por Vívian Marler / Assessora de Comunicação do Regional Norte 2 da CNBB
Em mensagem, incisiva, para o ‘X Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação’, que será celebrado em 1º de setembro, o Papa Leão XIV exorta fiéis e líderes globais a reconhecerem a urgência de proteger o planeta, destacando a importância de ações concretas e orações para reverter a degradação ambiental e promover a justiça social. O tema “Sementes de Paz e Esperança”, irá refletir sobre o papel de cada indivíduo como agente de transformação em um mundo marcado por desigualdades e desastres ambientais.
O Papa Leão XIV, ecoando as preocupações do Papa Francisco expressas na encíclica Laudato si’, enfatiza que a destruição da natureza não afeta a todos da mesma forma, atingindo desproporcionalmente os mais pobres e marginalizados. A mensagem papal ressalta que a busca desenfreada por recursos naturais transformou a criação em um campo de batalha, com graves consequências para as comunidades indígenas e para a estabilidade social.
“É urgente reconhecer o mal que estamos fazendo à Terra, o pecado que estamos cometendo, para nos arrependermos e mudarmos de vida”, adverte o Papa. Ele destaca que a oração e a ação devem andar juntas, incentivando os fiéis a reduzirem seu impacto ambiental e a promoverem uma cultura de cuidado e solidariedade.
O Pontífice também exorta à reflexão sobre como a injustiça, a violação do direito internacional, as desigualdades e a ganância contribuem para o desmatamento, a poluição e a perda de biodiversidade. Ele apela para que a sociedade reconheça a importância de proteger a criação como um ato de justiça social e um caminho para a paz.
Em um mundo cada vez mais ameaçado pelas mudanças climáticas e pela exploração desenfreada dos recursos naturais, a mensagem do Papa Leão XIV serve como um chamado urgente à ação. Ao convidar cada pessoa a se tornar uma “semente de paz e esperança”, o líder religioso inspira a construção de um futuro mais justo, sustentável e em harmonia com a criação.
Leia a mensagem do Santo Padre para o ‘X Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação’, abaixo.
“Queridos irmãos e irmãs!
Sementes de Paz e Esperança
O tema deste Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, escolhido pelo nosso amado Papa Francisco, é “Sementes de Paz e Esperança”. No 10º aniversário da instituição do Dia, que ocorreu em concomitância com a publicação da Encíclica Laudato si’, encontramo-nos no coração do Jubileu, “peregrinos da Esperança”. E é precisamente neste contexto que o tema adquire o seu pleno significado.
Muitas vezes Jesus, na sua pregação, usa a imagem da semente para falar do Reino de Deus, e na véspera da Paixão aplica-a a si mesmo, comparando-se ao grão de trigo, que para dar fruto deve morrer (cf. Jo 12,24). A semente entrega-se inteiramente à terra e ali, com a força irrompente do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais impensados, numa surpreendente capacidade de gerar futuro. Pensemos, por exemplo, nas flores que crescem à beira das estradas: ninguém as plantou, e no entanto crescem graças a sementes que ali foram parar quase por acaso e conseguem decorar o cinzento do asfalto e até mesmo intaccarne a dura superfície. Portanto, em Cristo somos sementes. Não só, mas “sementes de Paz e Esperança”.
Como diz o profeta Isaías, o Espírito de Deus é capaz de transformar o deserto, árido e ressequido, num jardim, lugar de repouso e serenidade: «Em nós será infundido um espírito do alto; então o deserto se tornará um jardim e o jardim será considerado uma selva. No deserto habitará o direito e a justiça reinará no jardim. Praticar a justiça dará paz, honrar a justiça dará tranquilidade e segurança para sempre. O meu povo habitará numa morada de paz, em habitações tranquilas, em lugares seguros» (Is 32,15-18).
Estas palavras proféticas, que de 1 de setembro a 4 de outubro acompanharão a iniciativa ecumênica do “Tempo da Criação”, afirmam com força que, juntamente com a oração, são necessárias a vontade e as ações concretas que tornam perceptível esta “carícia de Deus” sobre o mundo (cf. Laudato si’, 84). A justiça e o direito, de fato, parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio de extraordinária atualidade.
Em diversas partes do mundo, é agora evidente que a nossa terra está caindo em ruína. Em todos os lugares, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, as desigualdades e a ganância de que decorrem produzem desmatamento, poluição, perda de biodiversidade. Aumentam em intensidade e frequência fenômenos naturais extremos causados pelas mudanças climáticas induzidas por atividades antropogênicas (cf. Exort. ap. Laudate Deum, 5), sem considerar os efeitos a médio e longo prazo da devastação humana e ecológica causada por conflitos armados.
Parece que ainda falta a consciência de que destruir a natureza não afeta todos da mesma forma: calcar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. É emblemático neste âmbito o sofrimento das comunidades indígenas. E não basta: a própria natureza, por vezes, torna-se instrumento de troca, um bem a negociar para obter vantagens econômicas ou políticas.
Nestas dinâmicas, a criação é transformada num campo de batalha para o controle dos recursos vitais, como testemunham as zonas agrícolas e as florestas que se tornaram perigosas devido às minas, a política da “terra queimada”[1], os conflitos que eclodem em torno das fontes de água, a distribuição desigual das matérias-primas, penalizando as populações mais fracas e minando a própria estabilidade social.
Estas diversas feridas são devidas ao pecado. Certamente não era isto o que Deus tinha em mente quando confiou a Terra ao homem criado à sua imagem e semelhança, pedindo-lhe que a cultivasse e guardasse (cf. Gn 2,15). É, portanto, urgente reconhecer o mal que estamos fazendo à Terra, o pecado que estamos cometendo, para nos arrependermos e mudarmos de vida.
É urgente reconhecer que não podemos permanecer indiferentes à destruição da criação, que não podemos permanecer em silêncio perante a injustiça para com aqueles que sofrem as consequências da devastação humana e ecológica. É urgente agir, cada um na sua vida quotidiana, para reduzir o nosso impacto sobre o meio ambiente e para promover uma cultura de cuidado, de respeito, de solidariedade.
É urgente rezar, para pedir a Deus a força para mudar, a coragem para agir, a esperança para construir um mundo mais justo e sustentável. O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação é uma oportunidade para renovarmos o nosso compromisso com o cuidado da nossa casa comum, para sermos sementes de paz e esperança, para darmos frutos de justiça e fraternidade.
Que Maria, Mãe da Criação, nos acompanhe neste caminho.
Roma, São João de Latrão, 24 de junho de 2024.
Leão XIV”