por Dom Antonio de Assis Ribeiro, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém

É abundante na Bíblia a presença dos anjos; estão presentes desde o Gênesis até o livro do Apocalipse. Também Jesus Cristo falou deles e por eles foi servido. Os anjos são, nossos irmãos, criaturas espirituais que tem a missão de adorar a Deus. Um dos serviços dos anjos é comunicar e proteger seus irmãos humanos. Os anjos, seres invisíveis, são nossos irmãos porque são criaturas divinas.

Os santos anjos da guarda representam a presença providente de Deus Pai que caminha com a humanidade, defende, conforta e a anima. O serviço dos anjos é um serviço fraterno de cuidado, comunicação e proteção! Recordemos alguns significativos textos bíblicos.

  1. Os anjos no Antigo Testamento

No livro do Êxodo a figura do anjo protetor aparece dentro do contexto do compromisso de fidelidade do povo a Deus. O anjo da guarda age como um servidor educador que orienta e conduz o povo. “Vou enviar um anjo na frente de você, para que ele cuide de você no caminho e o leve até o lugar que eu preparei para você. Respeite-o e obedeça a ele…” (Ex 19,20-21). Esse anjo, qual líder corajoso, protege o povo contra os seus inimigos e os livra da idolatria (cf. Ex 23,23-24), relembrando o culto ao verdadeiro Deus, pois eles são verdadeiros adoradores de Deus.

O anjo de Deus, protetor do povo, acompanhou o povo pelo deserto em busca da libertação (cf. Ex 14,19). No livro dos Números o anjo protetor se manifesta através de Moisés: “os egípcios, porém, nos maltrataram, a nós e aos nossos antepassados. Então gritamos para Javé e ele nos ouviu e mandou um anjo para nos tirar do Egito” (Nm 20,15-16). Temos aqui um convite para sermos anjos protetores e libertadores uns dos outros.

No livro de Tobias o anjo da guarda é um bom companheiro de viagem (cf. Tb 5,17.22). Inicialmente ele recebe o nome de Azarias (cf. Tb 5,13), e acompanha Tobias numa longa viagem, tendo como meta se casar e constituir família. Tudo acontece conforme foi planejado, mas com alguns desafios enfrentados. Ao final declara: “Eu sou Rafael, um dos sete anjos que estão sempre prontos para entrar na presença do Senhor glorioso” (Tb 2,12-15).

Rafael serviu fiel e gratuitamente rejeitando qualquer recompensa; mas foi além também assumindo uma postura de educador de Tobit e Tobias dando-lhes bons conselhos. “Anunciem a todos os homens, como convém, as obras de Deus. E não se cansem de lhe agradecer. É bom manter oculto o segredo do rei, mas é necessário revelar e manifestar as obras de Deus. Pratiquem o bem, e não lhes acontecerá nenhuma desgraça. Vale mais a oração com jejum e a esmola com justiça, do que a riqueza adquirida com a injustiça. É melhor praticar a esmola do que acumular ouro. A esmola livra da morte e purifica de todo pecado. Quem pratica esmola, terá vida longa. Os pecadores e injustos são inimigos de si próprios” (Tb 2,2-10).

  1. Os anjos nos Evangelhos

Nos evangelhos há diversas referências aos anjos. Vejamos algumas delas. É impressionante o serviço de proteção do anjo do Senhor prestado à Sagrada Família de Nazaré (cf. Mt 1,13-15.20.24). No Evangelho de Mateus, com abundantes citações, os anjos são mencionados nas tentações (cf. Mt 4,6.11), em diversas parábolas (cf. Mt 13;22;24-25); os anjos estão no céu contemplando a face de Deus (cf. Mt 18,10). Um anjo desceu do céu, rolou a pedra que fechava o sepulcro de Jesus (cf. Mt 28,2) e deu às mulheres a notícia da Ressurreição de Jesus (cf.  Mt 28,5-7).

No evangelho de Marcos, Jesus estando no deserto é servido por anjos (cf. Mc 1,13), no céu a vida dos anjos é muito diferente dos padrões da vida terrena (cf. Mc 12,25), no fim dos tempos Deus enviará os anjos aos quatro cantos da terra para reunir os escolhidos de Deus (cf. Mc 13,28).

