por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB

Na manhã desta sexta-feira (26/12), durante o Angelus, na Praça de São Pedro, Papa Leão XIV, ao recordar Santo Estêvão, Protomártir, exortou os fiéis a abraçarem a alegria que nasce da tenacidade e do perdão, afirmando que o martírio é, na verdade, um ‘natal’ para o céu, e que a verdadeira força reside na ternura que reconhece a dignidade de cada ser humano, mesmo em meio aos conflitos do mundo.

A celebração do Natal, que se estende à Festa de Santo Estêvão, primeiro mártir, revela uma alegria que desafia a lógica do sofrimento e da incerteza mundial. Se a alegria parece impossível nas condições atuais, a mensagem da Igreja aponta para uma fonte de força mais verdadeira: a via desarmada de Jesus e dos mártires.

O martírio, como bem notaram os primeiros cristãos, é visto como um “natal” — um nascimento para o céu. A luz que emanava do rosto de Estêvão, descrita como a de um anjo, não era um conforto passivo, mas o reflexo daquele que enfrenta a história com amor, sem se afastar indiferente.

A Rejeição e o Poder da Filiação Divina

A reflexão aponta o paradoxo: a Luz de Cristo, que brilha nas nossas trevas, é também uma beleza rejeitada por aqueles que temem perder o seu poder ou são desmascarados pela bondade revelada. No entanto, a força de Deus prevalece.

A verdadeira força, aquela que permitiu a Estêvão morrer perdoando, como Jesus, é gratuita e reside no coração de todos. Ela se reativa quando começamos a olhar o próximo — mesmo o adversário — com atenção, reconhecimento e ternura, vendo nele a dignidade indelével de filho ou filha de Deus.

Maria: O Modelo da Cura

O texto conclui voltando-se a Maria, bendita entre as mulheres que servem a vida e opõem a cura à prepotência e a fé à desconfiança. Ela é invocada para levar os fiéis à sua própria alegria, uma alegria capaz de dissolver qualquer medo ou ameaça, “como se derrete a neve ao sol”.

Este é o convite perene do Natal: renascer, vir à luz, escolhendo a fraternidade e a força da mansidão, mesmo quando o mundo parece conspirar contra a paz.

Leia a mensagem do Papa Leão XIV, abaixo.

 

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FESTA DE SANTO ESTÊVÃO PROTOMÁRTIR

PAPADO LEÃO XIV

ÂNGELUS

Praça São Pedro
Sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje é o “natal” de Santo Estêvão, como costumavam dizer as primeiras gerações cristãs, certas de que não se nasce apenas uma vez. O martírio é nascimento para o céu: um olhar de fé, de fato, mesmo na morte, já não vê apenas a escuridão. Viemos ao mundo sem o decidir, mas depois passamos por muitas experiências nas quais nos é pedido, cada vez mais conscientemente, “vir à luz”, escolher a luz. O relato dos Atos dos Apóstolos testemunha que quem viu Estêvão caminhar para o martírio ficou surpreso com a luz do seu rosto e das suas palavras. Está escrito: «E todos os que estavam sentados no sinédrio, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o de um anjo» (At 6,15). É o rosto de quem não se afasta indiferente da história, mas a enfrenta com amor. Tudo o que Estêvão faz e diz reapresenta o amor divino que apareceu em Jesus, a Luz que brilhou nas nossas trevas.

Caríssimos, o nascimento entre nós do Filho de Deus chama-nos à vida de filhos de Deus: torna-a possível, com um movimento de atração experimentado desde a noite de Belém pelas pessoas humildes como Maria, José e os pastores. Mas a de Jesus e a de quem vive como Ele é também uma beleza rejeitada: justamente a sua força de atração suscitou, desde o início, a reação de quem teme pelo seu poder, de quem é desmascarado na sua injustiça por uma bondade que revela os pensamentos dos corações (cfr Lc 2,35). Nenhuma potência, porém, até hoje, pode prevalecer sobre a obra de Deus. Em qualquer lugar do mundo há quem escolha a justiça mesmo que custe, quem anteponha a paz aos seus medos, quem sirva os pobres em vez de si mesmo. Brota então a esperança, e faz sentido festejar apesar de tudo.

Nas condições de incerteza e de sofrimento do mundo atual, a alegria pareceria impossível. Quem hoje acredita na paz e escolheu a via desarmada de Jesus e dos mártires é frequentemente ridicularizado, expulso do discurso público e, não raras vezes, acusado de favorecer adversários e inimigos. O cristão, porém, não tem inimigos, mas sim irmãos e irmãs, que continuam a sê-lo mesmo quando não nos compreendemos. O Mistério do Natal traz-nos esta alegria: uma alegria motivada pela tenacidade de quem já vive a fraternidade, de quem já reconhece ao seu redor, mesmo nos seus adversários, a dignidade indelével de filhas e filhos de Deus. Por isso Estêvão morreu perdoando, como Jesus: por uma força mais verdadeira do que a das armas. É uma força gratuita, já presente no coração de todos, que se reativa e se comunica de modo irresistível quando alguém começa a olhar o seu próximo de forma diferente, a oferecer-lhe atenção e reconhecimento. Sim, isto é renascer, isto é vir novamente à luz, este é o nosso Natal!

Rezemos agora a Maria e a contemplemos, bendita entre todas as mulheres que servem a vida e opõem o cuidado à prepotência, a fé à desconfiança. Maria nos leve à sua mesma alegria, uma alegria que dissolve todo medo e toda ameaça como a neve se dissolve ao sol.

Após o Angelus

Caros irmãos e irmãs,

Renovo de coração os votos de paz e serenidade à luz do Natal do Senhor.

Saúdo todos vós, fiéis de Roma e peregrinos vindos de tantos Países.

Na recordação de Santo Estêvão, primeiro Mártir, invoquemos a sua intercessão para que torne forte a nossa fé e sustente as comunidades que mais sofrem pelo seu testemunho cristão.

O seu exemplo de mansidão, de coragem e de perdão acompanhe quantos se empenham nas situações de conflito para promover o diálogo, a reconciliação e a paz.

A todos desejo uma boa festa!”

 

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