por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do regional Norte 2 da CNBB
com informações do Vatican News

Durante a Audiência Geral desta quarta-feira (25) Papa Leão XIV deu continuidade ao ciclo sobre as curas de Jesus como sinal de esperança, e em seu discurso evidenciou as histórias da mulher hemorroíssa e da filha de Jairo(Mc 5,36). Jesus demonstra que a fé pode curar e até mesmo vencer a morte, como visto na ressurreição da menina. O Papa enfatizou a importância de confiar em Jesus, mesmo em momentos de desespero, e de reconhecer que a verdadeira morte é a da alma. Ele também destacou a necessidade de praticar atos de fé e de se aproximar de Jesus com sinceridade para experimentar a Sua graça transformadora.

Segundo o Vaticano News o Papa realizou sua última Audiência Geral antes da pausa de verão. Os encontros semanais com Leão XIV serão retomados em 30 de julho. 

Leia seu discurso na integra abaixo

AUDIÊNCIA GERAL

Praça de São Pedro, Quarta-feira, 25 de junho de 2025

Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo Nossa Esperança. II. A vida de Jesus. As curas 11. A mulher que sofria de hemorragias e a filha de Jairo. “Não tenhas medo! Acredita apenas” (Mc 5,36)

Prezados irmãos e irmãs!

Também hoje meditamos sobre as curas de Jesus como sinal de esperança. N’Ele há uma força que inclusive nós podemos experimentar quando entramos em relação com a sua Pessoa.

Uma doença muito difundida no nosso tempo é o cansaço de viver: a realidade parece-nos demasiado complexa, pesada, difícil de enfrentar. Então, abatemo-nos, adormecemos na ilusão de que quando acordarmos as coisas serão diferentes. Mas a realidade deve ser enfrentada e, com Jesus, podemos fazê-lo bem. Às vezes, sentimo-nos bloqueados pelo julgamento de quem pretende atribuir rótulos aos outros.

Parece-me que estas situações podem encontrar correspondência numa passagem do Evangelho de Marcos, onde se entrelaçam duas histórias: a de uma menina de doze anos, doente na cama e prestes a morrer; e a de uma mulher, que sangra há exatamente doze anos e procura Jesus para poder ser curada (cf. Mc 5, 21-43).

Entre estas duas figuras femininas, o Evangelista coloca a figura do pai da menina: ele não permanece em casa a queixar-se devido à doença da filha, mas sai e pede ajuda. Embora seja o chefe da sinagoga, não faz reivindicações em virtude da sua posição social. Quando é preciso esperar, não perde a paciência e aguarda. E quando lhe vêm dizer que a filha está morta, que é inútil incomodar o Mestre, ele continua a ter fé e a esperar.

A conversa deste pai com Jesus é interrompida pela mulher hemorroíssa, que consegue aproximar-se de Jesus e tocar no seu manto (v. 27). Com grande coragem, esta mulher tomou a decisão que muda a sua vida: todos continuavam a dizer-lhe que se mantivesse à distância, que não se mostrasse. Tinham-na condenado a permanecer escondida e isolada. Às vezes, também nós podemos ser vítimas do julgamento dos outros, que pretendem vestir-nos com uma roupa que não é nossa. E então sentimo-nos mal e não conseguimos superar a situação.

Aquela mulher toma o caminho da salvação quando nela germina a fé de que Jesus pode curá-la: então encontra a força para sair e ir à sua procura. Quer, pelo menos, tocar na sua veste.

Havia uma grande multidão ao redor de Jesus, e por isso muitas pessoas tocam n’Ele, mas nada lhes acontece. Pelo contrário, quando esta mulher toca em Jesus, fica curada. Onde está a diferença? Comentando este ponto do texto, Santo Agostinho diz, em nome de Jesus: «A multidão aglomera-se à minha volta, mas a fé toca-me» (Sermão 243, 2, 2). É assim: cada vez que praticamos um ato de fé destinado a Jesus, estabelece-se um contacto com Ele e imediatamente brota d’Ele a sua graça. Às vezes não nos damos conta, mas de modo secreto e real a graça chega até nós e, dentro, transforma lentamente a vida.

