por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

O parágrafo 119, do documento final do Sínodo dos bispos sobre os jovens, nos diz que a prioridade da pastoral juvenil é uma escolha que exige investimento de “tempo, energias e recursos”.  Essa ideia aparece também na Exortação Apostólica Christus Vivit afirmando: “qualquer plano de pastoral juvenil deve conter claramente meios e recursos variados para ajudarem os jovens a crescer na fraternidade, viver como irmãos, auxiliar-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximar-se dos pobres” (CV,215). Estamos diante de três importantes compromissos que merecem atenção, pois servem tanto para a promoção da Pastoral Juvenil quanto para outras pastorais.

  1. O cuidado exige tempo

Uma vez que a Igreja renova continuamente a sua opção preferencial pelos jovens (cf. CELAM, Doc. Puebla, 1166-1168ss), devemos levar a sério as suas consequências. Uma delas é o tempo dispensado a serviço da pastoral juvenil. Uma pastoral juvenil consistente, requer a dedicação de tempo qualificado aos jovens; pastoral é relação e, por isso, ela não há existe sem tempo dedicado para o cuidado. Jesus gastava tempo com as pessoas!

Quem emprega um tempo insuficiente para realizar um serviço, não está levando a sério a quem está sendo servido. “A pressa é inimiga da perfeição”. Por outro lado, o pouco tempo de convivência pastoral com os jovens pode significar obviamente, sinal de pouco Amor a eles. Quem ama gosta de estar com o(s) sujeito(s) amado(s). A Caridade Pastoral, aquela que brota do coração do Bom Pastor, é também generosa no tempo dedicado (cf. Ez 34,-17; Jo 10,1-17). Nesses dois provocantes textos o tempo empregado ao cuidado das ovelhas está repleto de muitas ações, gestos, esforços, atitudes.

Uma pastoral juvenil séria demanda o emprego do tempo necessário para muitas atividades e favorecer processos: tempo para a elaboração de planos pastorais, tempo para organizar projetos socioeducativos e agendas específicas (diocesana e paroquiais); tempo para a formação de lideranças juvenis, leigos, padres e seminaristas; é preciso dedicar tempo para a promoção de processos educativos, articular e programar celebrações especiais, encontros periódicos, retiros, experiências missionárias e participar de eventos diocesanos, regionais e nacionais; tempo para a escuta, acompanhamento, orientação, convivência informal, etc.

Não existe educação e evangelização dos jovens onde não há investimento de tempo; somos educadores-pastores dos jovens porque eles fazem parte do rebanho que nos foi confiado e somente quem gasta tempo com o outro, pode cuidar e comprovar que ama. Recordemos Saints Exupéry: “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.” Há uma íntima relação entre amor e tempo. Por outro lado, o conhecimento das ovelhas pressupõe tempo de convivência (cf. Jo 10,14-15). Quem não ama, “nunca tem tempo”… Na verdade, ninguém prioriza nem gasta tempo com quem não tem interesse.

  1. Investir energia

A segunda consequência da prioridade da Pastoral Juvenil é o investimento de energias! O termo “energia” está relacionado à dinamismo, força, potência, vigor, ânimo, esforço, movimento transformador, renovação, crescimento. No mundo biológico onde não há investimento de energia, acontece a paralisia, a regressão e a morte.

Esse amplo significado de energia nos possibilita refleti-la em diversas perspectivas. Jesus Cristo, o Bom Pastor declarou: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10); “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10,11); “se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24). “Eu te glorifiquei na terra. Terminei a obra que me deste para fazer” (Jo 17,4).

Esses e tantos outros versículos nos falam de energia dispensada, dedicada, investida em prol da humanidade; para Jesus foi suor, sangue e lágrimas derramadas pela salvação da humanidade. Para o investimento de energias é preciso dedicação de tempo. Logo, quem não dedica tempo a uma causa, consequentemente, não vai queimar energias em prol dela. Sem dedicação e nem esforço não há investimento de energias. A “autoconservação” é sinal de infidelidade à missão recebida. O mercenário não luta, mas foge, quando deveria defender as ovelhas (cf. Jo 10,12-13).

Maria dedicou tempo e energia para servir a sua prima Isabel e o mesmo fez em Caná da Galiléia (cf. Lc 1,39; Jo 2,1-11). O que poderíamos imaginar da carga de energia afetiva, emocional e espiritual que Maria gastou acompanhando Jesus sendo torturado e crucificado no monte Calvário? Sem o investimento de energias não temos preocupação, estresse, dores de cabeça, tensão, boas colheitas… Tudo fica estéril. Por isso São Paulo nos alerta: “aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará. Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria” (2Cor 9,6-7).

