por Dom Pedro José Conti
Bispo da Diocese de Macapá
Chovia muito naquele dia. Dois homens, que viviam juntando coisas velhas descartadas, rodavam pela cidade, empurrando um carrinho de mão, em busca de algo jogado fora e que tivesse ainda algum valor. Numa lata de lixo, encontraram um guarda-chuva preto. Parecia novo. Sem acreditar muito, o pegaram para olhar. Um dos dois logo começou a reclamar:
– – Que pena, o cabo está quebrado. Não vamos ganhar nada. O outro, ao contrário, ficou feliz e disse:
– – Que sorte que temos. Encontramos um guarda-chuva no meio do lixo justo hoje com toda esta água. E assim os dois, um alegre e o outro triste, continuaram no seu caminho debaixo do guarda-chuva todo quebrado.
Estamos chegando ao final do Ano Litúrgico. Por isso, o evangelho de Marcos do 33º Domingo do Tempo Comum nos apresenta algumas palavras de Jesus sobre as “realidades últimas” e que parecem nos apresentar aquele que chamamos de “fim dos tempos”. Ele usa a linguagem “apocalíptica”, específica para esses assuntos e bastante difícil para a nossa compreensão. Aquelas expressões, apesar das imagens às vezes assustadoras, queriam transmitir esperança sobretudo em tempos difíceis, de provações e inseguranças. Era uma forma para dizer que, um dia, aqueles sofrimentos acabariam com a vitória do bem. Não muito mais do que isso. Nada de previsões do futuro ou ameaças de desastres. O próprio evangelho não marca nem o dia e nem a hora, porque não sabe, mas apresenta o evento mais importante de todos: a volta do Filho do Homem.
Esse revelar e esconder ao mesmo tempo, obriga-nos, simplesmente, a estar sempre prontos e acordados. Se quisermos estar preparados para esse momento, devemos prestar atenção aos sinais. Este é o sentido da parábola da figueira: “quando os ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar” (Mc 13,28) é sinal que o verão está para chegar. Sinais nunca vão faltar, mas a dificuldade sempre será interpreta-los. O que pode ser um sinal positivo para alguns, pode ser negativo para outros. O discernimento é dom do Espírito Santo! No caso das palavras de Jesus, no evangelho deste domingo, o sinal é sem dúvida confortante: a figueira vai florescer e produzir logo os seus frutos doces e gostosos. Como dizer que não devemos aguardar a volta do Senhor prestando atenção primeiramente aos desastres naturais ou à destruição causada pelos homens com a exploração, poluição e exaustão dos recursos naturais e as consequências de guerras deflagradas com armas, cada vez mais, destruidoras. O Senhor Jesus não virá no meio de sinais de morte, mas de vida, de luz e esperança. A quem fala do próximo fim do planeta e da própria humanidade, nós, cristãos, só podemos responder nos comprometendo sempre e de novo com a fraternidade, a solidariedade, a colaboração de todos para um mundo de paz e de alegria. Somos convidados a ver, mas sobretudo, a ser sinais do bem que vence o mal. Muitas vezes são gestos pequenos, escondidos. Isso porque cada ser humano, em qualquer lugar ou situação que esteja, é chamado a mudar o seu coração de pedra em um coração de carne, apaixonado pela vida, pela vontade de estarmos juntos, de partilhar os benditos frutos da terra e da inteligência humana.
Papa Francisco, em sua mensagem para o 8º Dia Mundial dos Pobres, que celebramos neste domingo, lembra-nos que “os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus”. Eles não têm outros recursos a não ser a própria coragem e a confiança de serem ouvidos em suas preces. Além disso, o Papa nos diz que “os pobres têm ainda muito para nos ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa”. Devemos, portanto, ajudar concretamente os pobres e aprender com eles a sermos mais sóbrios e humildes, promovendo uma vida sem os desperdícios de um consumo desenfreado e os gastos absurdos em armas de morte em lugar de construir obras de vida. Até um guarda-chuva quebrado é sinal de alegria para quem tem um coração simples e desapegado.