por Dom Paulo Andreolli, SX
Bispo Auxiliar da arquidiocese de Belém
No mês de agosto, a Igreja no Brasil volta seu olhar para as vocações. Cada domingo é dedicado a refletir sobre uma vocação específica. Neste quarto domingo, celebramos a vocação dos leigos e leigas: homens e mulheres que vivem sua fé de forma ativa nas comunidades, atuando com responsabilidade na missão de evangelizar. Para esta conversa semanal conto com a colaboração de Ir. Maria Rejiane da Mata Dias, Filha da Caridade.
Lembramos que os leigos e leigas são chamados a ser “sal da terra” e “luz do mundo”, como nos ensinou Jesus. Eles são presença viva do Evangelho nas famílias, no trabalho, na escola, na política, na cultura e em tantas outras realidades. Assumem diversos serviços dentro da Igreja e, mais do que isso, testemunham uma vida cristã verdadeira em meio ao mundo, enfrentando desafios com fé e esperança.
O Catecismo da Igreja Católica (n. 898) diz que é missão própria dos leigos buscar o Reino de Deus vivendo no mundo e ordenando tudo conforme os valores do Evangelho. Isso significa que o cristão leigo é chamado a transformar o cotidiano com pequenos gestos de justiça, solidariedade, escuta e amor ao próximo. O que parece simples, na verdade, é essencial.
A liturgia deste domingo nos apresenta um trecho do Evangelho de Lucas (13,22-30) onde Jesus fala sobre a “porta estreita”. Essa imagem simboliza o caminho exigente que leva à salvação. Jesus nos mostra que não basta apenas querer entrar no Reino de Deus. É preciso esforço, decisão e perseverança. Viver segundo os ensinamentos de Cristo exige sacrifício, renúncia e compromisso.
Ao mesmo tempo, Jesus nos alerta sobre a “porta larga”, que representa o caminho fácil, marcado por egoísmo e prazeres passageiros. Esse caminho pode até parecer mais cômodo, mas nos afasta da verdade e do amor que o Evangelho propõe. Por isso, podemos nos questionar: estou me esforçando para seguir a Jesus? Busco praticar o bem, a justiça e o perdão? Tenho me aproximado de Deus?
Um belo exemplo de leigos que assumem com coragem sua vocação é a Pastoral Carcerária. Presente em diversas dioceses do Brasil, inclusive na Arquidiocese de Belém, essa pastoral leva a presença da Igreja aos presídios, onde estão homens e mulheres privados de liberdade, muitas vezes esquecidos pela sociedade.
Os agentes da Pastoral Carcerária – na maioria leigos – não vão aos cárceres para julgar ou condenar, mas para ouvir, acolher e levar uma palavra de esperança. Eles veem nos presos o próprio Cristo que sofre, como disse Jesus: “Estive preso e vocês me visitaram” (Mt 25,36). Essa atitude exige fé profunda, coragem e um coração livre de preconceitos.
Muitos dos que estão presos perderam tudo: a liberdade, o contato com a família, a autoestima e a dignidade. A Pastoral Carcerária atua justamente aí: resgatando o que foi perdido, mostrando que todo ser humano pode mudar, recomeçar, reconstruir a vida com dignidade. Isso é evangelizar com amor e misericórdia.
A missão dessa pastoral vai além da visita. É uma presença constante, feita de escuta, oração, diálogo, denúncia das injustiças e anúncio da Boa Nova. Quem participa desse serviço sabe que não é fácil, mas sabe também que é possível a transformação de vidas quando se acredita no amor de Deus.
Evangelizar nos presídios é um gesto concreto de fé. É viver a vocação laical com profundidade. É entender que o Evangelho precisa chegar também aos lugares mais difíceis e aos corações mais feridos. Como Jesus fez com o ladrão crucificado ao seu lado, a Igreja, por meio dessa pastoral, estende a mão, oferece perdão e mostra que Deus não desiste de ninguém.
Neste domingo dedicado aos leigos e leigas, somos convidados a agradecer por tantos que se dedicam com alegria e coragem à missão da Igreja. E mais do que agradecer, somos chamados a agir. Cada um de nós pode ser uma luz onde estiver. Podemos transformar o mundo ao nosso redor com atitudes simples: escutando, ajudando, perdoando, sendo presença.
Que o exemplo da Pastoral Carcerária nos inspire a viver a fé de forma concreta. E que a Palavra de Cristo nos ajude a construir uma sociedade mais justa, fraterna e cheia de esperança.