Talvez ainda hoje muitas pessoas se aproximem de Jesus de maneira superficial, sem acreditar verdadeiramente no seu poder. Pisamos a superfície das nossas igrejas, mas talvez o coração esteja noutro lugar! Esta mulher, silenciosa e anónima, derrota os seus receios, tocando o coração de Jesus com as suas mãos consideradas impuras por causa da doença. Eis que, imediatamente, se sente curada. Jesus diz-lhe: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz!» (Mc 5, 34).

Entretanto, levam ao pai a notícia de que a sua filha morreu. Jesus diz-lhe: «Não temas, tem fé» (v. 36). Depois vai a casa e, vendo que todos choram e gritam, diz: «A menina não morreu, mas dorme» (v. 39). Então, entra no quarto onde a menina estava deitada, pega na sua mão e diz: «Talita kum», “Menina, levanta-te!”. A menina levanta-se e põe-se a caminhar (cf. vv. 41-42). Este gesto de Jesus mostra-nos que Ele não só cura de todas as doenças, mas também desperta da morte. Para Deus, que é Vida eterna, a morte do corpo é como o sono. A verdadeira morte é a da alma: devemos ter medo dela!

Um último detalhe: depois de ter ressuscitado a menina, Jesus diz aos pais que lhe deem de comer (cf. v. 43). Eis outro sinal muito concreto da proximidade de Jesus à nossa humanidade. Mas podemos entendê-lo também em sentido mais profundo, perguntando-nos: quando os nossos filhos estão em crise e precisam de alimento espiritual, sabemos dá-lo? E como o podemos fazer, se nós próprios não nos nutrimos do Evangelho?

Estimados irmãos e irmãs, na vida há momentos de desilusão e desânimo, e há também a experiência da morte. Aprendamos com aquela mulher, com aquele pai: vamos ao encontro de Jesus: Ele pode curar-nos, pode fazer-nos renascer. Jesus é a nossa esperança!

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Saudações:

Queridos fiéis de língua portuguesa, bem-vindos! Saúdo especialmente os sacerdotes vindos de Braga e Viana do Castelo em Portugal, e de Teresina, Castanhal, Nazaré e Santo Amaro no Brasil. Ao aproximarmo-nos do final do mês de junho, voltemos mais intensamente o nosso olhar para o Coração de Jesus. A partir d’Ele, demos de novo a este nosso mundo um coração que sabe amar, perdoar e cuidar dos outros. Deus vos abençoe!

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Apelo

No domingo passado, um vil ataque terrorista foi perpetrado contra a comunidade greco-ortodoxa na igreja de Mar Elias, em Damasco. Confiemos as vítimas à misericórdia de Deus e elevemos as nossas orações pelos feridos e pelos seus familiares. Aos cristãos do Médio Oriente digo: estou próximo de vós! Toda a Igreja está próxima de vós!

Este trágico acontecimento recorda a profunda fragilidade que ainda marca a Síria após anos de conflito e instabilidade. Por isso, é fundamental que a comunidade internacional não desvie o olhar deste país, mas continue a oferecer-lhe apoio através de gestos de solidariedade e com um renovado compromisso a favor da paz e da reconciliação.

Continuamos a acompanhar com atenção e esperança a evolução da situação no Irão, em Israel e na Palestina. As palavras do profeta Isaías ressoam com mais urgência do que nunca: «Uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não se adestrarão mais para a guerra» (2, 4). Que esta voz, que vem do Altíssimo, seja ouvida! Que sejam curadas as feridas causadas pelas ações sangrentas dos últimos dias. Rejeite-se toda a lógica da arrogância e da vingança e seja escolhida com determinação a via do diálogo, da diplomacia e da paz.”