por Dom Paulo Andreolli, SX
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

Caros leitores, neste último domingo do Ano Jubilar, quero agradecer pela feliz oportunidade de estarmos juntos semanalmente e dizer que seguimos firmes para o ano de 2026.

Hoje, a Igreja nos concede a alegria de celebrar a Sagrada Família de Nazaré, sendo chamados a renovar, no tempo presente, a esperança de que a família – mesmo em meio às crises e desafios – continua sendo o lugar privilegiado onde o amor se faz cotidiano, o perdão é possível e a fé se transmite de geração em geração. Para esta conversa, conto com a colaboração de Ir. Maria Rejiane da Mata Dias, Filha da Caridade.

Na liturgia da Festa da Sagrada Família nos é oferecida uma rica meditação sobre o papel da família no projeto de Deus. As leituras nos conduzem a uma visão profundamente humana e espiritual da vida familiar, que, longe de ser idealizada, é marcada pela fidelidade, pelo sacrifício e pela presença de Deus em cada etapa.

A primeira leitura, do livro do Eclesiástico (Eclo 3,3-7.14-17a), exalta o valor do relacionamento entre pais e filhos. A quem honra o pai, Deus perdoa os pecados. A quem respeita sua mãe, Deus concede tesouros. A família aparece como o lugar sagrado da transmissão de valores e da vivência do mandamento do amor e da honra.

Na segunda leitura (Cl 3,12-21), São Paulo oferece conselhos práticos para a vida em comunidade – e, por extensão, para a vida familiar. Misericórdia, humildade, paciência, perdão e gratidão são virtudes essenciais para cultivar relacionamentos duradouros. O apóstolo lembra: “Acima de tudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição”.

No Evangelho (Mt 2,13-15.19-23), encontramos a Sagrada Família vivendo a dureza da realidade humana: a fuga para o Egito, o medo da perseguição, a busca por um lugar seguro para recomeçar. José, guiado por sonhos e pela escuta de Deus, protege sua família com coragem e fé. Maria, em silêncio, confia no plano divino mesmo diante da incerteza. Jesus, ainda menino, aprende no seio dessa família o valor da vida simples e da obediência a Deus.

A Sagrada Família não viveu em um palácio, mas em uma casa pobre. Não foi poupada de dificuldades, mas permaneceu unida. Não teve tudo sob controle, mas confiou sempre. Essa é a grande mensagem para nossas famílias hoje: não é a ausência de problemas que define uma família santa, mas a capacidade de viver cada situação com fé, amor e confiança em Deus.

Num tempo em que tantas famílias enfrentam instabilidade, violência, desemprego, separações dolorosas ou crises na educação dos filhos, o testemunho de Maria, José e Jesus nos encoraja a perseverar. Eles nos mostram que a santidade familiar é construída no cotidiano: no trabalho honesto, na partilha do pão, na escuta, no cuidado mútuo e na presença de Deus.

Além disso, a liturgia de hoje é um forte apelo à missão da família na sociedade. A casa de Nazaré não foi fechada em si mesma. Pelo contrário: tornou-se o berço de uma missão que transformou o mundo. Assim também nossas famílias são chamadas a ser “Igrejas domésticas” – lugares de oração, diálogo, formação, acolhida e anúncio do Evangelho.

A vocação à vida familiar é um dom de Deus, mas também uma missão exigente. Requer dedicação, diálogo, paciência, reconciliação constante. É na família que aprendemos a amar e a ser amados, a lidar com limites, a servir, a perdoar. Em tempos de relativismo e individualismo, a família cristã é sinal profético de comunhão, de compromisso duradouro e de abertura à vida.

A Festa da Sagrada Família nos convida a rezar pelas famílias, especialmente aquelas que mais sofrem. A celebração nos chama também a redescobrir a vocação familiar como caminho de santidade possível, mesmo em tempos difíceis.

Que nossas famílias, à imagem de Jesus, Maria e José, sejam lares de acolhida, espaços de fé, escolas de amor e sementes de paz para o mundo. Que cada lar se torne um lugar onde Deus possa habitar, onde o Evangelho se viva e onde a esperança seja cultivada todos os dias.

“Ó Deus, que nos destes os luminosos exemplos da Sagrada Família, concedei que, imitando-a em suas virtudes familiares e em seu espírito de caridade, possamos gozar um dia dos prêmios eternos nas alegrias da vossa casa”. Amém.

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