por Dom Pedro José Conti
Administrador Apostólico
Certa vez, um pai passeava pelas ruas da cidade com os seus dois filhos. Eles estavam chorando e de cara fechada. Um conhecido, ao encontrá-los, perguntou: – Qual é o problema com os dois meninos? – É o mesmo problema do resto do mundo – respondeu o pai – Tenho três nozes e ambos querem duas.
No evangelho de Lucas deste Sétimo Domingo do Tempo Comum encontramos diversos ensinamentos de Jesus. Ele nos chama a uma verdadeira revolução em nossos relacionamentos humanos e…econômicos. Nos pede de amar os inimigos, de fazer o bem àqueles que nos odeiam e falam mal de nós, de não pedir de volta o que nos foi tirado. Devemos abençoar aqueles que nos amaldiçoam e oferecer a outra face a quem já nos esbofeteou de um lado. Jesus nos diz que amar somente aqueles que nos amam, fazer o bem a quem o faz para nós, emprestar dinheiro a quem temos certeza pagará a dívida, não tem nada de novo. Qualquer pessoa pode agir assim. Até os pecadores fazem negócios deste jeito. Afinal é uma questão de troca de favores e prestações. Ninguém quer perder nada e, assim, vivemos na defensiva, sempre atentos para não sermos enganados. Jesus nos pede de agir de uma maneira diferente, mais corajosa, inesperada, capaz de surpreender. Isto porque a referência dos “filhos do Altíssimo” não pode mais ser a esperteza do mundo mas deve ser, nada menos, que a misericórdia de Deus. Ele é um Pai “bondoso também para com os ingratos e os maus” (Lc 6,35). Na manifestação das nossas opiniões a respeito dos outros não devemos julgar e nem condenar. Devemos usar de uma medida larga, abundante de compreensão e perdão porque com a mesma medida serão também avaliadas as nossas ações.
Após ter escutado estas palavras de Jesus, somos tentados de pensar que ele foi um profeta visionário, que tinha muita imaginação e vivia fora da realidade. No entanto ele nos deu o exemplo quando perdoava os pecadores e, sobretudo, quando invocou a misericórdia do Pai para aqueles que o crucificavam. Talvez sejamos nós a não saber mais acreditar que algo diferente possa acontecer nesta sociedade onde sobram disputas, violências e injustiças e faltam demais fraternidade, solidariedade e paz. Continuamos a querer possuir mais, na ilusão de ser mais felizes pelo poder ou os bens materiais que acumulamos. O chamado “bolo” das riquezas talvez continue crescendo, até quando o planeta Terra aguentar. Mas quando será partilhado de forma justa e respeitosa da dignidade de toda pessoa humana? Ainda no evangelho deste domingo, Jesus nos mostra o caminho. É a bem conhecida “regra de ouro”: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles” (Lc 6,31). Se queremos amor sincero, devemos também oferecer amor sem outra finalidade que o bem de quem dizemos de amar. Se tratamos mal o nosso próximo ou o excluímos com a nossa insensibilidade e indiferença, não podemos pretender atenção e ajuda quando precisamos. Podemos esperar carinho se semeamos afeto e ternura. Quem não sabe renunciar nem a uma noz para alegrar o irmão e semear união, dificilmente encontrará um ombro para se apoiar na hora da provação.
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Comunico a todos aqueles e aquelas que tiveram a paciência de ler estas minhas matérias ao longo dos anos que fui bispo titular de Macapá que, com este escrito encerro a série das minhas reflexões sobre os evangelhos dos Domingos e por ocasião de outros eventos. Nos meus cálculos escrevi 956 artigos, tendo começado de maneira sistemática somente em novembro de 2006. Procurei ser fiel à Palavra de Deus e coerente com a minha missão. Agradeço a Sra. Maria da Graça Guarani Penafort que teve sempre a bondade de corrigir o meu português. Se algo bom foi semeado, louvamos juntos ao Senhor.