por Alfonso J. Dávila Lomelí, OAR / Vida Nova Digital
A Amazônia não é uma periferia distante. É um espelho que devolve à Igreja universal uma imagem de comunhão, escuta e compromisso que interpela. Assim viveu Jesús María López Mauleón, agostiniano recoleto e bispo nesta vasta região, a prelazia do Alto Xingu Tucumã, ao participar da recente assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), realizada na sede do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM), em Bogotá, Colômbia. Sua experiência oferece chaves para um caminho eclesial que poderia fecundar também a velha Europa.
Na CEAMA confluem bispos dos nove países amazônicos, junto a sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, representantes de povos originários e equipes de pastoral. O que ali se respirou foi sinodalidade em estado puro. Ainda que esta reunião só teve a presença de Bispos. Não se trata só de reuniões ou estruturas. É uma forma de ser Igreja onde ninguém caminha sozinho e onde a escuta se converte em método e espiritualidade. “Foi uma experiência de comunhão, de diálogo, de oração”, resume Mons. López Mauleón. “Viviam todos unidos, tinham tudo em comum, se escutavam, participavam, compartilhavam”.
Ecos comunitários
Desde sua identidade agostiniana recoleta, o bispo espanhol reconhece neste processo ecos da vida comunitária que Santo Agostinho sonhou para seus seguidores. O ideal de comunhão não como uniformidade, senão como participação ativa e enriquecimento mútuo, se concretiza na missão compartilhada com povos indígenas e comunidades ribeirinhas. Utilizando como metodologia a escuta em Espírito juntos conhecer o que este pede para a Igreja. Uma Igreja que se deixa tocar pelos clamores da terra e dos pobres.
A mensagem do Papa Leão XIV à assembleia recordou três prioridades: anunciar o Evangelho, defender com justiça os povos amazônicos e cuidar da casa comum. Para Mons. López Mauleón, a chave está em não separar estes chamados. “A prioridade é o anúncio do Evangelho”, afirma com convicção, “mas deve ser um pão fresco e limpo, sem aditivos nem ideologias, que se compartilha com singeleza e profundidade”.
Ante a fragilidade
Não se trata de um anúncio abstrato. O bispo fala desde o barro da missão, onde as distâncias são enormes, os recursos escassos e as ameaças reais. A exploração mineira, a pressão das multinacionais, a falta de vocações missionárias e a fragilidade de muitas comunidades marcam o dia a dia. Mas também o fazem a esperança, a fé singela, a fraternidade concreta.
E em meio dessa experiência, surge uma intuição que atravessa o coração do artigo: e se isto fosse possível na Europa? Não como uma cópia, senão como uma inspiração. “Há representantes do episcopado europeu que está sonhando com uma CEAMA para o Mediterrâneo”, revela López Mauleón. A experiência sinodal amazônica poderia ser, em efeito, uma semente de renovação para outras latitudes.
A CEAMA não é um fim em si mesma. É um signo. Um antecipo. Uma pequena profecia do que a Igreja pode chegar a ser quando põe a Cristo no centro, escuta ao Espírito e caminha com os mais pobres. Talvez o futuro não esteja só em gestionar estruturas, senão em deixar-nos desinstalar pelo Evangelho. Como na Amazônia. Como sonha Santo Agostinho. Como começa a sonhar Europa.
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