por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Na manhã deste domingo (5/10), durante o Jubileu do Mundo Missionário e o Jubileu dos Migrantes, Papa Leão XIV, em sua homilia, na Praça São Pedro, reafirmou o compromisso da Igreja Católica com a vocação missionária, buscando levar a alegria e a consolação do Evangelho a todos, especialmente àqueles que enfrentam dificuldades e sofrimentos. O foco se volta, em particular, para os migrantes, que deixam suas terras natais em busca de esperança e dignidade, muitas vezes enfrentando medo, solidão, discriminação e violência.
“Estamos aqui porque, junto ao túmulo do Apóstolo Pedro, cada um de nós deve poder dizer com alegria: toda a Igreja é missionária”, destaca o Papa Leão XIV, incentivando a todos a “sair para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repulsões e sem medo”.
O Jubileu Missionário e dos Migrantes convida a uma reflexão sobre a importância de acolher e amparar aqueles que buscam refúgio e esperança em terras estrangeiras. A Igreja reconhece que as fronteiras da missão não são mais apenas geográficas, mas se manifestam na pobreza, no sofrimento e na busca por uma vida melhor que chegam até nós.
Diante dos desafios enfrentados pelos migrantes, a Igreja se propõe a oferecer acolhimento, compaixão e solidariedade, transformando o “permanecer” em um ato de anúncio do Evangelho. O objetivo é abrir os braços e o coração para aqueles que chegam de terras distantes, oferecendo consolo e esperança em meio às dificuldades.
Neste Jubileu Missionário e dos Migrantes, a Igreja reafirma seu compromisso de ser um farol de esperança para todos, especialmente para aqueles que mais necessitam. Através da acolhida, da compaixão e da solidariedade, a Igreja busca construir um mundo mais justo e fraterno, onde cada pessoa possa encontrar um lugar seguro e digno para viver.
JUBILEU DO MUNDO MISSIONÁRIO E JUBILEU DOS MIGRANTES
HOMILIA DO PAPA LEÃO XIV
Praça de São Pedro
XXVII domingo do Tempo Comum, 5 de outubro de 2025
“Queridos irmãos e irmãs,
celebramos hoje o Jubileu do Mundo Missionário e dos Migrantes. É uma bela ocasião para reavivar em nós a consciência da vocação missionária, que nasce do desejo de levar a todos a alegria e a consolação do Evangelho, especialmente àqueles que vivem uma história difícil e ferida. Penso de modo particular nos irmãos migrantes, que tiveram que abandonar sua terra, frequentemente deixando seus entes queridos, atravessando as noites do medo e da solidão, vivendo na própria pele a discriminação e a violência.
Estamos aqui porque, junto ao túmulo do Apóstolo Pedro, cada um de nós deve poder dizer com alegria: toda a Igreja é missionária, e é urgente – como afirmou o Papa Francisco – que «saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repulsões e sem medo» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 23).
O Espírito nos envia para continuar a obra de Cristo nas periferias do mundo, marcadas às vezes pela guerra, pela injustiça e pelo sofrimento. Diante destes cenários obscuros, reemerge o grito que tantas vezes na história se elevou a Deus: por que, Senhor, não intervéns? Por que pareces ausente? Este grito de dor é uma forma de oração que permeia toda a Escritura e, esta manhã, o ouvimos do profeta Habacuc: «Até quando, Senhor, implorarei ajuda e não ouves […]. Por que me fazes ver a iniquidade e permaneces espectador da opressão?» (Hab 1,2-3).
O Papa Bento XVI, que havia recolhido estas indagações durante sua histórica visita a Auschwitz, retomou o tema em uma catequese, afirmando: «Deus se cala, e este silêncio dilacera a alma do orante, que incessantemente chama, mas sem encontrar resposta. […] Deus parece tão distante, tão esquecido, tão ausente» (Catequese, 14 de setembro de 2011).
A resposta do Senhor, porém, nos abre à esperança. Se o profeta denuncia a força inescapável do mal que parece prevalecer, o Senhor, por sua vez, lhe anuncia que tudo isso terá um término, um prazo, porque a salvação virá e não tardará: «Eis que sucumbe aquele que não tem a alma reta, enquanto o justo viverá pela sua fé» (Hab 2,4).
Há uma vida, portanto, uma nova possibilidade de vida e de salvação que provém da fé, porque ela não só nos ajuda a resistir ao mal perseverando no bem, mas transforma a nossa existência a ponto de torná-la um instrumento da salvação que Deus ainda hoje quer operar no mundo. E, como nos diz Jesus no Evangelho, trata-se de uma força mansa: a fé não se impõe com os meios da potência e em modos extraordinários; basta quanto um grão de mostarda para fazer coisas impensáveis (cfr Lc 17,6), porque carrega em si a força do amor de Deus que abre vias de salvação.
