
por Vívian Marler/ Assessora de Comunicação doRegional Norte 2 da CNBB
fotos Luiz Estumano / Fundação Nazaré
Em um ato profético de convergência, representantes da Igreja Católica do Sul Global e da Europa, cientistas e líderes indígenas se reuniram na tarde desta terça-feira, 12 de novembro, no Colégio Santa Catarina de Sena, em Belém (PA), para emitir um chamado unificado por justiça climática e integralidade da criação, consolidando propostas que devem pautar as negociações da COP30.
O encontro, que culminou em uma celebração mariana, reforçou a urgência das NDCs Indígenas, denunciou o “capitalismo verde” e a mentalidade exploratória, e resgatou o legado da Igreja no cuidado com a Amazônia, reafirmando que a esperança reside na ação imediata e na mobilização popular.
O Palco da Esperança: Símbolos da Urgência e da Aliança
O simpósio não foi apenas um debate, mas um ato litúrgico e profético. No centro do palco, um tecido chamado “Rio da Esperança”, trazido pelo movimento Laudato Cíclico Roma a Tepele, simbolizou a unidade e a responsabilidade compartilhada sobre as águas. Ao lado, um ícone de madeira em formato de cruz continha água derretida de um bloco de gelo da Groenlândia, abençoada pelo Papa Francisco, que peregrinou por santuários brasileiros até ali. Estes objetos materializam a crise e a fé que move a ação.
Belém: Convergência Profética entre Espiritualidade e Urgência Global
A iniciativa “Igreja Rumo à COP30” transformou Belém em um fórum de mais de cem instituições católicas na defesa da ecologia integral. Inspirada pela Laudato Si’, a articulação se tornou um movimento sinodal que ecoa os alertas do Papa Francisco sobre a crise climática como uma “ferida espiritual e moral”. O evento reafirmou que defender a casa comum exige uma conversão que transcenda soluções técnicas, atingindo o cerne da nossa relação com o Criador e a criação.
O Legado de Conversão Ecológica na Igreja Brasileira
O Cardeal Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus, detalhou a longa jornada da Igreja no Brasil, desde as Campanhas da Fraternidade (CPF) – iniciativas anuais que, desde 1979, já alertavam para a conservação de recursos. Este caminho histórico pavimentou o engajamento atual. Projetos práticos, como a recuperação de áreas degradadas na Ecovila Iandé, ilustram que a conversão ecológica da Igreja é uma prática de cuidado e resiliência contra o modelo focado no lucro.
A Denúncia do Sul Global: Exploração com Rosto e Endereço
Vozes do Sul Global trouxeram a dimensão da injustiça inerente à crise. O Cardeal Ambongo (África) denunciou seu continente como “empobrecido e saqueado de suas riquezas (minerais estratégicos)”, funcionando como uma “mina de ouro aberta a todos os ladrões”. A exploração agrava os eventos climáticos extremos e força a juventude a emigrar.
Alertas da Ásia e do Pacífico
O Cardeal Neri (Ásia) alertou sobre o derretimento de geleiras e a migração climática, criticando o “capitalismo verde” por violar os direitos dos povos indígenas em busca de minerais críticos. Dom Jiménez (Pacífico) lamentou o risco de desaparecimento de nações inteiras, como Tuvalu, devido ao aumento do nível do mar e à exploração de fundos marinhos.
O Compromisso da Europa e a Justiça Financeira
Reconhecendo desafios internos, como a guerra na Ucrânia, o Cardeal Nemets (Europa) prometeu pressionar a Comissão Europeia para reduzir emissões e, crucialmente, diminuir o *gap financeiro* necessário para a adaptação climática no Sul Global, traduzindo a fé em caridade concreta.
Sacralidade vs. Mentalidade Calculista: Um Choque de Visões de Mundo
A crise é profundamente espiritual. A Bispa Marinês destacou a sacralidade de tudo que existe segundo as cosmovisões indígenas, confrontando a “mentalidade calculista” que reduz a natureza a objetos de cálculo e lucro. Essa visão opõe-se à Doutrina Social da Igreja, que exige o cuidado com a Terra e com os pobres como uma obra única de amor e justiça.
A Evidência Científica Inegável: A Urgência de 1,5°C
A Dra. Ima Vieira apresentou dados irrefutáveis: o aquecimento global já ultrapassa 1°C, e na Amazônia, a degradação florestal supera o desmatamento. O consenso científico é claro: limitar a 1,5°C é essencial, pois cada décimo de grau adicional aumenta exponencialmente os riscos. A ciência nos ensina: se esperarmos, pode ser tarde demais.
NDCs Indígenas: A Estratégia Climática Comprovada
O movimento indígena brasileiro propõe as NDCs Indígenas, exigindo demarcação e proteção de territórios como política efetiva de enfrentamento à emergência climática. Kleber Karipuna reforçou que quase 50% das florestas amazônicas são conservadas por esses povos, detentores de conhecimento milenar. A Aliança de Comunidades Territoriais protege quase 979 milhões de hectares de florestas tropicais.
A Força da Mobilização Popular
Apesar das frustrações nas Zonas Azul e Verde, a sensação geral é que a mobilização popular é o fator decisivo. Mariluz destacou a esperança vista na participação ativa das pessoas locais e das populações originárias, um elemento essencial para impulsionar as mudanças necessárias.
Síntese e Caminhos para o Jubileu
Dom Jaime sintetizou o encontro, reiterando a máxima do Papa Francisco: “Estamos todos no mesmo barco, ou nos salvamos juntos, ou não sabemos.” Ele enfatizou a interligação de todas as coisas, que conduz à obra do cuidado. Quatro pontos foram destacados: a missão conjunta de defensores das florestas; a memória de uma igreja comprometida em contraste com o mundo calculante; a clareza da ciência e a urgência de agir agora; e a aliança da Igreja com os povos indígenas para a defesa de seus territórios. O ano jubilar convida a um novo começo, buscando justiça e vida plena para todos.
A Esperança é uma Pessoa
Dom Jaime concluiu sua síntese lembrando que a esperança não é um conceito abstrato, mas uma pessoa, que é vida, verdade e caminho, reforçando o chamado à perseverança mesmo diante da realidade difícil.
Ao final do simpósio, o Padre Arnaldo fez questão de agradecer formalmente às instituições que tornaram o evento possível, citando a TV Nazaré, a CNBB (organizadora), a Selam, o Vaticano, a Anunciatura, as Universidades, a CRB, o Colégio Santa Catarina de Sena (pela acolhida), e todos os colaboradores que trabalharam na preparação do encontro.
O Simposio foi selado com a ave-maria conduzida por Dom Jaime, incluindo a invocação à Virgem Maria, a bênção final, proferida por Dom Jaime, invocou a paz: “Que o Senhor vos abençoe e vos guarde… e a todos conceda a tão desejada paz.” O encerramento litúrgico foi seguido pelo convite para a peregrinação com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, ao som do canto “Pelas Estradas da Vida” que seguirá até a Basilica de Nazaré.
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