na melodia do violão, na batida dos nossos pés e na expressão dos nossos corpos. Com olhar amoroso, cuidadoso e esperançoso com a criação, afirmamos que é possível trilhar novos caminhos para a Igreja a partir de uma conversão ecológica.

Nós, jovens, somos afetados diretamente pelas ameaças que dia a dia excluem, matam, degradam e cerceiam a vida dos povos. Os grandes projetos, como a construção de hidroelétricas, a exploração do minério, as indústrias, os garimpos, contaminam nossos rios, invadem nossos territórios e nos condenam a uma vida sem qualidade e plenitude, atestando a ausência de políticas públicas e de adequada regulação do Estado. O livre acesso nas fronteiras ameaçam a vida das mulheres, crianças e adolescentes que são explorados, abusados, traficados e prostituídos para atender uma lógica que transforma as pessoas em mercadorias.

O narcotráfico, o extermínio dos jovens nas cidades, os problemas relacionados à saúde mental e suicídio são ameaças em nossa realidade particular. A desvalorização e banalização dos elementos da cultura indígena, a falta de agilidade nos processos de demarcação dos territórios, o infanticídio causado pelo avanço do agronegócio, a imposição fundamentalista da religião cristã representam graves problemáticas à vida dos povos indígenas, a quem devemos ter um olhar especial durante este Sínodo.

Unindo as vozes de todas as juventudes organizadas na Amazônia e, por meio do trabalho que a Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM propõe, sonhamos com os novos caminhos que a Igreja trilhará, sobretudo um caminho de vida plena e garantia de direitos das e para as juventudes.

É urgente que a Igreja reconheça, valorize, apoie e fortaleça a participação das juventudes, levando em conta a pluralidade quanto às formas de identidade e campos de atuação, assumindo de forma afetiva e efetiva as diretrizes presentes nos documentos já construídos pela própria Igreja (Concílio Vaticano II, Civilização do Amor – CELAM, Doc. 85 – CNBB, Doc. De Aparecida, Sínodo da Juventude).

Reafirmamos que é importante para a Igreja aprofundar a consciência amazônica na linha da Ecologia Integral, das questões socioambientais, da Espiritualidade Ecológica e da justiça intergeracional, de forma especial, nos processos que tocam a vida das juventudes. Para uma Igreja com rosto amazônico, é importante a abertura de novos ministérios, principalmente levando em conta a presença da mulher e dando voz ativa a elas nos espaços decisórios.

Juventudes da Amazônia brasileira, em sintonia com toda a juventude dos países amazônicos, queremos uma Igreja inculturada, que respeite a diversidade das juventudes dos povos amazônicos, que resistem e assumem as lutas nos diferentes espaços em que estão inseridos. Pedimos, à hierarquia eclesial e a todo o povo de Deus, coragem para responder aos desafios do nosso século e que possam acreditar na beleza da novidade que a juventude traz.

É preciso o mesmo carinho e cuidado que o Papa Francisco traz ao se dirigir à juventude como “profetas da esperança”. O pontificado de Francisco lança sopros de alegria e novidade no seio da Igreja no processo de escuta do Sínodo da Juventude e Sínodo para a Amazônia. Confirmamos o nosso apoio e estamos ao lado daquele que faz opção por uma “Igreja pobre e para os pobres”.

Sonhamos uma Igreja na qual as juventudes sejam protagonistas e que as mulheres tenham voz e vez; uma Igreja que promova e defenda a vida em todos os âmbitos, sem medo de assumir e atuar na opção preferencial pelos pobres, a luta dos povos indígenas, comunidades tradicionais, urbanas, migrantes e, finalmente, todos os jovens da

Amazônia; uma Igreja menos clerical, em que os leigos e leigas, especialmente as juventudes, se apropriem, sejam protagonistas na ação pastoral e tenham apoio na capacitação técnica para sua atuação, dentro e fora dos espaços eclesiais.

Rememos ligeiro, façamos puxirum. Com as canoas da paz e as cuias do amor, seguimos no chão da Amazônia acreditando nessa Igreja em saída, que tem cheiro do povo e da floresta, que se coloca em atitude de escuta, fazendo história e lutando pela vida das juventudes.

Na certeza da construção de uma cultura de paz, no chão da Amazônia, assinam:

Juventudes indígenas da Amazônia; Pastoral da Juventude dos regionais Norte 1, Norte 2, Norte 3, Noroeste, Nordeste 5; Missão Jovens Sarados – Manaus/AM;

Irmãos e Leigos/as Maristas, Irmãos das Escolas Cristãs – La Salle; Juventudes

Salesianas; Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental/SARES; Sociedades das Missões Estrangeiras; Movimento dos Focolares; Juventude Missionária Redentorista/JUMIRE; Pastoral Universitária; Pastoral Juvenil – CNBB; Fé e Alegria; Juventude Missionária e COMIRE – Norte 2; Pastoral Juvenil – Oeste 2; Setores Diocesanos das Juventudes unidos pela REPAM Juventudes.

 

Durante os dias 7, 8 e 9 de setembro, 30 jovens de seis regionais se reuniram em Manaus e ao final saiu a Carta acima, saiba mais sobre como foi esse Encontro no link abaixo

Jovens reconstroem o mapa da Amazônia Legal, estudam e refletem sobre o Sínodo.