É uma salvação que se realiza quando nos empenhamos em primeira pessoa e cuidamos, com a compaixão do Evangelho, do sofrimento do próximo; é uma salvação que se faz caminho, silenciosa e aparentemente ineficaz, nos gestos e nas palavras cotidianas, que se tornam justamente como a pequena semente de que nos fala Jesus; é uma salvação que lentamente cresce quando nos tornamos “servos inúteis”, isto é, quando nos colocamos ao serviço do Evangelho e dos irmãos sem buscar os nossos interesses, mas só para levar ao mundo o amor do Senhor.
Com esta confiança, somos chamados a renovar em nós o fogo da vocação missionária. Como afirmava São Paulo VI, «a nós cabe proclamar o Evangelho neste extraordinário período da história humana, um tempo verdadeiramente sem precedentes, em que, a ápices de progresso jamais antes alcançados, associam-se abismos de perplexidade e de desesperação também sem precedentes» (Mensagem para o Dia Missionário Mundial, 25 de junho de 1971).
Irmãos e irmãs, hoje se abre na história da Igreja uma época missionária nova.
Se por muito tempo à missão associamos o “partir”, o ir para terras distantes que não tinham conhecido o Evangelho ou viviam em situações de pobreza, hoje as fronteiras da missão não são mais aquelas geográficas, porque a pobreza, o sofrimento e o desejo de uma esperança maior são eles que vêm até nós. A história de tantos irmãos migrantes nos testemunha isso, o drama de sua fuga da violência, o sofrimento que os acompanha, o medo de não conseguir, o risco de travessias perigosas ao longo das costas do mar, seu grito de dor e de desespero: irmãos e irmãs, aqueles barcos que esperam avistar um porto seguro onde parar e aqueles olhos cheios de angústia e esperança que procuram uma terra firme onde aportar não podem e não devem encontrar a frieza da indiferença ou o estigma da discriminação!
Não se trata tanto de “partir”, mas sim de “permanecer” para anunciar Cristo através da acolhida, da compaixão e da solidariedade: permanecer sem nos refugiarmos no conforto do nosso individualismo, permanecer para olhar no rosto aqueles que chegam de terras distantes e martirizadas, permanecer para abrir-lhes os braços e o coração, acolhê-los como irmãos, ser para eles uma presença de consolo e esperança.
São muitas as missionárias, os missionários, mas também os crentes e as pessoas de boa vontade, que trabalham a serviço dos migrantes e para promover uma nova cultura da fraternidade sobre o tema das migrações, além dos estereótipos e preconceitos. Mas este precioso serviço interpela cada um de nós, na pequenez das próprias possibilidades: este é o tempo – como afirmava o Papa Francisco – de constituir-nos todos em um «estado permanente de missão» (Evangelii gaudium, 25).
Tudo isso exige pelo menos dois grandes compromissos missionários: a cooperação missionária e a vocação missionária.
Antes de mais nada, peço-vos que promovam uma renovada cooperação missionária entre as Igrejas. Nas comunidades de antiga tradição cristã como as ocidentais, a presença de tantos irmãos e irmãs do Sul do mundo deve ser acolhida como uma oportunidade, para um intercâmbio que renova a face da Igreja e suscita um cristianismo mais aberto, mais vivo e mais dinâmico. Ao mesmo tempo, cada missionário que parte para outras terras é chamado a habitar as culturas que encontra com sagrado respeito, direcionando para o bem tudo o que encontra de bom e de nobre, e levando a profecia do Evangelho.
Gostaria também de recordar a beleza e a importância das vocações missionárias. Dirijo-me em particular à Igreja europeia: hoje há necessidade de um novo impulso missionário, de leigos, religiosos e presbíteros que ofereçam o seu serviço nas terras de missão, de novas propostas e experiências vocacionais capazes de suscitar este desejo, especialmente nos jovens.
Caríssimos, envio com afeto a minha bênção ao clero local das Igrejas particulares, aos missionários e às missionárias, e àqueles que estão em discernimento vocacional. Aos migrantes, em vez disso, digo: sejam sempre bem-vindos! Os mares e os desertos que atravessaram, na Escritura são “lugares da salvação”, nos quais Deus se fez presente para salvar o seu povo. Desejo que encontrem este rosto de Deus nas missionárias e nos missionários que encontrarem!
Confio todos à intercessão de Maria, primeira missionária de seu Filho, que caminha depressa para os montes da Judeia, levando Jesus no ventre e colocando-se ao serviço de Isabel. Que ela nos sustente, para que cada um de nós se torne colaborador do Reino de Cristo, Reino de amor, de justiça e de paz“.