
por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá
O serviço é próprio de quem segue a Jesus Cristo, porque Ele veio para servir e não para ser servido (cfr. Mt 20,28). Como ser humano e como Servo sofredor, Jesus Cristo assumiu os sofrimentos das pessoas em vista da redenção humana. Os pastores são chamados a servir os outros e a Cristo, passando também pelo sofrimento a causa da Boa-Nova do Reino de Deus.
Nós estamos meditando e atuando neste período eclesial no Brasil da graça da sinodalidade, na firmeza das normas para serem implementadas nas Dioceses, paróquias e comunidades. Nós suplicamos as luzes do Espírito Santo para servir bem ao povo de Deus que nos foi confiado. Sozinhos não temos condições de sermos bons pastores, mas com Jesus nós podemos como Ele o fez, dar a vida pelas ovelhas (cfr. Jo 10, 11). Nós queremos bem servir ao Senhor Jesus nas pessoas. É sempre Deus quem chama as pessoas para dar um serviço digno, humilde, à comunidade eclesial e para quem espera de nós um bom testemunho de vida. Deus dá as graças necessárias para o serviço, livremente nós respondemos com alegria e com amor ao serviço de Deus. Nós veremos a seguir como Santo Agostinho colocou esta missão para os servidores do Senhor neste mundo e um dia no Reino de Deus.
Servir a Deus: a preparação para a provação
Seguindo a palavra de Deus em Sirácida, ou Eclesiástico que diz a pessoa que quer servir a Deus é chamada não só a permanecer na justiça, no temor; mas ela prepare sua alma para a provação (Sr 2,1)[1], Santo Agostinho tinha presente a debilidade do ministro para torná-lo robusto, forte, o qual era chamado a aderir à fé, ao temor de Deus, ao amor superando às comodidades materiais, porque as tentações, as provações poderiam apresentar-se em vista da fidelidade à missão. A provação possibilitaria ao pastor uma maior firmeza para servir ao Senhor e as pessoas a ele confiadas.
Educação que leva a pessoa ao alto
Santo Agostinho ressaltou a necessidade de educar as pessoas para construir a casa sobre a rocha que é Cristo (cfr. 1 Cor 10,4) e não sobre a arreia (cf. Mt 7,24,26)[2]. Os pastores devem ter presentes a vida do Senhor que passou pelos sofrimentos e dores para chegar à glória da ressurreição. Eles são chamados a seguir os sofrimentos de Cristo e não andar em busca dos prazeres[3]. Quem segue a Jesus Cristo, seja quem for, ministro ordenado ou não é chamado à uma educação que o leve para o alto.
As tribulações
Como a palavra de Deus é clara para quem serve o Senhor, aos pastores são esperados tribulações, perseguições, mas de todas o Senhor os libertará, segundo Santo Agostinho por causa do bem, pelo amor aos mais necessitados feitos na pessoa do Senhor. O coração humano é chamado a unir-se com Ele, e nunca voltar-se para trás[4]. Vindo do Pai e em comunhão com o Espírito Santo, o Senhor garantiu a sua presença no meio da humanidade para infundir coragem ao coração das pessoas, dos ministros. Ele veio para assumir a realidade humana acompanhada pelo sofrimento, pela morte em vista da redenção humana de modo que foi coberto de cuspidas e coroado de espinhos, ouviu ultrajes e foi crucificado na cruz, para assim chegar à glória da ressurreição. Tudo isso o Senhor Jesus fez por nós[5].
Participantes à cruz de Cristo
Santo Agostinho também afirmou como seria possível julgar pastores que por medo de desagradar os fiéis, às pessoas que os ouvem teriam anunciando promessas de uma felicidade temporal que Deus em nenhum modo prometeu aos seres humanos, neste mundo?!. Portanto eles não deveriam ser seguidos. Para quem segue o Senhor Ele exigiu a cruz (cfr. Mt 16,24), orações, trabalhos sobre trabalhos até o fim e estes pastores não podem pretender que os seguidores do Senhor estejam isentos?![6] Sendo pessoa cristã, o pastor, seguidor do Senhor Jesus e de sua Igreja terá que sofrer neste mundo mais que os outros para ser fiel à missão dada pelo Senhor para chegar à glória da ressurreição. Tendo presente também o Apóstolo São Paulo que disse: “Todos os que quiserem viver piedosamente no Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3,12). Desta forma a pessoa seguidora do Senhor não poderá construir a sua casa sobre a areia, porque grande será a sua ruína, mas a casa seja construída sobre a rocha que é Cristo Jesus na qual a pessoa busca segui-lo (cf. Mt 7,24-27)[7].
A Escritura fala dos sofrimentos
Em outras passagens fala a Escritura de sofrimentos para quem segue o Senhor, faz o bem e pratica a caridade. “O Senhor corrige a toda pessoa que Ele o ama” (cfr. Hb, 12, 5-6). Os pastores que não são verdadeiros falam para as suas comunidades que as pessoas ficarão isentas dos sofrimentos. Se de fato as pessoas ficarão poupadas de seus flagelos não serão incluídas no número de filhos[8]. O fato é que segundo Santo Agostinho não foi poupado nem o Unigênito, o Filho de Deus dos flagelos dos sofrimentos e da cruz. O Filho era da mesma substância do Pai (cfr. Fl 2,6,), era o Verbo na qual foram feitas todas as coisas (cfr. Jo 1,3). Ele não ficou fora dos sofrimentos pela causa humana a ser salva de modo que Ele humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2, 8). Se Deus quis que o seu Filho assumisse os sofrimentos da humanidade para dar-lhes a remissão dos seus pecados e de sua morte, quanto mais as pessoas seguidoras, pastores, pecadores, assumirão os sofrimentos para viverem em unidade com o Senhor. Através de limitações, cruzes cotidianas, alegrias da vida neste mundo e um dia na eternidade, os pastores são convidados a participar na eternidade. Para Santo Agostinho nos sofrimentos do Unigênito de Deus traçou Ele um modelo para nós[9] para corresponder ao amor infinito dele para conosco. O serviço e o sofrimento das pessoas, dos pastores que servem ao Senhor na vida da comunidade andam juntos para levá-las à glória do Deus Uno e Trino.
[1] Cfr. Discorso 46, 10. In: Sant´Agostino. Sul Sacerdozio. Città Nuova Editrice: Roma, 1985, pg. 132.
[2] Cfr. Idem, pg 132.
[3] Cfr. Ibidem.
[4] Cfr. Ibidem.
[5] Cfr. Ibidem, pgs. 132-133.
[6] Cfr. Ibidem, n. 11, pg. 133.
[7] Cfr. Ibidem.
[8] Cfr. Ibidem, pg. 134.
[9] Cfr. Ibidem.