No evangelho de Lucas um anjo do Senhor aparece a Zacarias, lhe comunicação que sua esposa ficaria grávida e o tranquiliza (cf. Lc ,11-19); o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela seria a mãe do Messias, pede-lhe que não tenha medo e lhe explica como tudo aconteceria (cf. Lc 19,20-35); quando o menino Jesus nasceu um anjo do Senhor apareceu aos pastores que ficaram assustados, foram confortados, lhe indicaram um sinal e de repente juntou-se a ele uma multidão de anjos que começaram a cantar (cf. Lc 2,9-13). Tudo o que o anjo comunicou aconteceu (cf. Lc 2,20-21). Lucas ainda narra que quando Jesus estava no monte das Oliveiras, em oração antes de ser preso, apareceu-lhe um anjo que o confortava (cf. Lc 22,43).

No evangelho de João há poucas referência aos anjos: na piscina de Betesda, que ficava rodada de doentes, um anjo descia de vez em quando e movimentava a água e o primeiro doente que entrasse na piscina, depois que a água fosse movida, ficava curado de qualquer doença (cf. Jo 5,4-5). Jesus falou de um movimento dos anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem (cf. Jo 1,51); Maria Madalena  chorando diante do sepulcro viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus tinha sido colocado, um na cabeceira e outro nos pés (cf. Jo 20,11-12).

  1. O dinamismo dos anjos e o que nos ensinam

Analisando os diversos textos, em síntese, anjo Rafael acompanha, educa, orienta, aconselha, adverte, corrige; Rafael dá segurança a Tobias, o defende e o protege; o Anjo Rafael apresenta remédio, cura, promove a saúde, liberta do mal; Rafael encoraja, dá força, anima Tobias nos momentos obscuros; o anjo lhe anuncia a Palavra de Deus e lhe apresenta a sabedoria divina; como bom educador o anjo Rafael também estimula para a prática da caridade… incentiva Tobias ao louvor e à oração, à piedade, à justiça, à gratuidade.

Os anjos são mensageiros de Deus, são comunicadores da verdade, são protetores, educadores da humanidade; são capazes de confortar, mostram sinais do que vai acontecer, explicam como as coisas vão suceder, acolhem o desconforto humano e são capazes de promover a serenidade e o conforto que afugenta o medo; provocam a cura, são ceifadores do bem etc.

A devoção ao anjo da guarda nos adverte contra alguns males humanos: antes de tudo nos educa para o reconhecimento da necessidade de sermos acompanhados, a não ser cabeçudo (voluntaristas, subjetivistas), a saber discernir e a não sermos fechados; essa devoção nos educa para o companheirismo e a promoção da solidariedade, não deixando o outro na solidão. O anjo da guarda de Tobias nos alerta e, sobretudo os jovens, que não basta ter sonhos e perseguir bons ideias, é necessário o reconhecimento da necessidade de termos um orientador.

São João Bosco, inspirado na missão dos mensageiros celestes, dizia que os educadores são como anjos que devem acompanhar, assistir com afeto, dar atenção com zelo aos seus educandos; da mesma forma pensava que assim deveriam agir os porteiros. O Santo dos Jovens, era um grande devoto dos Anjos da Guarda e, por isso, como educador estimulava os jovens a respeitá-lo e a obedecê-lo. O próprio Dom Bosco diversas vezes, ameaçado de agressão por seus inimigos, fora misteriosamente protegido por um cão chamado “grigio” que misteriosamente aparecida. Os anjos podem se manifestar a nós de muitas formas!

A mensagem da doutrina dos Anjos da guarda é estimular-nos na fé na grandeza amorosa da Providência Divina que sempre, de muitas formas, nos acompanha, nos anima, nos educa… Nunca estamos solitários. Rezemos sempre a oração ao Anjo da Guarda: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a Piedade Divina, sempre me rege, me guarde, me governe e me ilumine. Amém!”

Essa simples oração que aprendemos em geral na nossa infância nos fala que o serviço dos anjos é sinal do amor previdente (que se antecipa), prevenido (que se dinamiza com zelo) e providente (que cuida e busca o que necessário) de Deus.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Qual das passagens bíblicas mais lhe chamou à atenção?
  2. O que aprendemos com os anjos?
  3. O que significa dizer que o amor de Deus para conosco é previdente, prevenido e providente?