A pastoral juvenil (como as outras pastorais) é um compromisso que requer a disponibilidade de recursos humanos (assessores, líderes, coordenadores, apoiadores…);  gastar energias significa ser presença animadora que escuta, acompanha, orienta, capacita, convive, participa da vida deles… Energia na vida pastoral significa afeto dedicado, exercício de inteligência à serviço da pastoral juvenil, paciência nos processos; energia significa esforço de redimensionamento, reconfiguração pastoral e conversão missionária. Todavia, a mais forte energia que podemos dispensar aos jovens é o nosso calor afetivo, amistoso, fraterno e paterno.

Dentre as muitas energias que poderiam estar com mais abundância a serviço da educação e evangelização dos jovens, temos as energias carismáticas presentes em nossas dioceses e paróquias que fortalecem a Pastoral juvenil e promove a mentalidade sinodal. Um carisma que se fecha às necessidades da Igreja e só se manifesta como estratégia oportunista para ganhar mais um, está perdendo o sentido da sua existência. Enfim, merece observação a necessidade do equilíbrio do emprego de esforços na gestão pastoral, pois, todas as categorias do povo de Deus devem ser beneficiárias da mesma atenção pastoral. O desequilíbrio de atenção e cuidado gera mal-estar.

  1. O investimento de recursos

O terceiro investimento a ser feito na pastoral juvenil, diz respeito aos recursos. Isso significa a promoção e disponibilidade de meios necessários para que as iniciativas desejadas aconteçam e contribuam para a promoção da finalidade da Pastoral Juvenil.

Há uma variedade de recursos que, sem os quais, a pastoral juvenil fica atrofiada. O fortalecimento da pastoral juvenil, que contribui para a revitalização da Igreja, necessita de recursos humanos, recursos técnicos, pedagógicos, financeiros e estruturais.

O mais importante de todos os recursos são os humanos. Nenhum recurso técnico supera o dinamismo humano, sobretudo, quando o sujeito disponibiliza seus talentos e virtudes, inteligência, vontade e afetividade a serviço de uma causa. A pessoa é insubstituível e se torna capaz de grandes feitos quando é líder virtuosa, capaz de acolher, dialogar, estimular, valorizar as pessoas e despertar nelas o interesse pelo próprio desenvolvimento.

Importante categoria de recursos estratégicos são aqueles de natureza técnica e pedagógica. Trata-se da providência de instrumentos que favorecem a educação e a evangelização dos jovens porque os estimulam a participar de atividades que vão ao encontro dos seus interesses e potencialidades a serem estimuladas, como é o caso de investimentos em instrumentos musicais, esportivos, atividades artísticas etc. Mas não basta disponibilizar equipamentos, é preciso organizar projetos educativos e com educadores competentes que possam acompanhar as atividades. Quase em todo lugar há sempre pessoas competentes que até podem ser voluntárias. As atividades de danças, artes marciais e esportes sempre atraem pessoas e que desejam contribuir como voluntárias.

Outros investimentos de grande importância e que temos em muitos lugares são as nossas estruturas físicas: galpões, salas, salões, auditórios, quadras esportivas, campos de futebol etc. Que bom constatarmos que em muitas paróquias temos tudo isso, mas é também lamentável o fato de muitas ficarem a maior parte do tempo fechadas. Por que não colocar essas estruturas a serviço da pastoral juvenil? Eis aí espaços disponíveis para a promoção do oratório festivo! Para quem o desejar compreendê-lo e organizá-lo acesse o link abaixo.

https://arquidiocesedebelem.com.br/orientacoes-pedagogicas-e-pastorais-para-oratorios/

O Oratório Festivo requer pouco investimento e promove grande impacto positivo. A pastoral tem necessariamente uma dimensão econômica. Lá onde, não há paixão pastoral, há miopia na percepção das dimensões da vida pastoral e, como fruto, o crescimento da evangelização fica atrofiado. Lamentavelmente, onde isso acontece não há inquietude pastoral e impera o mínimo esforço para a pura conservação do que resta.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Como você percebe a dedicação de tempo para a Pastoral Juvenil na sua paróquia?
  2. Como você entende as energias a serem investidas na Pastoral Juvenil?
  3. Na sua paróquia há estruturas ociosas que poderiam ter uma destinação pastoral? O que você pode fazer para mudar essa realidade?