por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

            Jesus ensinava com muita freqüência aos seus discípulos e ao povo por meio de parábolas, comparações a respeito do Reino de Deus, que se faz presente aqui e agora e um dia na eternidade. Era a forma para as pessoas simples, entenderem a missão da evangelização que Jesus como servo sofredor, o Enviado do Pai assumiu a realidade humana, ao vir neste mundo, não para condenar o mundo mas para salvá-lo (cfr. Jo 3,17). Uma das parábolas proclamadas pelo Salvador foi o grão de mostarda, a menor de todas as sementes, mas quando semeada torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem os seus ninhos nos seus ramos (cfr. Lc13,18-19). Nós veremos a seguir a visão de Santo Ambrósio ao comentar esta passagem importante no evangelista São Lucas.

O ensinamento da parábola

O Bispo de Milão teve presente um importante ensinamento de Jesus levando em consideração a natureza das comparações, não sua aparência. O importante é ver a causa, o por que o sublime Reino dos céus se compara ao grão de mostarda, ligado no entanto, à caridade. Em outra passagem do evangelho o Senhor exortava aos seus discípulos que se eles tivessem fé como um grão de mostarda poderiam fazer grandes coisas, remover montanhas (cfr. Mt 17,19; 21,21). O fato é que o Senhor pede aos apóstolos de que a sua fé aumente diante das dificuldades da vida, de serem pessoas de bem, caritativas. Por isso a fé como um grão de mostarda relaciona-se como São Paulo disse: “Mesmo que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, mas não tivesse caridade nada seria” (1 Cor 13,2)[1].

O Reino dos céus relacionado à fé em Jesus

O Reino dos céus, comparado como um grão de mostarda, relaciona-se com a fé em Jesus Cristo, porque o Senhor é o Reino dos céus. Quem tem fé tem o Reino dos céus. Desta forma para o Bispo de Milão tanto o Reino está dentro de nós, como o dom da fé, ligado à caridade, está dentro de nós. Assim como Pedro recebeu a graça da fé pela entrega do Senhor das chaves do Reino dos céus(cfr. Mt 16,19), o apóstolo é convidado a abri-lo também para os outros e para todos[2].  O Reino dos céus alarga-se com a participação humana.

A força da comparação

Santo Ambrósio disse que é importante considerar a partir da natureza da mostarda, a força da sua comparação quando o Senhor afirmou que o Reino dos céus seria percebido como um grão de mostarda (cfr. Lc 13,18-19). O grão dessa planta é vil, simples, a menor das sementes, mas quando é batido, reflorescente, expanda a sua força[3]. Da mesma forma a fé, manifesta a graça da sua força, de modo a impregnar com o seu odor também a outros que ouvem a importância da graça e da vida com o Senhor quando tudo é realizado pela caridade[4].

Os mártires

O Bispo de Milão relacionou o grão de mostarda, os mártires, Félix, Nabor e Vitor, pessoas ligadas ao exército romano, mas convertidas ao cristianismo, que no final dos séculos III e início do IV foram martirizados sob o comando do Imperador Diocleciano, em Milão. Para o Bispo de Milão, tinham eles o odor da fé ainda que estavam escondidos[5], por manterem silêncio na sua profissão da fé cristã, na sua vida profissional. Eles acreditaram em Jesus, o seu Evangelho e a comunidade cristã.

A perseguição ocorrida

A grande perseguição ocorreu nesse período em todo o Império contra os cristãos, fazendo com que esses soldados depusessem as armas, dobrassem o pescoço e, abatidos pela espada, expandiram pelo mundo, a graça do seu martírio, de modo que a palavra de Deus se realizasse neles: “Por toda a terra, o seu som se espalhou” (Sl 18,5)[6].

O Senhor é o grão de mostarda

Santo Ambrósio tendo presente os mártires citados, os dons vividos por eles na sua fé, na sua caridade, disse que o Senhor é o grão de mostarda. Ele sofreu injúrias por parte das autoridades, e muitas pessoas do povo não o conheciam mas Ele foi o grão de mostarda que passou pela morte para chegar à ressurreição dando grandes frutos para a salvação da humanidade e para o Reino dos céus[7]. Foi num horto que Jesus foi capturado e sepultado; Ele cresceu num jardim onde também ressuscitou e tornou-se uma grande árvore[8], capaz de abrigar povos e nações através de seus discípulos e discípulas espalhando a fé, a esperança e a caridade.

A necessidade semear

O Bispo de Mião convidou os seus fiéis para que semeassem Jesus em seu próprio jardim, como o grão de mostarda, a fim de que a graça da sua obra floresça e o múltiplo odor de virtudes se faça sentir entre as pessoas. A presença de Cristo está lá, quando a pessoa semeia e aparece o fruto. O Senhor semeia, sendo um grão quando é preso, mas Ele torna-se uma arvore quando ressuscita; cobrindo o mundo com a sua sombra. É apenas um grão quando é sepultado na terra, mas ele tornar-se-á uma árvore quando se eleva ao céu[9]. É o Senhor Jesus, o grão de mostarda no qual é preciso semear com fé, esperança e com caridade para que a arvore se torne grande, de modo que é assim o Reino de Deus, ponto fundamental na vida de Jesus e Ele sendo o Reino de Deus, cresça com a nossa participação e um dia Ele seja glorificado junto do Pai pelo Espírito Santo, pelas obras caritativas realizadas neste mundo em favor de todas as pessoas, mas, sobretudo das mais necessitadas, os pobres.

 

[1] Cfr. Comentário ao Evangelho de São Lucas, Livro 07, ( Lc 9, 27-16,13), 176. In: Santo Ambrósio. São Paulo: Paulus, 2022, pgs. 468-469.

[2] Idem, 177, pg. 469.

[3] Cfr. Ibidem, 178, pg. 469.

[4] Cfr. Ibidem.

[5] Cfr. Ibidem.

[6] Cfr. Ibidem, pgs 469-470.

[7] Cfr. Ibidem, 179, pg. 470.

[8] Cfr. Ibidem.

[9] Cfr. Ibidem, 180, pgs. 470-471.

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