por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

 Santo Agostinho, bispo dos séculos IV e V em Hipona, Norte da áfrica comentou a glorificação do Filho na oração sacerdotal de Jesus referente ao início do capítulo XVII de São João. Esta oração demonstrou toda a intimidade do Filho para com o Pai e do Pai para com o Filho[1]. A glorificação do Filho ensine a todas as pessoas seguidoras de Jesus a viver na humildade, na paz e no amor.

A oração do Filho

Jesus tinha a consciência que estava chegando o seu momento de ser glorificado junto do Pai, através de sua entrega de vida passando pela cruz à glória da ressurreição. O Senhor Unigênito e coeterno ao Pai, podia, mesmo na forma de escravo e a partir dela, orar em silêncio, mas mostrou-se como quem elevava preces ao Pai, recordando que é o nosso Mestre em todos os sentidos”[2]. Ele elevou por nós a oração, em nosso favor, pois edificou os discípulos não apenas pelo discurso que proferiu o Mestre Jesus, mas em favor dos discípulos, Ele elevou ao Pai[3]. Pela afirmação do Senhor Jesus que disse ao Pai que estava chegando a hora de glorificar o seu Filho mostrou que em todo e qualquer tempo, fosse disposto por Aquele que não está sujeito ao tempo, as coisas ocorridas, encontrando suas causas eficientes na Sabedoria de Deus, na qual não existe tempo[4].

Ação de Deus

Santo Agostinho afirmou que aquela hora chegou não de uma forma inesperada, inadiável, mas ela foi em virtude da ação de Deus que a ordenou para Jesus. Jesus escolheu o tempo em que morreria, tal com o Pai, de quem Ele nasceu sem o tempo, decidiu o tempo em que nasceria da Virgem Maria[5]. Por isso o apóstolo Paulo disse que na mesma medida que foi dito que na plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho (cf. Gl 4,4), naquele momento ele disse ao Pai que estava chegando a hora (cf. Jo 17,1), referia à hora em que Ele e o Pai estabeleceram juntos  para que Ele fosse glorificado em favor da humanidade para que Pai glorificasse o Filho e o Filho glorificasse o Pai pela cruz e ressurreição(cf. Jo 17,1)[6].

O valor da paixão e da ressurreição

A glorificação do Filho deu-se seja pela paixão, morte de cruz, mas também seja pela sua ressurreição. O apóstolo Paulo disse que Jesus humilhou-se a si mesmo, foi obediente até a morte e morte de cruz de modo que a sua glorificação vem de Deus Pai que o elevou e lhe conferiu o nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre nos céus, na terra e debaixo da terra, e que toda a língua proclame que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai (cf. Fl 2,8-11)[7]. Para Santo Agostinho é clara a idéia de que o Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, recebesse a glorificação do Pai pela ressurreição, na verdade foi o primeiro humilhado pela paixão e Ele não teria ressuscitado dentre os mortos se não tivesse morrido, de modo que a humildade foi o mérito da celebridade e a celebridade foi o prêmio da humildade[8].

O Pai glorificou o Filho e o Filho glorificou o Pai

A Palavra de Deus colocou que o Filho foi glorificado pelo Pai, na forma de servo, escravo, e que o Pai glorificou o Filho, fazendo-o ressuscitar dos mortos e o colocou à sua direita (cf. 1 Pd 3,22). Jesus não disse apenas: “Pai, glorifica teu Filho” mas Ele acrescentou em seguida “para que teu Filho te glorifique” (Jo 17,1)[9]. Esta glorificação ocorreu pelo anúncio do Reino de Deus e pela evangelização dos povos. No momento em que pelo Evangelho de Jesus Cristo e pela sua Palavra na vida dos apóstolos, os seus discípulos e discípulas, o Pai fosse conhecido aos povos pagãos, gentios, com certeza também o Filho glorificou o Pai. O Filho é glorificado pelo Pai na ressurreição de modo que também o Filho glorificou o Pai através da pregação e da sua ressurreição. O bispo de Hipona ressaltou as palavras quando Jesus disse: “Glorifica teu Filho para que teu Filho te glorifique” o Senhor afirmou: “Ressuscita-me, para que por meu intermédio venhas a ser conhecido em todo o orbe”[10].

A glorificação do Filho junto do Pai colocou a doação da vida de Jesus que passou pela cruz para chegar à glória da ressurreição. O Pai glorificou o Filho ressuscitando-o dos mortos, de modo que Ele venceu a morte e é eterno vivente. Nós somos chamados a viver a glorificação do Filho com o Pai e do Pai com o Filho pelo dom do Espírito Santo, através da caridade, do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.

 

 

[1] Cfr. Homilia 104. O Dom da Paz (Jo 17,1). In: Santo Agostinho, Comentários a São João – II. Evangelho – Homilias 50-124. São Paulo, Paulus, 2022.

[2] Cfr. Idem, pg. 395.

[3] Cfr. Ibidem.

[4] Cfr. Ibidem.

[5] Cfr. Ibidem.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 396.

[7] Cfr. Ibidem.

[8] Cfr. Ibidem, pg. 397.

[9] Cfr. Ibidem, pg 399.

[10] Cfr. Ibidem, pgs 399-400.