por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

No festejamos no mês de Junho, o Sagrado Coração de Jesus. É um acontecimento marcante na vida de milhares de fieis, por serem devotos do Sagrado Coração de Jesus. As suas promessas revigoram a vida eclesial de modo que o seu festejo reúne centenas de pessoas para realizar a sua comemoração e tem como ponto alto, a celebração eucarística. É dom de Deus para a humanidade, o Sagrado Coração de Jesus porque Ele nos une a Deus e aos irmãos e irmãs, dando a graça da amizade familiar, comunitária e social entre as pessoas para que todas as pessoas vivam o mandamento da lei de Deus, do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo (cf. Mt 23,37-39).

A solenidade do Sagrado Coração

Em nossa realidade eclesial e religiosa, é celebrada a solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Em muitas dioceses, paróquias o têm como padroeiro. Ele é também referenciado nos quadros colocados nas paredes das famílias e em muitos outros lugares públicos. Ele foi e é a fonte de inspiração para muitos santos e santas, pessoas simples, humildes, pobres, estando presente também nas congregações religiosas. O nosso louvor dirige-se a Deus Uno e Trino pelo Sagrado Coração, fonte de amor, de caridade para com toda a humanidade.

O significado do coração

É fundamental analisar o conceito, o significado do coração. Ele é um órgão essencial para a existência do ser humano, garantindo que o sangue seja transportado para todo o organismo, do que resulta a importância do cuidado para com o mesmo. Ele dá a vida para o ser humano no prosseguimento de sua existência. O coração é uma palavra que vem do grego kardía, cujo significado é o órgão muscular de forma cônica, que constitui o centro motor do aparelho circulatório. É também o centro da vida espiritual e afetiva do ser humano, sede dos sentimentos ou do desejo, da vontade[1].

O coração no plano divino

O Coração de Jesus é cheio de graças porque ele nos oferece os valores da paz e do amor, sendo ele fonte de vida para toda a humanidade. Ele foi formado pelo Espírito Santo, dom de Deus no seio da Virgem Maria. Ele nos faz entrar no mistério de Deus que é amor para com todas as pessoas da humanidade. Jesus sentiu compaixão para com o povo sofredor, o povo pobre que estava abandonado como ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36). Tudo isso manifestou como o Coração de Jesus ligava-se para com as pessoas mais necessitadas e elevava-as até Deus.

O coração coordena o corpo e recebe a graça de Deus

É importante dar uma idéia do coração a partir dos padres da Igreja, relacionada com o Coração de Jesus. O Pseudo Macário, um monge do Egito do século IV, afirmou que o coração humano governa os órgãos do corpo. Quando a graça de Deus entra no coração, eleva a confiança, o amor, reinando sobre todos os seus membros e sobre todos os seus pensamentos. A questão é que se o pecado adentra no coração, há o afastamento da graça. O Senhor Jesus fala a todas as pessoas pois é do coração que provêm os maus pensamentos (cfr. Mt 15,19), fazendo o ser humano envolver-se nas trevas. O mal tende a esconder-se no espírito de seu ser interior. Mas quando o coração vive a graça, tudo é vida. Se, pois, alguém ama a Deus, também Deus o torna participante do próprio amor. Deus virá ao encontro do ser humano para torná-lo sempre mais puro na vida. O autor disse também que o Senhor fez o homem e a mulher à sua imagem e à sua semelhança (cfr. Gn 1,26) para que vivam bem em unidade com o Criador[2]. O coração corresponda ao amor de Deus e do próximo.

O coração de Jesus no morada humana

O coração de Jesus busca a morada humana. Para isso é preciso a permanência no seu amor. Santo Agostinho, bispo de Hipona dos séculos IV e V, asseverou que a manifestação de fé das pessoas é a condição para que Cristo habite em seus corações. Ele tinha presente o episódio do evangelho segundo o qual Cristo Jesus dormia na parte de trás da barca e os discípulos o acordaram diante do perigo de um eminente naufrágio. Jesus se levantou, ordenou ao vento e ao mar a tranqüilidade e, logo em seguida, fez-se uma grande calmaria (cfr. Mc 4,35-41). Assim como a ventania agitou o mar na passagem do evangelho, causando tormenta, de igual maneira a vida de uma pessoa seria alcançada pelos ventos das tribulações, os quais aludiriam as faltas cometidas, de modo que é preciso acordar Jesus Cristo na vida do ser humano para fazer cessar as tormentas, assim como Ele foi acordado pelos discípulos. O sono de Cristo acontece no coração humano quando há o esquecimento da fé, do amor. Porém, se a pessoa restaura a sua fé, esperança e caridade, ela acorda Cristo e Ele fará morada no seu coração[3].

A grandiosidade do Coração de Deus

Santo Agostinho destacou-se por colocar a grandiosidade do Coração de Deus, de Jesus, ao afirmar que as obras de Deus são maravilhosas, porque elas sendo grandiosas ou pequeninas são importantes, e ainda que um minúsculo grão seja lançado na terra, germinará uma grande árvore, que produzirá flores, sombras e frutos. O que pode-se dizer do coração humano e divino? O coração humano sendo um órgão tão pequeno faz circular a seiva (sangue) por todas as partes do corpo, fazendo-nos compreender que sua importância vital não se relaciona com a pequenez de sua forma. De igual modo, Cristo jamais é diminuído, Ele é sempre grandioso mesmo nas coisas que nos parecem pequenas[4]. Ele entregou tudo de si mesmo para a realidade humana e divina.

A alegria verdadeira vem do coração

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla dos séculos IV e V, afirmou que se o ser humano deseja a alegria verdadeira, mas esta não seria procurada nas coisas exteriores, mas buscada no conhecimento de Deus para a obtenção das virtudes, sobretudo da caridade e, assim, nada mais lhe causaria aflição. A alegria vem do coração pela graça reinante de Deus e pelo esforço humano, de sua responsabilidade[5]. O Coração de Jesus é fonte de alegrias humanas e divinas para o bem do ser humano.

Nós somos chamados a adorar o Sagrado Coração de Jesus. Ele é a casa de Deus, é a porta do céu; e é também a fornalha ardente de caridade. Esta devoção se espalhe sempre mais no mundo e na comunidade eclesial para que as atividades pastorais, comunitárias e sociais tenham a proteção do Sagrado Coração, que é dom de Deus Uno e Trino para nós e para a nossa salvação.

[1] Cfr. Cuòre. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 417.

[2] Cfr. Pseudo-Macario, Omelie, 15. 20-22. In: In: La teologia dei padri, v. 1. Città Nuova Editrice, Roma, 1981, pg. 265.

[3] Cfr. Agostino, Commento al Vangelo di san Giovanni, 49,19. In: La teologia dei padri, v. 2, pgs. 174-175.

[4] Cfr. Agostino, Le Lettere, II, 137,8 (A Volusiano). In: La teologia dei padri, v. 1, pgs. 27-28.

[5] Cfr. GiovanniCrisostomo, Omelie sulle statue, 18,4. In: La teologia dei padri, v. 3, pg. 187.